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terça, 24 maio 2022 15:21

CUJÓ - «DIÁRIO DA CÂMARA DOS SENHORES DEPUTADOS» E, 1904

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SURPRESAS DE AMIGOS

Como é notório e público, a minha falecida esposa, MAFALDA DA BRITO MATOS LANÇA CARVALHO,  era natural de Castro Verde, monte das Fontainhas, e ambos lecionámos naquela vila alentejana e também na cidade de Beja. Lecionámos e investigámos sobre a HISTÓRIA LOCAL, desde 1976 a 1983/84, ano letivo em que retornei ao meu concelho de origem. A minha esposa fá-lo-ia no ano seguinte.

Ambos deixámos naquelas terras as nossas pegadas e, para além dos familiares diretos (tias, tios, primas e primos) julgo termos deixado também alguns amigos.  e De dois deles me chegou agora a SURPRESA que dá conteúdo a este apontamento.

 O meu amigo José Guerreiro (ex-notário de Almodôvar) fez-me chegar uma NOTA publicada no mural do GRUPO «CASTRO VERDE», por  FERNANDO MARUTA, (um dos elementos do GRUPO) natural daquela vila, mas a residir, há muitos anos, em Lisboa. Vou transcrevê-la na íntegra, “data venia”ao seu autor. Assim:

 «CASUALIDADE

 

CUJÓ-DIÁRIO** Cujó e Castro Verde **

«Não tendo pretensões, nem de perto nem de longe, a ser um historiador (faltam-me basicamente as competentes qualificações académicas), nestes últimos anos comecei a sentir uma certa curiosidade por saber alguma coisa sobre a “História de Castro Verde”, eu que praticamente saí daí com a idade de 10 anos.

 Esta minha curiosidade não é tanta pelas pessoas e famílias em si, mas sobretudo pela evolução social, arquitetónica e paisagística, a que a terra foi sendo sido sujeita ao longo da sua existência como tal.

 Tenho “vasculhado” documentação vária em muitos arquivos, já que infelizmente existe uma quantidade insuficiente de publicações sobre esses temas, na própria terra.

 Existem, é certo, no seu Arquivo Municipal algumas obras, escritas tanto por Castrenses ilustres interessados por esses temas e também por Historiadores qualificados, que em várias épocas por aí passaram e se interessaram pelo “desbravar” de alguma dessa história desconhecida e a colocaram à disposição dos Castrenses e dos interessados em geral.

Um desses Historiadores qualificados é o Prof. Abílio Pereira de Carvalho, que ao longo dos anos, mesmo vivendo distante, continua a ter uma forte ligação a Castro Verde.

 Apesar de ele constar da lista de amigos, no Facebook, não o conheço pessoalmente e excluindo um pequeno período, na época em que aderi ao Grupo #CastroVerde, muito por ação do seu Administrador Dr. José Francisco Colaço Guerreiro, mantivemos algum intercâmbio “social-eletrónico”, que se perdeu no tempo. Mas tenho acompanhado alguns dos seus esclarecidos escritos, publicados em página própria na Internet. Sei, portanto, que é natural da Freguesia de Cujó, pertencente ao Concelho de Castro Daire.

 Voltando ao que escrevi atrás, em relação às minhas pesquisas sobre Castro Verde, descobri nos registos das Sessões da Câmara Dos Senhores Deputados, durante o período da Monarquia Constitucional um desses registos, referido ao dia 7 de Março de 1904, duas petições curiosas, registadas na mesma página, uma a seguir à outra, que relacionam as duas terras que o Prof. Abílio de Castro ainda hoje continua a relacionar sentimentalmente.

 AB-Capa-6Os assuntos das petições são de teor diverso, mas por curiosidade dos fatos, não quero deixar dar conhecimento do documento em causa. (fim de citação:credito Fernando Maruta)”.

Leram? Leram bem? Este cidadão, FERNANDO MARUTA, meu amigo no Facebook através do Dr. José Francisco Colaço Guerreiro, que meu amigo é, pesquisou, olhou e viu num documento o nome de CUJÓ, associou-o imediatamente à minha pessoa e produziu a peça que eu acabei de transcrever.

E ele, que humildemente se confessa “não ser historiador”, (mas com provas  dadas de se meter nos arquivos) forneceu a quem «se considera historiador», natural de Cujó, (com passagem por Castro Verde) uma informação valiosíssima. É que eu, no meu livro “Cujó, Uma Terra de Riba-Paiva”, editado em 1993 pela Junta da Freguesia, historiei a saga da separação da povoação de Cujó, como freguesia INDEPENDÊNCIA (1949-1951) da FREGUESIA DE S. JOANINHO, (dita erradamente S. Graminho, no documento de 1904) remetendo para a concretização de um SONHO ANTIGO, mas ignorando totalmente que esse SONHO tinha deixado pegada no «DIÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS», em 1904.

E o que se diz nesse documento, no que respeita a Cujó? Eu transcrevo para melhor leitura:

«Os habitantes de Cujó, freguesia de S. Graminho (sic), concelho de Castro Daire, Diocese de Lamego, pedindo  que na mesma freguesia seja criada uma parochia, ficando assim constituída uma parochia administrativa e eclesiástica sob a denominação de Nossa Senhora da Conceição de Cujó.

Apresentada pelo senhor Deputado Marquês de Reriz, enviada à Comissão de Administração pública e negócios eclesiásticos e mandada publicar no Diário do Governo».

Aqui fica, pois, a constatação documental desse facto e o meu agradecimento aos dois amigos de Castro Verde, José Guerreiro e Fernando Maruta por se lembrarem de mim, tão só porque olharam, leram e viram o nome de CUJÓ e o associaram à minha pessoa, o que muito me honra e dignifica o nome da minha terra natal.

Numa futura edição deste meu livro, o texto de Fermando Maruta terá, necesariamente, de ser incluído. Uma forma de «FAZER HISTÓRIA COM GENTE DENTRO». E, o capitulo que trata da INDEPENCÊNCIA DA FREGUESIA bem pode manter a mesma redação, tal qual figura na página 14 da PRIMEIRA e única edição. Assim:

«Cansados das deslocações que tinham de fazer à sede da freguesia, aqunado  dos casamentos, batizados, 1ª comunhão das crianças e de outros actos que decorriam  na Igreja Matiz ou na sede da Junta, implicando registos e assentos, quantas vezes debaixo de chuva ou neve, os habitantes de Cujó que,  ainda por cima, estavam representados na Junta, o mais das vezes, na proporção de  de 2 para 1, devido ao número dos chefes de família ser superior ao de S. Joaninho, encertam o processo da independência». 

Conseguimos a INDEPENDÊNCIA CIVIL em  1949 e a  INDEPENDÊNCIA ECLESIÁSTICA, em 1951. Mas, como acabámos de ver, graças aos meus amigos de Castro Verde, esse ensejo vinha de longe. Pelo menos desde 1904

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.