Pois é. O investigador que se preze, no sentido de relacionar o passado com o presente, as mudanças penduradas no fio do tempo, não pode dispensar os conhecimentos de todas as pessoas idosas que possa interrogar e também os PROFISSIONAIS DE TAXI. Estes últimos lidam com todas as classes sociais e, seja em repentinos momentos de aperto e de dor, ou seja em momentos de ansioso e alongado prazer, são um repositório de segredos, sempre ciosos de preservá-los e não contar a terceiros o destino dos seus clientes, sobretudo aqueles que se reportam aos «consultórios» de bruxas, curandeiros, endireitas e/ou outros sítios onde eles, clientes, buscam que se endireite o que lhe dá prazer e vida.
Ora, foi numa dessas muitas conversas que, há anos, venho tendo com o senhor “taxista” de profissão, AMÉRICO FRANCISCO, natural de Moledo, que vim ao conhecimento e posse da peça de bronze que ilustra este meu apontamento e é referida no vídeo que anexo em rodapé. Ela chegou até ele através da esposa, MARIA DO CARMO PEREIRA FRANCISCO, que, prestando serviço nas casas da família ALMEIDA PINTO, a recebeu por oferta e reconhecimento dos serviços ali prestados.
Nessa peça figura o MONOGRAMA que de AUGUSTO DE ALMEIDA PINTO, um cidadão republicano ligado aos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CASTRO DAIRE e, anos seguidos, editor de o jornal “O Castrense” nascido após a queda da MONARQUIA e o implantação da REPÚBLICA.
Foi pai da Dona MARIA ADELINA DE ALMEIDA MACHADO, a mesma que foi para mim uma preciosa fonte de informação oral sobre os primeiros tempos da REPÚBLICA, tal qual digo no livro, feito “pro bono” - “Implantação da República em Castro Daire I” - editado pela Município. A mesma senhora que, pertencendo eu à DIREÇÃO DA ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CASTRO DAIRE, aquando da inauguração da ampliação do QUARTEL, em 28 de junho de 1992, me solicitou a redação de uma carta, dirigida posteriormente à Direção, onde ficasse claro o seu desejo de oferecer à INSTITUIÇÃO duas peças, em ouro, a saber:
“1 - Um alfinete de gravata, em ouro, considerada uma obra de arte de grande valor e significado para os Bombeiros, devido não só ao material em que foi manufaturado, mas também pelos elementos que o compõem: capacete, machadinhas, escadas e cordas. Foi herança de seu pai, Augusto de Almeida Pinto, e pertença do seu avô, Albano de Almeida Pinto, que fez parte da Corporação dos Bombeiros Voluntários do Porto”.
2 - Uma ferradura e cravos em miniatura, também em ouro”. (ob. cit. pp.203)
Foi seu desejo que tais peças passassem a fazer parte do património dessa Associação, preservadas com todo o zelo e, eventualmente, passassem a integrar o futuro museu da instituição, com a indicação da sua proveniência.
E foi assim que ficou registado nas respetivas ACTAS e delas foi transcrito, com ilustração, para o meu livro “Castro Daire, Os Nossos Bombeiros, A Nossa Música”, editado pelo Município, em 2005, escrito por mim, também “pro bono”. E vem mesmo a propósito perguntar, onde param essas peças de ouro? E onde para o livro?
Semelhantemente, também “pro bono”, editado pelo Município escrevi o livro “Castro Daire, Imprensa Local, 1890-1960”, que se reporta à saga do prelo “ALBION”, saído da FUNDIÇÃO DE MASSARELOS, PORTO, EM 1855 (peça que, depois de restaurada sob a minha orientação técnica, integra o recheio do Museu Municipal, sem que os vereadores do Pelouro tenham feito disso a divulgação merecida) prelo no qual viriam a ser impressos os jornais que chegaram até mim (por oferta) depois de, anos seguidos integraram o espólio histórico do senhor JÚLIO ALEXANDRE PINTO.
A ele e às demais pessoas que se dispuseram a transmitir-me os seus conhecimentos e documentos históricos que estavam na sua posse ligados à nossa terra, agradeci em tempo oportuno, por forma a consubstanciar a expressão que uso frequentemente: HISTÓRIA COM GENTE DENTRO.
O mesmo sucede agora com o meu amigo taxista AMÉRICO FRANCISCO, que, de pronto, falando com a esposa, me cederam a peça de BRONZE a que aludi acima. Não foi preciso dizer-lhe que a “TENDA QUER-SE NA MÃO DE QUEM A ENTENDA”. E o MONOGRAMA, fundido em bronze, de AUGUSTO DE ALMEIDA PINTO, teria sentido junto dos jornais de que este republicano, democrático confesso, foi editor anos seguidos. E não tinha sentido nenhum numa QUALQUER estante de sala onde servisse de bibelô, sem qualquer significado.
Por isso aqui deixo o agradecimento e as fotos. Uma página de HISTÓRIA COM GENTE DENTRO, sem necessidade de nos deslocarmos à mítica TORRE DO TOMBO.
VEJA O VÍDEO NO LINK QUE SE SEGUE:
https://youtu.be/H7HNVkJXPts