Solitário no meu canto (nesta minha atitude urbana e bisonha) comendo, ouvindo e observando, constato que o mundo desse grupo de amigos, tem os seus limites nas coisas pessoais, quotidianas e próximas, sendo que a mais próxima e ao alcance da mão que os faz juntar ali em convívio alegre, é o copo de vinho que não se quer vazio. E vê-se bem que a cor "rubi" do líquido já subiu ao rosto e aos olhos de todos eles.
Solitário, acabei a refeição, dirigi-me ao balcão e discretamente disse ao proprietário que incluísse na minha conta uma rodada destinada aquele grupo de amigos. Foi a forma que encontrei de participar na sua alegria, de prolongar o seu convívio, com pena de não poder ser um deles.
Feito isso, solitário, retiro-me com o sentimento feliz de ainda me sentir gente, de não estar totalmente desumanizado e compreender as motivações e os comportamentos desses amigos, tão distintos dos meus.
São os baldões da vida. E chego a pôr em dúvida o caminho percorrido em busca do bem estar e da felicidade. O que é isso, afinal?
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Amadeu Homem Um grande, grande texto, pela sua forma literária e, sobretudo, pelo Humanismo construtivo que ele destila. Vou "roubar" ... Parabéns ! Está aqui um Escritor ! 29 de Junho de 2013 às 11:05 ·
Manuel Ferreira Solitário, sempre atento e solidário. 29 de Junho de 2013 às 12:22 ·
Dulci Ferreira Uma rodada para si e seus amigos. Agora pago eu, ainda que seja um copo virtual, porque a solidão é relativa. Depende da vontade que se tem em fazer parte desse mundo comunitário, de como nos vimos através de outros reflexos; se enquadramos neles a própria alma. Um bom fim de semana, Dr. Abílio. Abraço :) 29 de Junho de 2013 às 12:40 ·
João Duarte um grande texto Sr Abílio digno de se ler obrigado um abraço. 29 de Junho de 2013 às 13:07 ·
José Ribeiro Uma rodada para a mesa do lado ... pois também me falta goela para tanto! Não fará bem à saúde (deles), mas basta o sentido de pertença àquele grupo para lhes saltar a tampa. Quando não entram mesmo em competição para provarem que aguentam, aguentam ...29 de Junho de 2013 às 14:21 ·
Pedro Santos Antunes Abílio Pereira de Carvalho! Sempre atento, bom observador e melhor narrador, de tudo o que te rodeia! Afinal, quem é mais feliz, os que viram as costas à TV e bebem uns tintos, ou os outros??? Eis a questão, como diria o outro!!! Abraço e continua a escrever, como tão bem sabes... 29 de Junho de 2013 às 15:49 ·
Dulci Ferreira Reparo, contudo, no copo vazio em cima da mesa... penso que a questão não é o observar o outro, mas a si mesmo... o copo vazio em cima da mesa é mesmo uma questão humanitária... um problema de "solidão". 'Aproxegue-se', caro amigo :) Não está só :) 29 de Junho de 2013 às 16:02 ·
Alice Lucas FANTÁSTICA TODA A NARRAÇÃO: "(...) atento a todos àqueles jeitos e trejeitos, neste minha posição de espectador, das coisas, dos tempos e das gentes, vejo-os virados de costas para a TV, alheios totalmente ao noticiário, às informações, às intervenções inflamadas dos políticos, uns a contradizerem outros, a propagandearem as formas diferentes de resolverem a crise, o desemprego e a fome já entrada em alguns lares do país(...)" ....:( ... QUASE ME APETECE JUNTAR A ESTE GRUPO DE AMIGOS.......29 de Junho de 2013 às 22:03 ·