A RESISTÊNCIA DOS TOPÓNIMOS
Nos meus quilómetros de escrita e de vídeos averbo várias crónicas com o título “GENTE DA TERRA” e, ultimamente, sozinho ou acompanhado, tenho andado a calcorrear montes e vales, aqui pelas bandas do Montemuro, a falar com pessoas, esses livros andantes, a fazer registos fotográficos e em vídeo, caminhadas que têm dado conteúdo a textos, com visível marca GEOGRÁFICA,HIDROGRÁFICA, GENÉTICA E EPIGENÉTICA, intitulados “HERÓIS DA SERRA” relativos a pessoas, com extensão aos TOPÓNIMOS, uma espécie em vias de extinção.
Retomo a caminhada, desta vez para associar o que ficou dito por José Ferreira Miguel, natural da Relva, freguesia de Monteiras, com ascendência de Cujó, já que o seu bisavô, FIRMINO PEREIRINHA E SILVA, era oriundo daquela aldeia, membro da conceituada família dos PEREIRINHAS que eu muito bem conheci e conheço, quer pessoalmente, quer através leitura de documentos históricos.
Casado que foi na Relva para ali foi morar e lá deixou a sua pegada de INOVADOR, pois atribuído a si é o plantio dos castanheiros em torno da aldeia e também ter congeminado uma levada que executou com a ajuda da população. Levada que, derivando do rio PAIVÓ, conduziu as águas até às terras “cobertas de giestas brancas” existentes ao fundo da povoação, terras que, arroteadas e irrigadas, se tornaram produtoras de milho, feijão, batatas, abóboras e mais produtos de caldo.
E essas suas iniciativas ali estão a testemunhar a sua pegada de INOVADOR. No que toca à levada ela foi enriquecida com as manilhas abertas chegadas com o posterior, mas tardio regadio. Foi um melhoramento agrícola que tarde chegou aos rincões serranos. Chegou quando já a AGRICULTURA estava prestes a ser aabandonada, como é o caso nos anos que correm.
E os castanheiros ali se levantam jovens e robustos, diferentemente daqueles que tenho fotografado e filmado nos arredores de Fareja, Vila Pouca, Baltar, Folgosa e Fareginhas. Ver fotos e comparar. Por certo será fácil passar-lhes a certidão de idade.
Disse José Ferreira Miguel que as terras irrigadas com as águas da levada saída do rio Paivó, congeminada pelo seu bisavô, tornaram produtivas as terras que, até então, estavam “cobertas de giestas brancas” e, ao dizer isso, sem o saber nem de tal fazer a mínima ideia, emprestou significado e conteúdo ao topónimo que identifica as terras úberes e chãs que, em Cujó, marginam o rio CALVO e são designadas por GIESTAL, terras produtoras ,exatamente, de milho, batatas, feijão e mais produtos de caldo. Ver fotos abaixo.
Tenho a dado a falar na RESISTÊNCIA DOS TOPÓNIMOS, alguns deles chegados até nós vindos da IDADE MÉDIA e aqui fica um exemplo do quanto eles informam (por mais aleatória que seja a sua origem) sobre as nossas terras e as nosas gentes, sobre as “GENTES DA TERRA” e sobre os “HERÓIS” dela.
Dito isto, que eu saiba, nunca ninguém de Cujó se interregou publicamente das razões por aue r se chamava e chama GIESTAL àquelas terras lavradias, chãs e fortes, algumas delas lameiros de pasto e de feno, junto ao rio Calvo, campos abertos para quem sai da povoação pelo lado da Igreja, ali, onde só entrava a relha da charrua de aiveca móvel, pois nelas não se atrevia a ferrar dente o arado de pau radial celta, destinado somente a laborar as terras centeeiras e leves.
Também não conheço alguém de Cujó que se tenha interrogado por que razão, ao lado GIESTAL ficavam e ficam, as terras designadas MOITA DA MERENDA, topónimo que bem pode significar o sítio onde os lavradores MERENDAVAM na altura em que procediam ao arroreamento daquelas terras cobertas de giestas.
De resto, estes topónimos assumem significado e verdade histórica se nos lembrarmos do que deixei escrito no meu livro “Cujó, Uma Terra de Riba-Paiva”, relativamente ao nome dos PRAZOS, suas demarcações e produção, identificados na ESCRITURA DE EMPRAZAMENTO, datada de 1817 e assinada pelo pelo protonotário do Mosteiro das Chagas, de Lamego (proprietário dessas terras), e o enfiteuta delas, José Pereira Vaz e esposa, de Cujó. É só ler, para saber.
E na explicação de tudo isto, pode dizer-se, de caminho, sem grande margem de erro, que se na Relva uma levada, desviando as águas do rio Paivó, converteu um GIESTAL em terras de lavoura, graças a FIRMINO PEREIRINHA E SILVA, nesta aldeia, sua e minha terra natal, o mesmo ficou a dever-se, seguramente, à chegada da charrua de aiveca móvel, tal como deixei escrito no livro acima referido, cuja grelha seguidamente aqui reproduzo, graças à investigação que, a preceito e à data, fiz nas terras do concelho de Castro Daire.
E mais: se José Ferreira Miguel, ex-militar da GNR, atualmente empresário ligado ao mobiliário, se sente orgulhoso por ter sido o seu bisavô, o responsável pelo plantio de castanheiros em redor da povoação da Relva e foi o motor da levada que converteu um giestal em terras de lavoura, não menor é o orgulho que eu sinto por ter sido o meu avô, ANTÓNIO TERESO, o cidadão que, gastando 16$00 escudos, introduziu, em Cujó, a charrua de aiveca nóvel, tornando lavradias as terras, hipoteticamente, cobertas de giestas e daí, de GIESTAL receberem o nome de batismo digno de figurar nas matrizes prediais, aquele nome que chegou aos nossos dias, aos meus dias.
E desse facto tinha o meu pai. Salvador de Carvalho, memória muito viva, com pormenores que não vêm ao caso colar aqui, pois o foco deste trabalho são, efetivamente, os TOPÓNIMOS e só, corretalivamente, os protagonistas que, no seu tempo e a seu modo, deixaram a sua pegada no mundo por serem exatamente INOVADORES, digamos que, por serem PIONEIROS.
Vide, Vídeos correlatos
CUJÓ
RELVA