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domingo, 01 maio 2022 15:25

GENTE DA TERRA

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HISTÓRIA COM GENTE DENTRO

Todo o investigador que, debruçado sobre a HISTÓRIA LOCAL, se não contenta com as informações contidas nos manuscritos e outros documentos guardados na TORRE DO TOMBO, ARQUIVOS PAROQUIAIS e MUNICIPAIS terá, forçosamente, de consultar as BIBLIOTECAS BÍPEDES que se prestem a dar o seu contributo ao esclarecimento do passado próximo ou longínquo, até onde as leve as suas MEMÓRIAS.

MONOGRAMA-2Pois é. O investigador que se preze, no sentido de relacionar o passado com o presente, as mudanças penduradas no fio do tempo, não pode dispensar os conhecimentos de todas as pessoas idosas que possa interrogar e também os PROFISSIONAIS DE TAXI. Estes últimos lidam com todas as classes sociais e,  seja em repentinos momentos de aperto e de dor, ou seja em momentos de ansioso e alongado prazer, são um repositório de segredos, sempre ciosos de preservá-los e não contar a terceiros o destino dos seus clientes, sobretudo aqueles que se reportam aos «consultórios» de bruxas, curandeiros, endireitas e/ou outros sítios onde eles, clientes, buscam que se endireite o que lhe dá prazer e vida.

Ora, foi numa dessas muitas conversas que, há anos, venho tendo com o senhor “taxista” de profissão, AMÉRICO FRANCISCO, natural de Moledo, que vim ao conhecimento e posse da peça de bronze que ilustra este meu apontamento e é referida no vídeo que anexo em rodapé. Ela chegou até ele através da esposa, MARIA DO CARMO PEREIRA FRANCISCO, que, prestando serviço nas casas da família ALMEIDA PINTO, a recebeu por oferta e reconhecimento dos serviços ali prestados.

MONOGRAMA-1Nessa peça figura o MONOGRAMA que de AUGUSTO DE ALMEIDA PINTO, um cidadão republicano ligado aos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CASTRO DAIRE e, anos seguidos, editor de o jornal “O Castrense” nascido após a queda da MONARQUIA e o implantação da REPÚBLICA.

Foi pai da Dona MARIA ADELINA DE ALMEIDA MACHADO, a mesma que foi para mim uma preciosa fonte de informação oral sobre os primeiros tempos da REPÚBLICA, tal qual digo no livro, feito “pro bono” - “Implantação da República em Castro Daire I” - editado pela Município. A mesma senhora que, pertencendo eu à DIREÇÃO DA ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CASTRO DAIRE, aquando da inauguração da ampliação do QUARTEL, em 28 de junho de 1992, me solicitou a redação de uma carta, dirigida posteriormente à Direção, onde ficasse claro o seu desejo de oferecer à INSTITUIÇÃO duas peças, em ouro, a saber:

“1 - Um alfinete de gravata, em ouro, considerada uma obra de arte de grande valor e significado para os Bombeiros, devido não só ao material em que foi manufaturado, mas também pelos elementos que o compõem: capacete, machadinhas, escadas e cordas. Foi herança de seu pai, Augusto de Almeida Pinto, e pertença do seu avô, Albano de Almeida Pinto, que fez parte da Corporação dos Bombeiros Voluntários do Porto”.

2 - Uma ferradura e cravos em miniatura, também em ouro”. (ob. cit. pp.203)

ESTANTEFoi seu desejo que tais peças passassem a fazer parte do património dessa Associação, preservadas com todo o zelo e, eventualmente, passassem a integrar o futuro museu da instituição, com a indicação da sua proveniência.

E foi assim que ficou registado nas respetivas ACTAS e delas foi transcrito, com ilustração, para o meu livro “Castro Daire, Os Nossos Bombeiros, A Nossa Música”, editado pelo Município, em 2005, escrito por mim, também “pro bono”. E vem mesmo a propósito perguntar, onde param essas peças de ouro? E onde para o livro?

Semelhantemente, também “pro bono”, editado pelo Município escrevi o livro “Castro Daire, Imprensa Local, 1890-1960”, que se reporta à saga do preloALBION”, saído da FUNDIÇÃO DE MASSARELOS, PORTO, EM 1855 (peça que, depois de restaurada sob a minha orientação técnica, integra o recheio do Museu Municipal, sem que os vereadores do Pelouro tenham feito disso a divulgação merecida) prelo no qual viriam a ser impressos os jornais que chegaram até mim (por oferta) depois de, anos seguidos integraram o espólio histórico do senhor JÚLIO ALEXANDRE PINTO.

A ele e às demais pessoas que se dispuseram a transmitir-me os seus conhecimentos e documentos históricos que estavam na sua posse ligados à nossa terra,  agradeci em tempo oportuno, por forma a consubstanciar a expressão que uso frequentemente: HISTÓRIA COM GENTE DENTRO.

O mesmo sucede agora com o meu amigo taxista AMÉRICO FRANCISCO, que, de pronto, falando com a esposa, me cederam a peça de BRONZE a que aludi acima. Não foi preciso dizer-lhe que a “TENDA QUER-SE NA MÃO DE QUEM A ENTENDA”. E o MONOGRAMA, fundido em bronze, de AUGUSTO DE ALMEIDA PINTO, teria sentido junto dos jornais de que este republicano, democrático confesso, foi editor anos seguidos. E não tinha sentido nenhum numa QUALQUER estante de sala onde servisse de bibelô, sem qualquer significado.

Por isso aqui deixo o agradecimento e as fotos. Uma página de HISTÓRIA COM GENTE DENTRO, sem necessidade de nos deslocarmos à mítica TORRE DO TOMBO.

VEJA O VÍDEO NO LINK QUE SE SEGUE:

https://youtu.be/H7HNVkJXPts

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.