Trilhos Serranos

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quarta, 06 julho 2022 11:34

GRANDEZA DA ARTE MINIATURAL

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NÓS E A ARTE

Presumo não haver ser humano que, num qualquer momento, não volva os olhos para o passado e deixe de se interpelar sobre os caminhos que fizeram de nós quem somos, seres sociais, racionais, emocionais, artistas, uns e mais do que outros. Sobre o legado que herdámos e aquele que, pensando nisso ou não, estamos condenados a legar aos nossos vindouros. Esse legado sobre o qual deixaremos a patine dos nossos gostos, da nossa razão e das nossas emoções, da nossa forma de ser e de estar no mundo.

ANÕES

Na cidade, tal como a minha colega de profissão e companheira de vida - MAFALDA - a sós ou em companhia, não dispensávamos a ida às bibliotecas, livrarias, museus, alfarrabistas e casas de leilões que vendiam velharias e antiguidades. Íamos, víamos e, de gostos convergentes, raras eram as vezes que saíamos de mãos vazias, satisfeitos por trazermos connosco algo que incorporava saber, ciência, imaginação e criatividade humanas.

Nunca perdi esse gosto e, de quando em vez, comprados ou oferecidos, aportam em minha casa artefactos que nela são acolhidos com o valor e o significado histórico, artístico ou simbólico que incorporam. Grandes ou pequenos.

12Já fiz registo escrito e em vídeo sobre a GRANDEZA DA ARTE MINIATURAL, reportando-me aquelas pinturas que a minha mulher fazia sobre pedrinhas roladas e polidas do rio. Toda e qualquer superfície lhe servia para projetar a sua imaginação e criatividade. Um legado que deixou aos nossos filhos e filhos deles. As minhas netas MAFALDA e MARTA e neto GUILHERME. Por isso fiz os registos.

Desta vez falo sobre três peças que me foram oferecidas pelo senhor Agostinho Silva, de Lamelas, Castro Daire, possuidor de um armazém recheado de “VELHARIAS E ANTIGUIDADES”, à semelhança do senhor Delfim Santos, da Moita, sendo certo que, estivessem os recheios desses armazéns devidamente inventariados e catalogados, metiam num chinelo o MUSEU MUNICIPAL DE CASTRO DAIRE. Isto sem esquecer aquele que o meu amigo António Argentino (infelizmente já falecido) e a esposa D. Lúcia, têm em Reriz.

monogramaFace a essa realidade já interpelei publicamente aqueles que no MUNICÍPIO têm ocupado os PELOUROS DA CULTURA. Pergunta retórica, pois o que fizeram está à vista, sem esquecer o estado degradado a que está votado o MONOGRAMA lavrado na ESFERA que remata a FONTE DOS PEIXES, esse ÍCON da nossa vila, levado ao mundo através de postais e peças de cerâmica. Já escrevi sobre ele, já levei lá os vereadores, Dr. RUI BRAGUÊS, LEONEL FERREIRA, PEDRO PONTES e, há dias, o próprio Presidente da Câmara, Dr. MANUEL ALMEIDA que humildemente, tal com os restantes, reconheceu ignorar aquela PEÇA DE ARTE. Levou fotografia dela. Não pode continuar a ignorá-la. E também já tinha lá levado do o meu amigo Luís Aveleira, membro do GAP. E também o escultor Manuel Coelho Pinto, que apreciou a obra, mas não passou disso.

Uma autêntica OBRA DE ARTE lavrada por anónimo canteiro que, quer pelo seu valor artístico em si, quer por se tratar no MONOGRAMA da CÂMARA MUNICIPAL, bem merecia ser RECUPEDADO em memória do artista e dignificação do próprio MUNICÍPIO. Isto enquanto estão visíveis e se podem “avivar” os elementos que, “artisticamente” dão forma àquelas duas LETRAS, a atirar para o GÓTICO.

E vem isso a propósito das duas miniaturas, que ilustram este apontamento, ambas destinadas a líquidos: um REGADOR e um DESTILADOR, ou VASILHA para líquidos, cuja poupança e parcimónia de consumo se adivinha estar na torneira metálica colocada no bojo.

REGADORVASILHA

E não será propriamente por acaso que eu associei essas duas vasilhas ao CASAL DE ANÕES que, recostados num banco de jardim, dormem a sesta ou usufruem as delícias do companheirismo que viveram uma vida inteira e, no fim dela, mostram estar em paz consigo e com o mundo. O que não acontece, seguramente, com toda a gente.

E sabe-me bem extrair destas MINIATURAS essa sensação de PAZ, de SOSSEGO e ÁGUA DA FONTE, quando vemos cidades, vilas e aldeias ucranianas bombardeadas, sem água nem luz, refugiados sem conta a deixarem os seus lares e pertences, em resultado de uma GUERRA impensável neste princípio do século XXI, onde um dos contendores se AGIGANTA em defesa do seu território e outro, ansioso de GANDEZA se MENORIZA, à luz da civilização.

 

 

 

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https://youtu.be/gslj7Gpfqmo

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.