HISTÓRIA VIVA
Há dias telefonou-me uma colega no ativo, pertencente ao «AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CASTRO DAIRE» a convidar-me para participar numa tertúlia, subordinada ao tema, segundo percebi, «CENTENÁRIO DAS APARIÇÕES DE FÁTIMA» a ter lugar no salão nobre dos Paços do Concelho, no dia 5 de maio do corrente ano. Nessa tertúlia tomariam parte alguns educadores, clérigos e peregrinos convidados, bem como um historiador de Coimbra que, na oportunidade, apresentaria um livro da sua autoria, editado recentemente sobre tão momentoso evento.
Em conversa demorada fiz-lhe ver a minha INDISPONIBILIDADE para estar presente, estranhando até o CONVITE pessoal, pois, tendo eu passado anos a investigar e a divulgar a HISTÓRIA LOCAL (enquanto exercia a profissão na Escola Preparatória local e continuando depois de aposentado) só em 2010, a propósito do CENTENÁRIO DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA e da publicação do meu livro sobre o assunto, os professores de HISTÓRIA de Castro Daire se lembraram de que, para além dos conteúdos programados e compendiados, existe a HISTÓRIA LOCAL, aquela de que sempre fiz uso como trampolim e motivação para veicular a HISTÓRIA NACIONAL E UNIVERSAL como disciplina formativa.
Que sim senhor, respondeu ela, que conhecia alguns dos meus trabalhos, que se lembrava da palestra sobre a implantação da República, mas que o tema desta tertúlia tinha surgido a propósito do CENTENÁRIO DAS APARIÇÕES DE FÁTINA e se ter detetado na escola que havia alunos do DÉCIMO SEGUNDO ANO que nem sequer sabiam quem era Lúcia, uma das pastorinhas, testemunhas das APARIÇÕES. Portanto uma excelente ocasião para se abordar a temática das APARIÇÕES e dos seus protagonistas.
Face a tais objetivos, escolhido o assunto para debate por força de tão clamorosa lacuna no saber histórico (alguns alunos ignorarem a figura de Lúcia) no entender dos promotores da tertúlia, quase fiquei sem fala, mas o respeito e a urbanidade que se exige entre os seres humanos e sobretudo entre colegas de profissão, lá fui arengando as razões da minha escusa, até que, dada a sua insistência, acabei por lhe dizer abertamente que eu não estava disposto a gastar o meu tempo a «fazer chover no molhado». E, fosse qual fosse a animação da tertúlia, os participantes sairiam dela tal qual como entraram: os crentes, crentes se manteriam e os não crentes a mesma coisa. E, citando uma conhecida comentadora de TV (tendo em conta a bibliografia produzida, por mim lida) disse-lhe que a questão escolhida para debate era, do ponto vista histórico, «um facto improvável», uma questão de crença e fé, veredas, trilhos e rotas por onde não gasto as minhas sandálias. Que respeitava quem pensasse o contrário, mas não contassem comigo. E dei o caso por encerrado.
Dias depois dessa nossa conversa a CMTV difundiu uma entrevista com um empresário ucraniano que, com sede em Mafra, se dedica ao negócio de vender AR DE FÁTIMA ENLATADO, com clientela assegurada, em Portugal, na Alemanha e no Japão. Dessa notícia fiz eco na minha página do Facebook e, em crónica separada ilustrada, no meu site TRILHOS SERRANOS, ampliando a INFORMAÇÃO como era meu dever de cidadão.
O texto recebeu vários COMENTÁRIOS e, vindo da Grã Bretanha, assinada por uma sobrinha minha, médica de profissão, recebi a seguinte apreciação:
Há que admirar a imaginação e empreendimento de certas pessoas. E tais clientes merecem serem aliviados de algum dinheiro. Assim como assim, a regressão civilizacional que estamos a viver vai ainda mostrar-nos muito mais coisas deste género».
Eu não diria melhor. E como professor de HISTÓRIA sempre utilizei esta área de saber como "ciência formativa" e não o contrário. Portanto, enquanto professor e investigador, eu jamais contribuiria para a «regressão civilizacional que estamos a viver...» calando ou acreditando em tal embuste, não o comentando, nem o difundindo nas redes sociais.
Como se isso não bastasse, sempre atento ao dito e feito, veio o Papa Francisco dizer, em alocução filmada, que «PARA DEUS VALE MAIS NÃO ACREDITAR DO QUE SER UM FALSO CRENTE, UM HIPÓCRITA».
Claro que, «ouvisto» isto, recortei um respigo desse noticiário da RTP1 e difundi-o na minha página do Facebook, espaço onde recebeu também uns tantos COMENTÁRIOS. Alguns deles bem pertinentes, dos quais apresento os seguintes recortes e identificação dos seus autores:
«Manuel Ferreira (...) felizmente que a igreja, embora muito lentamente vai mudando a linguagem, ainda recentemente foi dito que Maria não aprendeu Português para falar aos pastorinhos, que ela não apareceu, o filtro já foi feito e os beatos continuam por aí ao jeito das ondas (...)»
