E eu, que ainda não desencabei o podão, prossigo a tarefa, mesmo que haja quem veja nestas minhas palavras, nesta minha assunção pública de LENHADOR NA FLORESTAS DAS LETRAS uma certa petulância, sei lá, até uma atrevida pesporrência, levando a peito a clássica muleta “presunção e água benta cada um toma a que quer”. Mas isso não afeta minimamente a minha forma de pensar e de agir. Adiante, pois.
O Município de Castro Daire, de parceria com a União das Freguesias de Ermida e Picão, (os objetivos ocultos a tempo ver-se-ão), mas por agora, com objetivos visíveis (e muito bem) dar fôlego às instituições culturais locais e regionais, nomeadamente o “Grupo de Teatro Montemuro”, e Bandas Filarmónicas, levou a efeito nos dias 6, 7 e 8 de outubro, “in loco dicitur Estragual”, v.g. Campo da Bola da aldeia do Vilar, um evento que incluiu atividades caraterizadamente serranas e uma que se distinguiu pela faceta verdadeiramente inovadora singular, animada/dramatizada pela ação conjunta dos elementos do “NOVO CIRCO” (vindo de longe) e do “TEATRO DO MONTEMURO” (vindo de perto). E o timbre acrobático do Novo Circo, como veremos mais adiante, parece não se ter ficado pelos elementos do grupo, naquele jogo de arte, luz e sombra.
Dois bois, em pleno dia, sem efeitos especiais, entrados no terreiro da luta, um deles, em vez de enfrentar o adversário, preferiu ensaiar umas ciosas piruetas bovinas. Cioso, pois, da sua masculinidade presenteou a assistência com os seus dotes acrobáticos e deu o espetáculo que eu registei em vídeo. Um documento da nossa ruralidade. (ver vídeo)
Eu explico: ali, na orla da aldeia do Vilar que é referida em 1258 nas Inquirições de D. Afonso III, e que, em 1527, segundo o “Arrolamento” de D. João III, tinha apenas 4 moradores; ali, naquele descampado virado à SERRA DO MONTEMURO, rendilhado de matos e de penedal, num contraste de luz artificial e o escuro natural da noite, teve lugar a peça “AS PEDRAS QUE NOS TOCAM”, levada à cena pelo GRUPO DE TEATRO MONTEMURO com sede na aldeia de Campo Benfeito, mais o NOVO CIRCO.
Ora eu que na imprensa escrita, nomeadamente no jornal “Notícias de Castro Daire”, no meu site “Trilhos Serranos”, no Youtube e Facebook, tenho deixado algumas crónicas com os títulos “SERRA, GENTE E ANIMAIS”, “A NOSSA TERRA”, “GENTE NOSSA” “PEDRAS QUE FALAM”, ora comparando a ondulada orografia serrana com as vagas do mar e os seus habitantes, os que, neste século XXI, mantém de pé este pedacinho de Portugal Periférico, a labutarem no adverso, ondulado e proceloso oceano montês, esperançado no aparecimento de um compositor musical inspirado ponha em partitura os “HERÓIS DA SERRA” por oposição/complemento aos HERÓIS DO MAR (que já temos); aqui onde os penedos assumem o papel de sentinelas atentas ao inimigo distante, onde os geradores eólicos são mastros de veleiros em viagem sem fim, eu, que tenho procurado “surfar” nas ondas da inovação e da criatividade, só podia regozijar-me com a iniciativa autárquica, pois dou por bem empregues os dinheiros municipais gastos neste evento, diferentemente do que é despendido com o “passaredo cantante” migratório que, em estação certa (qual avença lavrada em cartório notarial), chega, pousa nas nossas eiras, enche o papo e abala sem mais proveito concelhio que não seja o consolo pacóvio e esporádico do “indígena” que, acomodado ao atávico “ram-ram” do passatempo e entretenimento (circo, pão e vinho), indiferente fica ao curso da HISTÓRIA e da CULTURA, satisfeito que está com a rústica e básica HERANÇA recebida dos pais, avós e avós dos seus avós. Enfim, se as instituições políticas, educacionais e culturais cultivam o básico jamais podem esperar EXCELÊNCIA do método utilizado. Ilustrativo é aquele prato com sabor tertuliano que teve por temperos os nossos escritores e poetas: Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Camões e Miguel Torga. Um registo digno de ficar como documento autêntico deste nosso Portugal Genuíno de circo, pão e vinho. É só ver e ajuizar. (Ver vídeo)
Por razões que só a mim respeitam, não assisti a nenhuma das atividades artísticas, lúdicas e musicais noturnas, mas li e vi o “post” que o Município alojou no seu mural do Facebook, brilhantemente ilustrado, iluminado e lustrado com imagens do evento.
