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domingo, 08 setembro 2013 11:56

FONTE DA LAVANDEIRA, UMA FONTE RESSUSCITADA

Escrito por 

«É FRAQUEZA DESISTIR DE COUSA COMEÇADA»
Luís Camões

 Na saga da preservação das fontes e águas públicas perdidas entre silvedos e barrocais, à semelhança da Fonte de Nossa Senhora, no Alto da Lapa, e também a Fonte da Lavandeira, de que já falei em artigos anteriores e vídeos colocados no Youtube, começo esta crónica com as mesma palavras que escrevi sobre a Coluna Secular e o Cruzeiro de Alminhas, à entrada da Sobreira, palavras que levaram à alteração da obra feita e, com isso, à salvaguarda do nosso património material e imaterial histórico. Assim:

1- Lavandeira-2010«1 - Nunca desisti de fazer uso da palavra escrita e/ou falada, exercendo, através dela, a minha cidadania. Não sou daqueles que destila eloquência crítica nas esquinas da rua, que dá punhadas nas mesas e nos balcões dos cafés, que bate o pé nos passeios públicos, que murmuram por todo o lado, sabedores de tudo o que é «gestão pública» e protestando contra tudo e todos. Não sou desses, mas não raro tenho de enfrentar os que me dizem que «não vale a pena» ir além disso, pois os políticos, no poder ou fora dele, não ligam patavina às sugestões que lhes chegam, idas de cidadãos que não integram os aparelhos partidários. Só ouvem os «seus».
2 - Venho hoje demonstrar, com factos, que nem sempre pregamos no deserto e, por vezes, o sermão ecoa nas dunas do seco areal que nos rodeia».

 Pois bem, se estas palavras, devidamente ilustradas com fotografias, publicadas no «Notícias de Castro Daire», de 24 de Julho do corrente ano, mostraram que os poderes públicos, neste caso o Executivo Municipal, não foi imune às sugestões que lhe chegaram de fora, visando os interesses comuns, a crónica de hoje, demonstra, igualmente, que a minha persistência, escrevendo, filmando e denunciando o abandono em que se encontrava a Fonte da Lavandeira, não caiu em saco roto. 
Para que não tenham dúvidas todos daqueles que «tudo sabem e que de tudo falam», mas cujo entendimento não alcança sequer o papel básico da comunicação social e daqueles que nela exercem a sua cidadania, eis um pouco da sua hist+oria, no sítio e no mundo.

 PRIMEIRO: 

Alvo da minha câmara fotográfica e de vídeo, ela foi colocada no Yuotube e no Facebook, com a seguinte legenda: «situada a norte da vila de Castro Daire, foi expropriada pela Câmara Municipal, em 1919, ano de grande seca e só ela, em toda a vila, pôde responder ao abastecimento público de água. Foi também utilizada para lavagem de roupa, como bem o indica o seu próprio nome e os tanques que ainda ali existem com pedras de lavadouro. É mais uma água pública a recuperar pelo Município, antes que ela se «afogue» naquele barroco, já de difícil acesso.Atenção edis municipais, a água é cada vez mais «ouro puro».

O vídeo alojado no Youtube, no dia 13 de Março de 2012 (onde continua), recebeu, na altura, os seguintes comentários dos meus amigos facebookianos:

1 - Manuel Teixeira  A água é muito boa para beber, eu fui criado na Quinta da Lavandeira que era do senhor Fráguas. 13 de Março de 2012 às 23:21 

2 - Ângela Carneiro  Boa noite, muito obrigada por esta bela recordação. Brinquei muitas vezes dentro de um desses tanques enquanto a minha mãe lavava os cobertores no outro lado, até me fez chorar de alegria e ao mesmo tempo de tristeza, por isso tudo estar assim tão abandonado. Obrigada por todas estas boas recordações. 13 de Março de 2012 às 23:22 

3 - Manuel Teixeira E era protegido pelo santo António, que era meu vizinho tanta fisgada atirei naquele sino que acabava por partir as telhas. 13 de Março de 2012 às 23:28 · 

4 - Fatima Carneiro é muito triste deixarem tudo abandonado na Lavandeira 31 de Março de 2012 às 23:11 

 SEGUNDO:
2-Lavandeira.2013
No dia 16 de Junho do mesmo ano, coloquei um segundo vídeo, no Youtube e no Facebook, sobre esta a mesma fonte, acompanhado do seguinte texto explicativo:

 «Os amigos, frequentadores desta página, já conhecem esta fonte pública e a sua história. Desta vez abstive-me de quaisquer comentários. Vejam as diferenças entre o primeiro vídeo e este e perguntem-se se vale a pena alertar os autarcas para a defesa do nosso património. Se vale a pena correr o risco de enfrentar, no primeiro vídeo, um rafeiro zangado e agora enfrentar um Rottweiler, para levar até vós as mudanças operadas. São coisas nossas. Serão águas perdidas para sempre? Ouçam como elas jorram e cantam em pleno mês de Junho de 2012».

