Trilhos Serranos

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sábado, 12 setembro 2015 14:56

A INVASÃO 1

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A INVASÃO 1

Eles aí estão. Às nossas portas. Decididos a entrarem contra as vontades e as forças que se lhes opõem. Não entram a bem, entram à força. 
Mas ... enganam-se os meus amigos se pensam que estou a cogitar na vaga de REFUGIADOS que, nestes nossos tempos conturbados, deixam os seus países de origem e se veem obrigados a buscar paz e vida nesta velha Europa. 


Não. Não me refiro à invasão deles. Mas eles me fizeram RELER alguns livros, andar por caminhos andados, e lembrar invasões de tempos idos, (nossas e de outros) que para mim, não foram apenas eventos colocados na barra cronológica do tempo. Um curso de HISTÓRIA obriga a saber de cor e salteado que fomos invadidos por Fenícios, Gregos, Cartagineses e Romanos, por Vândalos, Suevos, Alanos, Visigodos e Muçulmanos. Era isso. Assim diziam os livros, assim havia que se aprender. 
Mas não. Cantarolar isso de cor e salteado nunca me bastou. E se havia livros e autores que punham a tónica na IDENTIFICAÇÃO e CRONOLOGIA dos POVOS INVASORES, outros havia que, pela abordagem que faziam aos mesmos factos, melhor colhiam a minha sensibilidade de ESTUDANTE, sempre ávido em saber e compreender o BICHO HOMEM, nas suas façanhas heróicas e fraquezas mesquinhas.
O meu pensamento não se prendia apenas aos nomes dos INVASORES, mas também à massa anónima dos INVADIDOS. Aqueles que, na situação de PERDEDORES, eram obrigados a entregar tudo aos GANHADORES, as suas casas, terras, mulheres e filhos. Tornarem-se servos, escravos ou pagadores de impostos.
Condoía-me por eles. E esta minha forma de ver as coisas, nunca me colocou, na vida, do lado dos PODEROSOS. Quaisquer que eles fossem. E enraizou em mim a desconfiança de que, nas minhas origens remotas, deve estar um elemento desses POVOS PERSEGUIDOS e espoliados.
Não será propriamente por acaso que me são muito mais atractivos os livros de Oliveira Martins ("A História de Portugal", "Portugal Contemporâneo", "A História da Civilização Ibérica" e outros) que voltei a ler, a par de outros investigadores historiadores NÃO menos sérios.
Não será propriamente por acaso a REPUGNÂNCIA que senti (e não fui o único, seguramente) ao ver a rasteira dada por aquela "jornalista" na Hungria àquele pai refugiado com um filho ao colo. Que desumanidade. Estamos no século XXI. Mas com Oliveira Martins, o mundo que me rodeia, fez-me retornar ao século VIII. Ao ano 711. À passagem de Tarik à Ibéria. Parece-me que foi ontem.

Abílio/setembro/2015

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.