Trilhos Serranos

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quarta, 07 junho 2023 11:56

«UM FIM DE SEMANA INESQUECÍVEL...»

Escrito por 

“HISTÓRIA, EMPATIA E CULTURA

Acabava eu de tomar o pequeno almoço na “Pastelaria Charme”, em Castro Daire, no passado dia 2, cerca das 10 horas, e estava a escrevinhar uma crónica sobre o “PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL DE MOÇAMBIQUE”, Capitão General Francisco de Melo e Castro (em serviço nos anos 1752-1755), baseado num estudo assinado pelo meu ex-professor ALEXANDRE LOBATO, na Faculdade de Letras da Universidade de Lourenço Marques (há muito falecido), crónica onde registei o meu desalento de “ver, definitivamente, calados, sem voz nem palavra, tantas amigos que eu ouvia e me ouviam, que me liam e eu os lia,  que estimava e me estimavam”, quando junto de mim chegou o amigo, Fausto Teixeira, de Pendilhe, há muito conhecedor dos trilhos de investigação que piso e deixo pegada, perguntando-me, naquela sua atitude tímida e simples, se podia interromper-me a tarefa e eu lhe dispensava um minuto. 

 

 

separataQue sim, senhor. Faça favor. Tenha a bondade de sentar-se.

Sentou-se. E o caso era ele ter um amigo, residente no ENTRONCAMENTO que queria falar comigo com urgência. Se eu estava disposto a falar com ele via telefone. 

Que sim, senhor. Dispusesse.

Ele ligou ao amigo, usando o seu telemóvel, e do outro lado, pronto, voz cheia e segura, sem rodriguinhos nem salamaleques, o meu interlocutor disse ao que vinha: não nos conhecíamos de lado nenhum, mas ele tinha lido na Internet um texto da minha autoria sobre o MOSTEIRO DA ERMIDA. Texto que estava disponível “on line”,  em formato PDF, na plataforma da “ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HISTORIADORES DE ARTE” e ( https://apha.pt/wp-content/uploads/boletim2/ErmidaDoPaiva.pdf ).  pretendendo fazer uma visita ao MONUMENTO na companhia de mais SEIS CASAIS, seus amigos, perguntava-me se eu fazia o favor de  acompanhá-los ali, no dia seguinte, e termos lá todos uma conversa a propósito. Que já tinha falado com o meu ex-aluno Telmo, cidadão ligado ao Município de Castro Daire - setor de “turismo cultural e visitas guiadas” - mas que, combinado com ele, teriam muito gosto na minha presença. Podia ser? 

Claro que podia, respondi.

Convidou-me a almoçar com os seus amigos no  “Restaurante Típio do Mezio”,  junto à ESTRADA Nº 2, no dia seguinte. E assim foi. Depois do almoço descemos a Castro Daire, pela, agora, famosa estrada.  Alimentado que estava o corpo, faltava alimentar o espírito, pois para as duas coisas é que esse grupo de amigos se deslocou a Castro Daire. O meu ex-aluno TELMO encarregou-se de lhes dar a sobremesa no CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DE MONTEMURO E PAIVA”e, após isso,  de “barriguinha e espírito cheios”, dirigimo-nos todos à Igreja da ERMIDA DO PAIVA

Aí chegados, o meu ex-aluno TELMO cedeu, de boa mente, a palavra ao seu ex-professor. E o resto, ilustrado com duas fotos ali tiradas, encontra-se nos murais facebookianos de  NELSON AMARAL,  “lider” do grupo visitante, e também de PAULO SARGENTO DOS SANTOS, texto e imagens que me atrevo a COPIAR para aqui, data venia” aos autores. Assim:

moatiero-1mosteiro-2Na entrada da ermida de Castro Daire, com o Ilustres Prof. Abilio Carvalho e Dr .Telmo, na desvenda das siglas de pedreiros, construtores de catedrais. Medievalismo e simbologia. Notável!!

Um fim de semana inesquecível com familia e amigos  numa visita à ermida de Castro Daire. O privilégio de termos a companhia e a lição de grandes especialistas, o ilustre Prof. Abilio de Carvalho e o Dr. Telmo, do Centro de Interpretação da CM de Castro Daire”.

Face à felicidade confessada que rescende da expressão “um fim de semana inesquecível com a família e amigos” (da qual usei parte no título deste apontamento), neste meu gesto humano de ficar feliz quando vejo feliz o meu semelhante, forçoso era que, de caminho, aqui dissesse ser recíproco o sentimento, pois, mesmo antes de confessado, em letras transformado, pelos visitantes, lesto me dei conta de estar rodeado de um auditório atento, interessado nestas nossas coisas da HISTÓRIA, nestas coisas da minha vida, até mesmo os jovens e crianças que acompanharam os pais nesta sua digressão por terras nossas, terras da Beira, serra do Montemuro, em busca de novos saberes e sabores