Deu para sentir, por sinestesia, quão mágicas terão sido para a escassa plateia presente, essas noites, sem raposas, saca-rabos, doninhas, gatos-bravos e mais bicharia autótone por perto que, assustada com a estranha selvajaria de movimentos, sons e luzes nunca vistos nem ouvidos por ali, julgavam ser o fim do mundo. Não eram foguetes de festa, nem latido de matilha em tempo da batida cinegética. Coisa inaudita. Havia que dar às patas, romper as unhas na fugida e buscar algures, longe dali, sossego em refúgio e esconderijo seguros. Não falo de lobos, bichos com que lidei na minha idade de pastor “menino de escola”.
Nessa altura, em tempos de nevões prolongados, eles chegavam a descer aos povoados da serra à procura de alimentação. Mas a emigração, a diminuição de rebanhos na serra, a decadência da agricultura e da pastorícia, a alteração do seu habitat natural, fê-los desarvorar, há muito, destas bandas em busca de sobrevivência.
Bem feito. Belo post. Estou para ver e comparar os números de GOSTOS E VISITAÇÕES desse mural, documentando essas artes, cores e danças. Dele são as três fotos que “printei” do ecrã do meu PC e aqui deixo com “data venia” ao autor.
Isto porque eu, não acompanhando esse evento ao vivo, impossibilitado estive de recolher material afim, apesar de ter passado “in loco” a tarde inteira de domingo, dia 8, (antes, portanto, da publicação das fotos no mural do município) registei em vídeo o usufruto e a REINAÇÃO do POVÃO presente. E tanta foi a “matéria digital” captada pela minha câmara que forçado fui de dividi-la em 4 vídeos para alojar no meu CANAL DO YOUTUBE , com porta aberta no FACEBOOK. É lá que podem ser vistos, comentados e analisados.
E foi que eu fiz hoje mesmo.
E como faço destas plataformas digitais plataformas de reflexão e estudo no que respeita às MENTALIDADES expressas em COMPORTAMENTOS, isto é, nos GOSTOS, DESGOSTOS, PARTILHAS E VISITAÇÕES, pondo em prática a MATEMATIZAÇÃO DO REAL (ver a realidade social através dos números) deu-me para verter em grelha e gráfico os NÚMEROS de VISITAÇÕES que tiveram esses meus vídeos, de que apresento a seguinte sinopse:
PRIMEIRO: mostra o convívio sob as tendas de “comes e bebes”, (hora do almoço) onde um amigo meu me solicita para eu ir ajudá-lo decifrar a data existente no plinto do CRUZEIRO DO SENHOR DOS “AFLIGIDOS”, ali perto. Que sim. Lá iríamos. (Ver vídeo)
SEGUNDO: continuação do convívio com destaque para o senhor José Maria, do Roção, um homem de MEMÓRIA e de oportuno HUMOR SERRANO, só visto e ouvido. Explicou, a viva voz, onde começa e onde acaba a SERRA DO MONTEMURO, que estou certo é uma boa lição para alguns professores de Geografia que desconheçam a revião. (Ver vídeo)
TERCEIRO: ida ao CRUZEIRO DO SENHOR DOS AFLITOS, acompanhado pelo senhor José Maria e esposa D. Eugénia, residentes na aldeia. E, de caminho, a meu pedido, a explicação sobre a vegetação local, carqueija, sargaço, tojo, carqueija e rosmaninho, arbustos em vias de extinção, vencidos pela reprodução agressiva da “gestia” que come tudo em seu redor, engolindo a biodiversidade tradicional.
