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quinta, 13 outubro 2016 13:20

CASTRO DAIRE - GENTE DA TERRA, IX b)

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 PELA RUA ABAIXO, 2

Junto ao quelho e estrada, a casa de duas irmãs padeiras. Uma ficou para tia solteira e outra foi a mãe do Padre António Silva, que, inteligente, a deixou, depois, às suas criadas.

1APadre Silva- 2016 Redz

Em frente desta casa está a oficina de Bernardino Felício, que gostava da pinga, mas era bom no seu ofício. E ao lado, a casa do sobrinho ciclista, motociclista e sapateiro que emigrou para África. E em frente, uma pequena casita pouco ocupada, mas modificada, coisa rara, se tornou habitação confortável e nela vivia a minha parente Bizarra.  Tinha pegada a si a Casa da Laura Cerdeira, tia do Dr. Pio e mãe de Abílio Teixeira. Seguia-se uma casa de tipo senhorial,  que era do Afonso Lacerda, do Basílio. Nelas moraram sempre os Lacerda Pinto. Morreu a filha, mas ficaram o António e a Nini. Logo ao lado, uma casota miserável, onde moravam muitos, modestamente. Mas a sorte os enxotou dali e já ninguém na mora.

Em frente disto tudo, a ESTRADA NACIONAL, o muro de alvenaria que limitava as terras de João d' Oliveira, sempre conhecida por Quinta da Albergaria. Ao lado, o quintal de Clemente-Vitorino. Duas casitas juntas, cobertas de telha antiga, numa mora o manco António Guedelha e noutra o famigerado Marcelino Rocha. 

E nesta casa termina a vila. Na sua parede está, há quase um século, o letreiro em azulejo "CASTRO DAIRE" (ver a crónica que publiquei neste site, em 22 de setembro p.p. com título "ARQUEOLOGIA, 2", onde trato dos MONOGRAMAS existentes na vila. Nesse dia, mal sabia que a receber viria, de mão beijada, pouco tempo depois, esta preciosa informação sobre a NOSSA TERRA E AS NOSSAS GENTES). 

E, chegados aqui, ao fim da vila, volvemos ao Quelho das Eiras, onde havia a casa do Alfredo, que lá mantinha, em segredo, a Amélia, magricela, mestra das forneira.

1B Casda das Eiras-RedzVirando as costas à CASA DAS EIRAS e andando para a vila, passamos por um portão de ferro, pintado de verde, entrada para casa e quintal bem tratado, onde moravam a D. Lívia  e o senhor Saavedra. 

Prosseguindo, vinha a casa do Monteiro e nela viviam a Corina, filhos, Stanislau, onde nasceu o filho João. Logo depois, a casa do António da Laura, gente muito humilde, mas prestativa. Junto desta, uma  casinhola, onde vivia a florista Policarpo, que era uma artista a montar flores artificiais a imitar as naturais.

E na casa que mais tarde foi do Ferreira, vivia a tia Adelaide, minha "mãe de criação". (Quem o diz é Calos Mendonça que estamos a acompanhar nesta nossa digressão pela vila, lembram-se?) Em frente dessa casa vivia a a tia Lapa e Carvalhais,  chamado Sousa Pinto António Augusto. Nesta casa sempre moraram boas moças, depois o Dr. Poças. E à esquerda, naquela pequena rua ou quelho, hoje com o nome de um missionário (jesuíta Sebastião Vieira, digo eu) morava o aposentado  Albquerque, marido da Guedelha. E sempre descendo, temos a casa da enérgica Maria do Gabriel. E perto das "mestras favo de mel" morava  o antigo cego Carneiro.

4-Casa Poças - REDZ

Chegados ao fundo do beco (a atual Rua Sebastião Vieiravolvemos ao cimo dela. Ali, ao centro, o cruzeiro assente em degraus. Repousemos neles sentados por momentos. Olhando em redor vemos as duas capelas: a de São Sebastião e a da Senhora da Lapa. Ao lado desta o velho solar brasonado dos Mendonças. Em frente dele um quintal e ao lado, no sentido descendente, a Taverna do Cavaquinho e a antiga residência do Abade (espaço onde esteve o quartel dos Bombeiros e hoje está o edifício dos Correios). Logo a seguir os Paços do Concelho. Ouçamos o que nos diz CARLOS MENDONÇA:

A seguir vinham quatro repartições:

  Finanças, Câmara e o velho Tribunal,

                                                                                                     Administração, donde saíam bem ou mal

                                                                                                            Para o concelho e comarca, determinações.

