Luís Alberto da Costa Pinto
Há muito que devo uma crónica escrita a este cidadão natural de Cetos. Há um bom par de anos que o tenho por amigo. Conheci-o através do seu pai Manuel Alcino Duarte Pinto, que não me regateou os seus préstimos quando a ele recorri para me ensinar e levar até ao sítio do Gandivao, na altura em que eu investiga a possivel localização dessa povoação medieval, dita desaparecida.
Acertado o dia e a hora, acompanhado do senhor Manuel J. G. Araújo e Gama, ex-director de Finanças de Castro Daire, dirigi-me a Cetos. Ali apanhei o senhor Alcino que me esperava e metidos no meu carro, lá fomos nós até à entrada da Póvoa do Montemuro. Saímos antes de chegar à povoação e, descendo um caminho carreteiro antigo, em direção ao rio Teixeira, cavaqueando, uma conversa entre amigos, galgámos trancos e barrancos até chegarmos ao sítio almejado. Ele ia dizendo e ensinando. Não tardei a verificar este aldeão de Cetos sabia mais da geografia e toponímia locais do que alguns catedráticos encartados.
Ele levou-me até ao barranco do Gandivao para localizar, ali, o PORTO DO TEIXO. E ali, no sítio onde melhor se transpunha uma linha de água, de uma margem para outra, a linha de água que deslizava para o rio TEIXEIRA, dois passos mais abaixo, vindo do Chão dos Frades, (topónimo já por mim usado no meu livro "Mosteiro da Ermida"), ele me informou que tal designação se devia ao facto de ter existido ali um TEIXO de grande porte. E associou a existência da PEDRA TEIXEIRA, no alto do Montemuro, em torno da qual, em tempos remotos, se reuniam os autarcas das freguesias confinantes para tratarem de assuntos de interesse comum, ao PORTO DO TEIXO, ali mesmo, e, mais abaixo o RIO TEIXEIRA, a caminho do Paiva. Três nomes com a mesma raiz. Isto disse ele, sem ser geógrafo ou linguista, sem ter queimado as pestanas a ler livros na Universidade de Coimbra, mas tão só a romper tamancos e botas por esta serra fora, a conhecer penedos, árvores, arbustos, montes, regatos e rios. Orografia, geografia, fauna e flora.
Aprendi que ali, na bacia formada pelas linhas de água que, descendo da serra, confluem no rio Teixeira, ali, ao fundo da Póvoa do Montemuro e nas costas do outeiro que deu guarida a Cetos, era o Gandivao, propriedades rústicas com assento nas matrizes prediais. Ali, num covão de acesso difícil, como admitir que, em qualquer tempo, fosse o berço de uma povoação? Património edificado, nem sinal. Aceitar isso era uma afronta à inteligência humana. E conjeturei que a povoação assim designada na Idade Média, teria simplesmente mudado de nome e nunca desparecido. E não me enganei. Feitas as investigações necessárias conclui, como então publiquei no “Notícias de Castro Daire” e no meu site «trilhos serranos» que a velha vila de Gandivao, dada como desparecida, era, nada mais, nada menos do que a Póvoa do Montemuro.
Mas isso já la vai. Escrito e publicado. Não é o tema desta crónica. Hoje não é do pai que falo, mas do filho.
E digo que, seguindo ele as pisadas do pai, foi empresário de construção civil e, depois disso, procurou exercer a sua cidadania ao serviço do concelho pela via política. Em 2013 concorreu à Presidência do EXECUTIVO MUNICIPAL, nas listas do PSD. Perdeu as eleições, mas não perdeu os amigos, nem a imaginação e criatividade que o acompanham desde que se sente gente. Imaginação e criatividade que eu já pus no mundo em vídeos alojados no Youtube. Foi desses vídeos, aliás, que eu retirei os fotogramas que ilustram estas linhas. Eles, esses vídeos, continuam online, prontos a serem visionados.
Apaixonado por motas, põe nelas, velhas e novas, todo o seu saber, gosto e empenho criativo. Não há mota antiga, parada, morta, desfeita em peças, que ele não adquira e, na bancada da sua oficina, volta a dar-lhe alma e vida, prontas a rodar e honrar a marca e lembrar a mecânica dos tempos idos.
Além disso, além das motas de marca que ele recupera, ele também inventa. A primeira que vi e filmei foi aquela que ele fez, imitando a Harley Davidson, com o motor de uma carrinha Renault 4L. É a que vemos no terceiro e quarto fotogramas (mais acima) extraídos do vídeo, a que me referi.
Mas, apesar de essa mota ser uma máquina de sua criação, digamos assim, nem é das que mais “adora”. Basta visitar a sua oficina e os espaços onde ele guarda a coleção de MOTAS ANTIGAS para ver o carinho e os afetos que ele vota a esses documentos históricos que rodaram no país e no estrangeiro. O brilho dos seus olhos ao mostra-me o farolim inglês alimentado a petróleo (uma autêntica peça de relojoaria) e o farolim alimentado a gaz acetileno, reação da água a pingar no carboreto, semelhantemente aos gasómetros dos mineiros.
O seu nome já correu mundo. Tem uma coleção invejável de motas que, juntas num museu, honrarão e prestigiarão, não só o proprietário, mas também a NOSSA TERRA e as NOSSAS GENTES.
Numa das entrevistas que lhe fiz, disse-lhe que tínhamos em comum, ambos gostarmos de HISTÓRIA. Eu investigando-a e divulgando-a na imprensa e em livros. Ele estudando-a e divulgando-a através das motas. Que mais não seja, só por isso, era-lhe ele devida esta crónica. E eu, escrevendo-a, alivio a minha consciência, incluindo-o no rol dos cidadãos que, para além do entretenimento, se tornaram dignos de neles assestar a minha lupa, dando-lhes, publicamente, NOME e ROSTO.
De resto foi ele, Luís Alberto da Costa Pinto, o cidadão a quem, em 1995, o então, Presidente da Câmara, Dr. César da Costa Santos, incumbiu, pela sua competência técnica, de fazer o “restauro”, da máquina a vapor que, por diligência minha, cedida «gratis» pelo proprietário da Serração dos Casaios de D. Inês, senhor António Luis de Almeida, se tornou propriedade do Município, tal como amplamente foi noticiado no meu livro «Indústria, Técnica e Cultura» e em crónica publicada no “Notícias de Castro Daire”. com a minha assinatura. Só quem não estuda, não lê e não se informa é que pode chamar àquela peça arqueológica “máquina de comboio”.
Não sou de receber ou de dar louvores fáceis, mas também não me inibo de fazê-lo, quando estou convicto daquilo que afirmo. De resto, faço-o consequente com o meu comportamento de sempre, sem olhar a etnias, cores políticas e religiosas. As provas disso são públicas e seria redundante dar aqui exemplos. Toda a gente sabe que travo, permanentemente, um combate contra o COMPADRIO e o CLIENTELISMO. Que recuso a MEDIOCRIDADE e sou um defensor intransigente da MERITOCRACIA. Que faço alarde da CRIATIVIDADDE e da IMAGINAÇÃO.
E, no caso presente das MOTAS, relevo o empenho de Luís Aveleira em adquirir e colecionar tais PEÇAS DE MUSEU, peças raras, preciosas, senão mesmo singulares. Documentos históricos sobre rodas.