Depois os senhor José Maria e esposa explicam a razão de existência daquele cruzeiro, a sua ligação ao S. Macário, por causa dos “cravos” que nasciam nas mãos. Dito isto, seguiu-se a visita à CAPELA DE SANTA BÁRBARA. (ver vídeo)
QUARTO: luta de bois no campo da bola, com material selecionado e dividido em três partes: OS BRINCALÕES, OS MEDROSOS e OS COMBATENTES (ver vídeo).
E é aqui que os NÚMEROS se tornam eloquentes sem manipulação alguma, diferentemente do que fazem os economistas e políticos sempre hábeis a espremê-los até eles dizerem o que lhes convém. Neste caso, é só ver. Eles mostram claramente quanto o camponês está ligado à TERRA E AOS ANIMAIS. Coisa que nenhum estudioso pode estranhar, desde que tenha uns básicos conhecimentos de HISTÓRIA.
Quem folhear qualquer compêndio que fale dos primórdios HISTÓRIA HUMANA logo descobre o papel real e simbólico que o BOI teve no fio do tempo. Ele aparece-nos na pintura e na escultura da ANTIGUIDADE CLÁSSICA, para não recuar a tempos anteriores. Não vou falar dos bovinos atrelados ao arado neolítico e charrua medieval a lavrarem o campo, mas no BOI APIS, a divindade egípcia de culto religioso, dito assim na transcrição que, por comodismo, fiz da Internet:
“Também conhecido como Hap, Hapi ou Hape, era o touro negro (que deveria ter um triângulo de pelo branco na testa, além de outras marcas específicas) da mitologia egipcia, venerado em Mênfis. Tinha nascido da luz de um relâmpago lançado por Ísis por Ísis e simbolizava a fertilidade e a força. O culto do touro era muito difundido nas civilizações da Antiguidade, como se pode verificar com o deus Baal. Ápis foi igualmente alvo de devoção pelos gregos e romanos”.
E também, muito a propósito, aquela figura da Ilha de Creta, mostrando um boi e três figuras humanas, uma delas a fazer o salto mortal apoiado no dorso do animal.
Face ao que, justificada fica a diferença de VISITAÇÕES feitas aos QUATRO vídeos que realizei sobre o mesmo EVENTO.
GRELHA FEITA EM 14-10-2023, 14 HORAS
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ONLINE |
VISITAÇÕES |
PRIMEIRO |
08-10-2023 |
134 |
SEGUNDO |
09-10-2023 |
100 |
TERCEIRO |
09-10-2023 |
197 |
QUARTO |
09-10-2023 |
951 |
E se isso não chega para convencer os nossos EDIS que o melhor CARTAZ TURISTICO faz com a matéria plástica serrana, podendo, muito bem, dispensar-se o PASSAREDO CANTANTE MIGRATÓRIO que vem às nossas eiras buscar o milho concelhio, aqui lhes deixo o repto. Mostrem aos munícipes qual dessas VISITAS ESPORÁDICAS teve mais VISUALIZAÇÕES e mais projetou a imagem genuina do concelho da do que o video “MONTEIRAS - OUVIDA”: nada menos 122 mil vezes” até hoje.
CONCLUSÃO: Efetivamente há “PEDRAS QUE FALAM”. “PEDRAS QUE NOS TOCAM”, “GENTE NOSSA” e “NÚMEROS ELOQUENTES”.