Ripostando com a educação digna de figurar na minha página, tomou posição a minha amiga de Bustelo, a residir no Porto, assim:
«Maria Pereira Carvalho Eu não pretendo entrar nesta discussão (...) Mas sou uma pessoa crente no que julgo ser essencial. No referente a Maria não ter apreendido português e ter falado em português, isso não é nada chocante. Pelos vistos , e segundo Lúcia dizia, a Senhora nào pronunciava palavras como normalmente se faz; era como se falasse dentro da cabeça da Lúcia e ela percebia em português. Certamente em Lourdes a Maria falava francês e nunca deve ter apreendido francês!!! (...) daí que, certamente, o que Maria terá " falado" nas diferentes aparições pelo mundo, era tão sòmente entendido na linguagem de cada um, conforme as circunstâncias.
Para Deus a linguagem é universal e basta a boa vontade da Humanidade para a entender. E tenho dito».
De pronto, no dia 30 de abril, pelas 8:51 esclareci a minha amiga com o seguinte texto:
E face às opiniões divergentes o meu amigo Manuel Ferreira, no dia 1/5, pelas 1:39 horas, esclareceu a sua interlocutora:
E assunto encerado no que respeitava a FÁTIMA. Só que, sem eu esperar, me entrou na caixa do correio um CONVITE formal impresso sobre a tal TERTÚLIA de que me falou a colega pelo telefone a quem eu deixara, sem equívoco, a minha escusa de nela participar. Face a esta receção inesperada, foi num ápice que digitalizei o CONVITE (que aqui se reproduz) e o postei no meu mural do Facebook no seguimento das palavras do PAPA, com o seguinte comentário:
«Hoje mesmo, dia 2 de maio, recebi na Caixa de Correio o CONVITE que aqui se anexa, não sem alguma estranheza minha, pois, sendo previamente contatado por uma colega no ativo, lhe disse não estar DISPONÍVEL para participar na «TERTÚLIA» anunciada, seja qual for a aceção dicionarizada do conceito:
«Substantivo feminino 1. Reunião familiar. 2. Assembleia literária. 3. Agrupamento de amigos. 4. [Gíria] Embriaguez".
Mas, como ex-professor da Escola Preparatória de Castro Daire e pioneiro que tenho sido na investigação e divulgação da História Local, aproveito a oportunidade do GENTIL CONVITE para dedicar a todos os promotores de tão relevante evento «estórico e religioso» as palavras do Papa Francisco, ditas no respigo de vídeo que retirei do noticiário da RTP1».
E foi ainda como professor de HISTÓRIA que estive atento à GRANDE ENTREVISTA dada no dia 3, na RTP3, pelo Bispo D. Carlos Azevedo, a propósito dos «100 anos de Fátima. Aparições, visões ou alucinações?» Título interrogativo bastante sugestivo e nada satisfatório para todos aqueles que, acomodados aos ensinamentos da catequese, misturam, consciente ou inconscientemente, as aparições, visões ou alucinações com factos históricos. Confirmei, pela boca do Bispo, as palavras escritas pelo meu amigo Manuel Ferreira, relativamente a «Maria não falar português» e adaptação da terminologia da igreja aos novos tempos. Do seu vocabulário desapareceu a palavra APARIÇÃO, substituída que foi pela palavra VISÃO, dado tratar-se de uma experiência mística individual vivida pelos pastorinhos, diferente em cada um deles. E D. Carlos Azevedo deu o exemplo de «Francisco não ter visto nem ouvido nada». Portanto tratava-se usar uma terminologia mais "conforme a verdade teológica" do fenómeno. E à insistência do jornalista dizendo que no PORTAL DO SANTUÁRIO continua a figurar a palavra APARIÇÕES , o Bispo respondeu que era a forma TRADICIONAL e que as mudanças na Igreja se processam «muito lentamente». Seja, portanto, VISÃO e não APARIÇÃO.
E esta terminologia da VISÃO e não APARIÇÃO conduziu-me imediatamente ao ano 2008, data em que entrevistei, nos arredores de Mouramorta, o senhor ADAMASTOR, natural daquela aldeia, que também teve uma VISÃO quando andava com umas cabrinhas na Portela das Eiras. Ovídeo, feito em 2008, só foi alojado no Youtube em 2011, onde se encontra até hoje. E, na oportunidade, fosse eu dizer ao meu entrevistado, aquele ancião que até hesita em dizer a sua idade, que aquilo era imaginação sua, uma alucinação. Fizesse eu isso e seria certamente corrido à pedrada, das tantas pedras que por ali existem soltas, tal como existem em todos os montes e os pastores, grandes e pequenos, são hábeis a acertar com elas no alvo para onde apontam. É só ver e ouvir: