Na sequência não tardou a correr em Portugal inteiro um poemeto heróico/satírico com o título "O REINO DA ESTUPIDEZ", de autor anónimo, mais tarde identificado como de Francisco de Melo Franco, no qual, por virtude do retrocesso, MINERVA, a deusa da sabedoria, foi substituída pela ESTUPIDEZ, entronizada com toda a pompa e circunstância, por alguns estudantes e lentes da Universidade. Nem todos claro. Ora vejamos alguns dos tão eloquentes versos, com alguns sublinhados meus, para mais destaque:
"(...)
Que vem a Estupidez em breve tempo
Seus domínios cobrar, seu diadema,
Armada de terrível companhia.
(...)
Tira nisto o barrete o presidente,
E ao lente primaz de Teologia
Acena que comece. Logo feita
Ao congresso em geral submissa vênia,
O seu voto profere nestes termos:
— "Muito ilustres e sábios académicos!
Por direito divino e por humano,
Creio que deve ser restituída
À grande Estupidez a dignidade
Que nesta Academia gozou sempre.
Bem sabeis quão sagrados os direitos
Da antiguidade são; por eles somos,
Ao lugar que ocupamos, elevados.
(...)
Entrai pois, companheiros, em vós mesmos,
Ponderai sem paixão: para que serve
As pestanas queimar sobre os autores,
A estimável saúde arruinando?
P'ra levar este tempo em bom sossego,
Divertir e passar alegremente,
Acaso precisais de mais ciência?
Se os dias desta breve e curta vida
Tivéssemos com os livros perturbado
Teríamos acaso mais prebendas,
Mais dinheiro, mais honra, mais estima?
De que podem servir estes estudos
Que mais da moda se cultivam hoje?
(...)
Ponhamos como dantes estas coisas
Em seu antigo ser; como bons filhos
Recebamos a nossa Protetora;
O que foi sempre seu, em paz governe".
Qual sussurrante enxame, que em tumulto,
Segue a vereda que seguiu a Mestra,
(...)
Assim dos frades todos e dos becas
Seguiu a turba o explanado voto.
(...)
Faltava a outra, que em desprezo é tida;
Lentes de capa e espada são chamados,
Que aos colégios não têm algum acesso,
Nem recolhem da Igreja os doces frutos
Pelo mesmo teor votaram muitos;
Mas chegando a Tirceu homem singelo,
Que seus dias consome, sobre os livros,
Contemplando a profunda Natureza,
Os longos cumprimentos põe de parte,
E com voz resoluta assim começa:
— "Não é a glória vã de distinguir-me
Quem me obriga a encontrar a tantos votos
Que, por serem conformes, talvez sejam
Ao parecer de muitos, verdadeiros.
A glória do meu rei, o amor da pátria,
São dois fortes motivos que me impelem
A dizer francamente quanto penso.
Trazei, sábios ilustres, à memória,
Aquele tempo em que contentes vistes
Entrar nesta cidade triunfante
O grande, invicto, o imortal Carvalho,
Às vezes de seu rei representando;
Daquele sábio rei, cujo retrato
Inda agora me anima e me dá forças
Para que, em seu favor, em sua glória,
Derramando o meu sangue, exale a vida.
Vistes ao grão marquês, qual sol brilhante
De escura noite, dissipando as trevas,
A frouxa Estupidez lançar ao longe;
E erigir à ciência novo trono
Em sábios estatutos estribado.
Das vossas mesmas bocas retumbaram
Cânticos de louvor nestas paredes.
O triunfo cantastes na presença
Do zeloso ministro respeitado.
Que difrente linguagem hoje escuto?
Como é possível que sem pejo ou honra,
O contrário digais do que dissestes?
(...)»
Ora aqui tem, paciente amigo, matéria bastante para saber que na REFORMA EDUCATIVA em Portugal são velhas e relhas as ideias e os interesses que se escondem sob as actuais ONDAS AMARELAS. Daí o título: OPERAÇÃO MARQUÊS.