Trilhos Serranos

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sábado, 07 setembro 2013 22:01

BOMBEIROS

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Acabei de ler um texto no Facebook  cujo autor se lamentava de haver gente que só se lembra dos Bombeiros como da Santa Bárbara: dos Bombeiros quando há fogo e da Santa Bárbara quando troveja. Esse texto não deixou de «bulir» comigo e levou-me a  transcrever para aqui parte do capítulo «NA HORA DO RESCLADO» do meu livro «Castro Daire, Os Nossos Bombeiros, A Nossa Música», editado em 2005. Isto para que o autor do texto, escrito num momento muito dramático para as corporações dos soldados da paz,  saiba que há quem se lembre dos BOMBEIROS não apenas nos momentos de aflição, pois (em Castro Daire)  também há quem tenha consumido anos a estudá-los e a oferecer-lhes «grátis» uma obra que, como foi notório e público na imprensa local, em vez de ser lida, e acarinhada pouco faltou para acabar numa fogueira. Mas isso é «fogos» de outros tempos. Ora façam o favor de ler e calculem as horas, dias e anos dedicados à investigação de uma obra de 500 páginas, assim rematada:

BombeirosRez

NA HORA DO RESCALDO

 

Prestes a da por finda a tarefa que me propus levar a cabo, poderia dizer-se em linguagem bombeiral, que chegou a hora do rescaldo, o fim do fogo, o retorno ao quartel, recolha de tamancos e de botas, de agulhetas, de mangueiras, enfim, hora do descanso merecido.
(…)
Este livro é dedicado e oferecido a essa gente humilde. Foi em todos esses protagonistas, bombeiros e músicos, que busquei coragem e alento para o escrever sem desistir a meio. Foi neles, também, que me inspirei para congeminar a ilustração da capa. Bombeiros que davam à «bomba»; mulheres que, com os seus canecos e vasilhame diverso, esgotavam tanques, poças, minas de quintas, para abastecerem de água esse equipamento; músicos, elementos da Banda que, nos meses quentes de Agosto, mês de remarias, foguetes e procissões, davam ao fole a soprar e a dedilhar os instrumentos por essas aldeias fora, pára, arranca, sobe e desce, passo certo, sobe calor abrasador, afogueados pela farda, colarinho apertado. A todos eles se deve, com um certo sabor heráldico e nobre, a disposição dos elementos que, na capa, simbolizam as duas corporações historiadas: «Os Nossos Bombeiros» e a «Nossa Música»
(…)
Tive alento para nele consumir muitas e muitas horas de investigação e de trabalho. Dias e anos. Tive força e vontade para o levar até ao fim esta cansativa tarefa. Mas sentir-me-ei compensado, satisfeito e feliz, se os leitores, os bombeiros, músicos, sócios e não sócios tiverem a paciência para o ler, a eito, sem desfalecer, até à última linha. E não duvido que assim procederão todos aqueles que se interessam pela História Local. Esses, sabedores e diligentes, não deixarão de assumir-se como motores de inovação e de mudança, pois o país, o concelho e as instituições bem precisam do seu esforço esclarecido e do contributo empenhado. Dos outros, daqueles que tratam apenas da sua «vidinha» não há nada que esperar. Esses, o mundo que herdaram será o mundo que deixarão por herança». (pp. 497-501)

 

Abílio/Setembro/2013

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.