Este segundo vídeo, que continua lá alojado, recebeu, na altura, os seguintes comentários:

1 - Ida Vicente É na realidade muito triste ver estas imagens de um sítio que foi tão procurado em tempos pela gente desta terra.  Sr. Fernando Carneiro, olhe por coisas como estas da nossa terra! 16 de Junho de 2012 às 20:33 

2 - Manuel Paiva Loureiro Os autarcas deveriam ser mais sensíveis na preservação de tudo quanto fosse histórico ou com história desta terra, sem ser necessário que alguém os chame a atenção para qualquer facto de relevo. Esta fonte merece, agora e mais do que nunca, visto situar-se junto do novo parque das feiras e festas, de um arranjo digno de forma que as pessoas dela se possam servir. 16 de Junho de 2012 às 23:45 

3 - João Andrade Guto O Dr. lembrou-se da Lavandeira. Desde novo ouvi falar neste lugar onde as mulheres de Castro Daire lavavam a sua roupa. A nossa aldeia da roupa branca (filme). 16 de Junho de 2012 às 23:52 

4 - Abílio Pereira de Carvalho Tem muita razão o amigo Manuel Paiva Loureiro. A Lavandeira devia ter sido integrada no projecto, só que quem projectou o «parque» ignorava seguramente a existência dessa fonte histórica e pública. 18 de Junho de 2012 às 18:06

 TERCEIRO:

No dia 10 do corrente, na sequência do convite do Partido Socialista para eu fazer parte dos «amigos» na sua página do Facebook, aproveitei para agradecer o convite e alojei imediatamente na página que o PS me disponibilizou, um novo vídeo da Fonte da Lavandeira, acompanhado do seguinte texto: 

«Aproveitando a embalagem da investigação e divulgação da nossa história, bem oportuno me parece publicar, na página do Partido Socialista, o vídeo que fiz recentemente sobre a Fonte da Lavandeira (o terceiro, em pouco tempo, todos eles alojados no Youtube e na minha página do Facebook). É um tesouro histórico escondido a precisar de recuperação urgente. Tratando-se de uma água pública e sendo a água um tesouro cada vez mais raro, estou certo que esta minha chamada de atenção à força política que apoia o Executivo Municipal, não lhe ficará indiferente e porá mãos à obra na sua RECUPERAÇÃO e acessos, em prol do BEM COMUM»

 QUARTO:

3-Novo Acesso-Obras

Nada disto foi em vão. E «tudo vale a pena se a alma não é pequena». A minha persistência, usando a palavra escrita e oral acompanhadas da imagem deram resultado. O Executivo Municipal, presidido por Fernando Carneiro, ressuscitou Fonte da Lavandeira, depois de longos anos sepultada naquele barroco, desconhecida da maior gente nova da vila e, até, de alguns políticos que têm gerido o concelho nos últimos trinta anos.

Por isso este Executivo Municipal, através do vereador do pelouro da Cultura, Dr. Rui Braguês, merece esta nota de SINAL MAIS ao recuperar esta ÁGUA PÚBLICA. Sinto-me orgulhoso por ter insistido nisso e os meus amigos do Facebook, acima referidos, atentos à minha página e opinando sobre a mesma Fonte, bem podem partilhar deste orgulho. É um bom exemplo do exercício da cidadania e da relação que deve haver entre governantes e governados, seja qual for o seu ideário político.

Totalmente limpa (vejam-se as fotos que ilustram esta crónica, de 2010, 2013, tanques e novo acesso em obras) mantendo ela o seu acesso histórico pelo caminho do Santo António, agora também se pode chegar lá, facilmente, pela rotunda do Ganha Pouco. A Câmara Municipal, na altura em que escrevo esta crónica, está a proceder ao encanamento das sobras saídas dos tanques. Sobre ele ficará um passadiço emparedado entre os dois muros que suportam os quintais laterais. É uma entrada nova, original, curta, funcional e útil. A FONTE DA LAVANDEIRA, ressuscitada, passa assim a exercer a função para que foi explorada, em 1919. É para isso que servem as FONTES: fornecerem água.

A ela voltarei brevemente, com um vídeo, mostrando e comentando o estado em que ficou depois de prontas as obras. Só assim poderemos fazer a comparação com os três vídeos que fiz antes. Isto para esvaziar os argumentos daqueles que têm tendências para negar os factos e as evidências.

Nota: texto a publicar no próximo número do «Notícias de Castro Daire», de 10 de Setembro de 2013.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.