MEMÓRIAS MINHAS
Creio não haver pessoa informada que ignore o nome do Dr. Christian Barnard, pioneiro no transplante de coração. Isso “aconteceu no dia 3 de dezembro de 1967. A operação teve duração de nove horas, e uma equipe composta por trinta membros”. (Wikipedia)
Pois. Só que, para além disso, para além dessa sua aventura científica na área da MEDICINA, eu também preservei na MEMÓRIA o seu nome pela marca que deixou na área da LITERATURA, coisa que não vi na Wikipedia.
Eu dava aulas de PORTUGUÊS no “EXTERNATO MARQUES AGOSTINHO”, em Lourenço Marques e, um dia, levei para as aulas um texto escrito e assinado pelo homem cujo nome corria mundo inteiro.
Aconteceu que, esse cirurgião, antes de atingir tal fama, praticou MEDICINA GERAL e, nessa situação, foi chamado a uma quinta, sita nos arredores de Joansburgo, para tratar de uma senhora que se julgava estar com uma pneumonia.
Pegou na maleta, nos farmacos indicados e, chegado lá, foi recebido pelo marido, preocupadíssimo com o estado de saúde da esposa.
Reparou que à entrada da moradia em cujo quarto a doente o esperava, estava preso um corpulento carneiro caracul, coisa que achou natural por se tratar de um casal de agricultores.
Entrou. Aplicou a medicação e não tardou a ouvir o marido: “ó senhor Dr., será que isso resulta? Olhe que por aqui, estas doenças não se tratam com mezinhas da farmácia. Viu aquele carneiro preso à porta? Caso o remédio não resulte, matamos o animal, tiramos-lhe a pele e envolvemos a minha mulher dentro. Tem sido remédio santo”.
Que sim senhor! Que sim senhor! Se o remédio não resultasse, seguiriam a tradição e matar-se-ia o carneiro.
Feito o diagnóstico e aplicada a medicação, o médico resolveu ficar a noite toda junto da doente. Constatou que ela ia reagindo positivamente aos farmacos e pensou que, daquela vez, a ciência médica iria sobrepor-se à mezinha local. Mas não sem ouvir insistentemente o preocupadíssimo lavrador: “veja lá, se vir que tal, matamos o carneiro”.
Que sim senhor, que sim senhor, mas havia que dar tempo ao tempo e estar atentos aos efeitos dos medicamentos.
E deram tempo. Senhor do seu ofício, passou a noite de vela junto à doente e, já de manhã, ciente da missão cumprida com sucesso, sossegou o marido, que estava tudo bem, e despediu-se.
Ao sair porta fora, reparou que o carneiro permanecia ali preso. E foi então que o Dr. Barnard, aquele que viria a ser famoso cirurgião no campo da MEDICINA, escreveu aquela sua experiência de vida num CONTO marcadamente literário, conto que, mais palavra, menos palavra, despido, seguramente, da arte com que foi escrito, eu aqui reconto, com o magistral remate poético/literário:
- Salvei uma vida!