REGRESSÃO
Depois de abrir o link que me chegou à caixa do correio eletrónico enviado por um amigo da minha geração, o Dr. Manuel Lima Bastos, que, depois de queimar os neurónios na Universidade de Coimbra, passou a vida nas barras dos tribunais e a ler, tresler e a escrever sobre Aquilino Ribeiro, com o introito interrogativo «JULGAVAM QUE JÁ TINHAM VISTO TUDO?», reenviei-o para uma sobrinha minha, médica de profissão, que, me respondeu com a seguinte apreciação:
«Há que admirar a imaginação e empreendimento de certas pessoas. E tais clientes merecem serem aliviados de algum dinheiro. Assim como assim, a regressão civilizacional que estamos a viver vai ainda mostrar-nos muito mais coisas deste género».
«Regressão civilizacional» disse ela, lá, em terras de Jessica Flecher (Angela Lansbury), senhora que todos nós conhecemos como pessoa capaz de deslindar o mais imbrincado mistério. E assim é, de facto. Então não é que, não sei se pela idade, se por me deixar arrastar nesta onda de «regressão civilizacional» (para não destoar da maralha) mal cheguei ao restaurante onde tomo as refeições para manter o cérebro a funcionar e logo exigi à empregada que substituísse a água engarrafada no Montemuro (São Cristóvão) por uma LATA DE AR ABENÇOADO de FÁTIMA (agora que vem aí o Papa) ou de LISBOA, pois, de contrário, deixaria de ser cliente daquela casa?
O dono do restaurante, ouvindo a minha exigência, aproximou-se e não levou a sério o meu pedido. Lá tive de abrir o IPAD e de lhe mostrar o fundamento do meu desejo. Ele, depois de ver a entrevista à CMTV do empreendedor ocraniano com empresa aberta em Mafra, e bem assim a exposição das LATAS devidamente rotuladas para garantia do seu conteúdo (presumo que fiscalizado pela ASAE) respondeu-me de pronto, com a ironia que o caracteriza:
- Esteja V.Exa. descansado, pois logo que por aqui passe o fornecedor, farei a aquisição de algumas dessas latas de modo a satisfazer os desejos dos meus clientes mais exigentes e mais esclarecidos.
Almocei sossegado e, neste meu estado «regressivo» (para não destoar da restante maralha) saí porta fora com uma expressão a bailar-me nos lábios:
- É preciso ter lata!