Entrada em órbita com sucesso, apetrechada com equipamento de registo de som e imagem, tecnologia precisa, cumprindo os objetivos da missão, ela remete para o planeta de origem, os resultados da pesquisa. E lá, naquele planeta ignorado, perdido no espaço infinito, fica tudo embasbacado, observando o correio da sonda chegado. Aqui fica dito. E o cientista alienígena, entusiasmado, decifra e estuda as cores, os números, riscas, traços, figuras, escudos, brasões, águias, dragões, grifos, leões, berros, cânticos, hinos, toques de cornetas e sinos, gestos e símbolos, falcões e gritos. Após isso tudo, feitas as contas e medições, o estudioso obtém como resultado o retrtato, a figura que faz vibrar o universo: a Loucura. À dimensão do mundo, é uma coisa pequenina, minúscula, redonda, sem boca nem olhos, sem braços nem pernas, 'mas corre p'ra diabo', galga o mundo de lés a lés, de cabo a rabo, vai e vem com as marés naqueles oceanos de gente colorida que canta e se encanta com o jeito e a inteligência dos pés. Rola pelo chão, salta em altura, veste xadrez, verde, vermelho, roupa escura e alva, silenciosa e barulhenta, oca e vazia, cabeluda e calva, anda de boca em boca, acorda a noite, adormece o dia, rola e rebola pois só para rebolar nasceu. É amada, é beijada, é lambida por crianças, adultos, novos e velhos. Salta como se tivesse mola. Simultaneamente, faz rir e chorar, entristece e consola negro, mulato e branco. Arrasta multidões de gente. Faz girar milhões de banco para banco de continente para continente. A Loucura é a Vida. É mal que não tem cura e, muito ou pouco, doente está quem não está louco. Não importa a fome, a peste e a guerra. O que importa é que a sonda vinda do planeta distante, ignorado, perdido no espaço sideral, prossiga a missão de que foi incumbida. Ela mira a Terra por todo o lado: longitude, latitude, altitude, altura, para que a Loucura, na sua plenitude, no seu fadário, em som e imagem, em espaço breve, chegue até ao destinatário, deitada ou de pé, pequenina, redondinha, tal qual é: oca, vazia e leve.
E neste ano de 2016, já sabeis, o volume de vibrações remetidas pela sonda em órbita terrestre foi tal, que fez tremer todo o universo. Não houve, longe ou perto, cientista, astrónomo, astrólogo, cartomante, adivinho, bruxo ou bruxa, escritor, poeta, no céu ou no inferno, alienígena ou terreno, que não localizasse no cantinho do espaço sideral, a origem da colossal vibração, o lugar do mundo, a nação, donde ela partiu, aquela que aqui deixo identificada em texto louco com as lágrimas, os risos, os berros de um povo que grita até ficar rouco:
PORTUGAL!
PORTUGAL!
PORTUGAL!
Abílio/2016