Estando os dois em terras alentejanas fazíamos “vaquinha”, uma vez íamos no carro dele, uma carrinha “Citroen boca de sapo”, outras íamos na minha “Citroen Dyane”. E nisto eu era o beneficiado. Só quem alguma vez assentou o rabo nestes dois carros pode estabelecer a diferença.
Mas não é isso que me leva a escrever estas linhas, tantos anos após. O Arménio, ainda que um pouco mais novo do que eu, já faleceu há alguns anos, num acidente de automóvel. Já eu tinha deixado o Alentejo e regressado ao meu concelho de origem.
Dele, para além da amaizade e camaradagem, me ficou a lembrança de ser um profissional de educação nascido para ensinar e aprender e disso me deu provas nas mais banais situações.
Um dia, numa das nossas refeições, durante um desses “cursos de reciclagem” deu-me uma lição, ligada à coisa simples e recorrente que é o momento de tomar café após a refeição.
Com efeito, posto o café na mesa, abre-se a saqueta do açúcar, despeja-se para dentro da chávena, mexe-se com a colher e, de seguida, saboreia-se a deliciosa bebida que, certo pastor em tempos idos, algures no mundo, descobriu ao constatar que as suas cabras tinham um comportamento estranho e eufórico, depois de comerem as bagas de certa planta abundante no lugar do pastoreio.
Ora, acontece que, levando a chávena aos lábios, não têm conta as vezes que uma pinga sorrateiramente resolve manchar a gravata ou o peitilho da camisa. Sim, e para evitar isso devia colocar-se na base do “pires” o papel da saqueta de açúcar acabado de despejar para dentro da chávena. Desse modo, esse papel absorvia todo e qualquer escorrimento da chávena. E, feito isso, adeus nódoas.
A lição valeu para sempre. E a maior parte das vezes que, após a refeição, tomo café, mesmo sem açúcar e sem saqueta, lembro-me deste amigo Arménio e das nossas viagens ao Algarve. Recordo aquela gincana que obrigatoriamente fazíamos a descer e a subir a Serra do Caldeirão. Caminhos da vida. Fisgadas da MEMÓRIA.