Mendonça- RedzLeram bem? Eu li e interrompo aqui a palestra de Carlos Mendonça para dizer por minha conta, sublinhado: aqui, nem um nome. Ele, Carlos Mendonça, que tem vindo a predar-nos com vários nomes, profissões e até com alguns traços sociais, individuais, físicos e psicológicos marcantes dos identificados, aqui nem um nome. Sobre os protagonistas do poder administrativo, político, judicial e financeiro,  nada. A identidade de cada um deles fica diluída nas boas ou más determinações que dali saem para todo o Concelho e Comarca. Isso é já de si uma marca.  Pois. Mas isso era no tempo de CARLOS MENDONÇA. Gente e nomes esquecidos pela história e pela poesia, os atuais detentores do poder, cansados de serem esquecidos por historiadores e poetasencarregam-se  de divulgar e perpetuar em pedra a sua identidade por tudo quanto é lado. E é ver os nomes deles escritos em letras garrafais, gravadas em placas fixadas mas paredes, nos largos e praças públicas: "OBRA INAUGURADA POR....» seguida do nome do INAUGURADOR. E são tantas hoje em dia - é demais - mas elas são o testemunho de PROMESSAS eleitorais. Por isso não há aldeia de freguesia onde não haja uma PLACA DESSAS. Outros tempos! 

Finalizado este meu necessário "aparte",  sigamos novamente Calos  Mendonça. Em frente à Câmara está a venda velhinha , onde Maria de Almeida, vende mercearia: açúcar, bolos, café, chá, tudo, que de especiarias pouco tinha. 

Junto dos Fonsecas havia um casarão, onde nasceram a Estrela, a Laurinda e a Cordália (menina linda) e os irmãos  Julião, João e Gastão. Bem ao lado, eis a Ladeira que leva ao Calvário e, lá em cima, a Virgem Santa chora o filho no sudário. Ao fundo, com uma entrada para as quintãs, eis a casa dos Granjas e em frente a casa dos Pintos, do Augusto Albano. E em frente desta, a Casa das Ursulinas, onde existia a Taverna Bigode de Estopa, casado com uma delas.

Fronteiro, sempre sonhador, o Abel e seus tristes fins. A irmã casou com Clemente Martins, embora dele não gostasse o ferrador. Pegada à casa do ferrador moravam as pessoas conhecidas na vila por Caetanas. 

Em frente a casa do Manuel das Pintoras. A esposa Marquinhas era uma santa. Dava de comer a todo o sacripanta e boas eram as suas filhas. Em frente o antigo quelho com casas habitadas: de um lado, o pintor  Carmelindo Rolo  e do outro a casa das Pitadas. Esta casa fora, outrora pertença do velho Malheiro, homem de bem, cuja esposa, que me amamentou foi a minha "segunda mãe". (de Carlos Mendonça). Esta senhora mudou-se mais a irmã Micas e o irmão Manuel para uma casa e quinta em Fareja.

6-.Brasília-2012 - REDZFronteira, morou o Manuel Seixas e sua esposa, uma excelente professora. Ali nasceram os seus filhos. Casa Jecundino. Mais tarde foi ali instalada a Guarda Republicana e o seu primeiro Comandante foi o Sargento Garção. Foi este prédio construído  pelo Morgado de Vila Pouca, que na vila era Ferrageiro. Pegada estava a casa da Inês que alugava, por pouco dinheiro, ao Albino de Folgosa, o cereeiro. E, construção muito mais recente, é a casa de Álvaro Padeiro, que dum pardieiro fez um prédio decente. E já estamos novamente na casa do Alfredo dos Tabacos: Zé Maria e Pio (mortos) Purificação e seus filhos. Junto, a casa das irmãs Teixeiras, que vendiam trigo do forno, sardinhas, vinho, amêndoas, figos em cestinhas. Senhoras trabalhadeiras.

Dando um salto vamos para a antiga Feira das Galinhas, onde registo a casa do Ramalho  e logo a seguir a dos  conselheiros. Nesta, a Dona Emília recebia a alta sociedade castrense! Oferecendo chá e biscoitos "farta velhacos".

E, com a boca doce, a tricar os "farta velhacos"  por aqui nos ficamos, porque, por aqui, nos deixou Carlos Mendonça,  aquele cidadão castrense que, nascido em 1907, emigrado para o Brasil com 19 anos de idade, lá do outro lado do Atlântico, enquanto vivo, saudoso da sua terra natal, sentado a matraquear o teclado de uma máquina de escrever, disse e fez pela HISTÓRIA DE CASTRO DAIRE,  o que muitos residentes, entretidos  nas coscuvilheiras manhãs domingueiras, não disseram nem fizeram. Satisfazem-se a romper as solas dos sapatos a deambular por ruas e passeios, quando não estão parados a rasgarem as costas dos casacos e de outras vestimentas, a coçarem-se  nas QUATRO ESQUINAS.  São doutores e engenheiros. Muito títulos, mas não de nobreza nem de gente plebeia. Sabem tudo, tal como se sabia no antigo soalheiro da aldeia.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.