Tivemos uma conversa fluente e agradável sobre o nosso património arquitetónico, material e imaterial, e não me despedi desse grupo de “estudiosos” sem remeter, cada um de per si, para o “Românico da Cantábria”, nomeadamente, digo agora,  para a COLEGIADA DE S. PEDRO DE CERVATOS”   (https://es.wikipedia.org/wiki/Colegiata_de_San_Pedro_de_Cervatos ) onde, nos respetivos modilhões, encontrariam amplo respaldo das palavras que, na qualidade de Historiador, ali lhes transmiti em conversa chã e simples, sem tabús nem preconceitos, que são geralmente  contrários à verdade histórica ou inibidores da  sua procura.  Isto,  depois de  lhes ter dito também que  as SIGLAS, tidas  como ASSINATURAS DOS PEDREIROS, foram assim designadas como forma expedita usada pelos “escribas cristãos” e seus acólitos, face à confusa leitura daquele livro de pedra,  forma de se verem livres de toda a simbólica pagãsignificante, significado e referente - nomeadamente a que, de forma explícita ou disfarçada (escultura e desenho), espelham o acto e os órgãos do “milagre da vida”, declaradamente exigido no versículo bíblico: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Génesis 1, 28). Simbólica - significante, significado e referente - patente neste edifício românico e noutras construções medievais do mesmo estilo, v.gcastelos, pontes e templos. Muitos por este Portugal arriba e abaixo e por esta Europa afora.

Findo o dia, com um poderoso tónico de simpatia metido na algibeira, regressado que fui a casa, pus-me reler o texto relativo à crónica sobre o “PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL DE MOÇAMBIQUE” 1752/1755 - aquele tributo devido ao meu ex-professor Alexandre Lobato, um HISTORIADOR probo, há muito falecidoNele, nesse texto, eu, velho que estou, tinha deixado o desalento de “ver, definitivamente, calados, sem voz nem palavra, tantas amigos que eu ouvia e me ouviam, que eu lia e me liamque respeitava e me respeitavam”, mas, face ao dito, feito e sentido pelos interessados visitantes que acompanhei ao MOSTEIRO DA ERMIDA, a ouvir, com eles, a murmurante e milenar  poesia das águas do Paiva, ali, junto daquele pesado e vetusto monumento de estilo românico, pedras sigladas, fundado que foi por um eremita solitário no tempo deles, depois habitado por monges que senhores foram do COUTO DA ERMIDA,  cuja HISTÓRIA já me consumiu já muitas, mesmo muitas, horas de estudo, agradado com o auditório que solicitou os meus préstimos, obrigado me vi a retomar aquela frase publicada e reduzir a carga de desalento de que a vesti, acrescentando que, afinal, ainda há pessoas desconhecidas, vindas de longe, que dispostas estão  a conversarem comigo e a “lerem-me e ouvirem-me” com interesse declarado. Falámos dos monges, dos seus domínios territoriais, dos seus teres, haveres e saberes, senhores que eram da prática agro-pastoril, detentores que eram da farmacopeia usada ao tempo, a mesma que, posteriormente,  transvasou para boticas, bruxas, curandeiras e benzedeiras, uso de chás misturados com rezas e pauzinhos cruzados, “práxis” clínica  que exclui o “TÓNICO” que ali recebi e que bem podia ter sido receitado, nos moldes científicos atuais,  pelo conhecido “neuropsicólogo” que integrava o grupo, de nome e rosto público conhecidos por integrar alguns paineis de uma das TVs que, querendo nós, nos entra em casa dentro todos os dias.

capa.1DEDICATÓRIAcapa-2Esse tónico, não sendo, pois, uma mezinha medieval manuseada no MOSTEIRO, além do que fica dito e sentido, inclui o princípio ativo   naquela   brochura   autografada que me foi oferecida, cópia fiel da versão em PDF disponível on line, retirada da página da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HISTORIADORES DE ARTE, com a devida referência à fonte donde foi extraída. E, vejam bem, quase a fazer 84 anos de vida, com alguma obra publicada e autografada, foi a primeira vez que, num gesto simpático e empático, recebi, na testada de um texto meu, logo a abrir, os AUTÓGRAFOS de um conjunto de cidadãos desconhecidos, das mais diversas profissões - engenheiros, professores, psicólogos e outras - como sinal de agradecimento e apreço. Deles e FAMÍLIA. (cf. fotos ao lado)

Felicitei, por essa iniciativa, o senhor NELSON AMARAL e, na sua pessoa, os restantes seus amigos. É que eu, dono do texto, vi, no lesto gesto de o COPIAR E IMPRIMIR, encadernado em formato “brochura”, não apenas uma forma de dignificar o trabalho da ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HISTORIADORES DE ARTE, mas também  o respeito pelos  direitos de autor, coisa rara neste aligeirado tempo que vivemos de “copy/paste” sem referência à fonte, como soe fazerem por aí, ao que dizem os órgãos  de comunicação social, alguns “doutores” da nossa praça. Até políticos sem vergonha.

Enfim, mais uma forma de divulgação do nosso património edificado e do conhecimento produzido a ele associado. E vão sendo cada vez mais raros aqueles que, neste nosso mundo atual, neste nosso século XXI, quando vemos o TER sobrepor-se ao SER,  ainda constatamos haver GENTE que se dedica à investigação e divulgação da HISTÓRIA e outras  CIÊNCIAS SOCIAIS e HUMANAS.

Da minha parte BEM-HAJAM. Venham sempre.

Abílio

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.