Trilhos Serranos

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sexta, 06 setembro 2013 08:41

AUTÁRQUICAS 2009 (2)

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A COERÊNCIA 

1 - Em tempo de campanha eleitoral convém ter memória, para lembrar aos candidatos aquilo de que falaram, do que prometeram, do que cumpriram e não cumpriram. E quando memória se não tem, não há outro remédio senão recorrer-se a documentos, artigos e crónicas publicadas ao tempo e assim sermos fieis às ideias e aos factos que se prestam a comentar quatro anos depois. Dito isto, à semelhança do que já fiz trazendo a terreiro a serra do Montemuro como bandeira turística partidária de todos os partidos concorrentes às cadeiras municipais, hoje transcrevo do meu velho site para este novo (actual e activo) parte da minha primeira crónica que teve por assunto principal o PROGRAMA do MIC, que no acto da sua apresentação, no Largo do Coreto, cujo apresentador  sintetizou os seus objectivos colocados a seguir entre aspas.

2 - «Como linhas de orientação disponíveis para os protagonizar melhorar, nunca as consideraremos como propriedade exclusiva, preferindo que sejam consideradas como possíveis soluções de desenvolvimento, sempre prontos para as enriquecer, protagonizando ou não, respeitando a vontade dos castrenses, mas determinados na sua discussão, sem estigmas de símbolos partidários, nem de filosofias políticas, mas de espírito aberto sem prol do nosso desenvolvimento».(fim de citação)

3 - Ora cá está uma ideia e uma postura dignas de sublinhar. Dizem querer exercer o poder de «espírito aberto em prol do nosso desenvolvimento», independentemente das cores e dos «símbolos partidários». Ali confessam não considerar o Programa que apresentam um trabalho acabado, nem «propriedade exclusiva» mas sim um conjunto de «possíveis soluções» e «sempre prontos para as enriquecer».

Pois bem, assim sendo e porque no Programa o MIC destinou um capítulo dedicado ao TURISMO, cabe-me, como cidadão, dizer o que penso sobre o assunto, nomeadamente perguntar se é pertinente alardear as potencialidades turísticas do concelho, retirando do centro da vila os transportes turísticos. Mas vamos por partes: 

PRIMEIRO: refiro-me às tão questionadas obras de «alargamento das ruas e estreitamento dos passeios»,  retirando do centro da vila o trânsito turístico, em prejuízo evidente da actividade comercial e da vida urbanas. Onde estão as carreiras a despejar gente junto da Praça de Táxis ou dos Bombeiros, animando a vila e levando dela imagens e recordações, como se via antes das obras feitas?

agrafos tombadosSEGUNDO: colocação daqueles «pilarecos», tipo «ganchos de cabelo», espetados ao logo dos passeios e quase sempre inclinados ou tombados, forçados a perder o prumo pelos constantes empurrões dos carros que, à falta espaço para manobra e circulação, fazem deles uma permanente fonte de receita para o fabricante e uma fonte permanente de despesa e de mão-de-obra inútil para o Município. (ver foto 1)

TERCEIRO: a colocação no cimo dos montes de monóculos de longo alcance, nos sítios ditos Miradouros, certamente com o objectivo de promover o nosso turismo paisagístico, arredada que está da mente dos responsáveis pela sua colocação o conceito de «turismo cultural», hoje tão em voga em Portugal inteiro e nos concelhos que  procuram fazer dele um factor de desenvolvimento, progresso e conhecimento.

É o paradoxo dos paradoxos. Retira-se aos turistas a possibilidade de circularem pelo burgo vilão e depois  proporciona-se-lhes verem «Castro Daire por um canudo», à distância.
QUARTO: Acontece que tais «mostrengos», espalhados pela serra fora a céu aberto, sujeitos às chuvas, gelos e calores (ver foto 2) já não funcionam. Cetos e Almofala são exemplo disso. As chuvas tiraram-lhe o pio, quer dizer, a capacidade de «ver». 

O que foi colocado na encosta da Vitoreira, virado para a vila, desapareceu. Ficou lá a haste espetada no chão. O resto voou. Foi roubado? Ou foi para conserto, também avariado? 

Deve perguntar-se, pois: como é que, numa região pluviosa como a nossa,  tais aparelhos foram colocados a céu aberto e, mesmo ao lado, se constrói um coberto, tipo canastro, para proteger um «placar» destinado a informações que nunca lá foram postas? 

MiradoruroCanastro Miradouros e monóculos, a partir dos quais só se vêem montes e ravinas, pinheiros e sargaços, nada têm a ver com o «turismo cultural» que engloba muito mais do que beleza paisagística, o foguetório das romarias, o colorido dos andores e as cantigas à desgarrada. 

Até quando se gastam os dinheiros públicos em coisas inúteis? A quem se podem assacar as responsabilidades disso?

Bem gostava de saber o que o MIC pensa ou vai fazer sobre tudo isto. E já que estamos em maré  de «avaliação de desempenho», mesmo correndo o risco de sofrer as consequências da asfixia que o poder vigente impõe a quem dele discorda (sei do que falo, e digo que este site não se cala a troco de páginas de publicidade) será que não me assiste o direito de  ilustrar com fotos as provas dadas pelo nosso Executivo Municipal nesta matéria, fazendo  «orelhas moucas» às críticas e às evidências?

EM TEMPO

 Já depois desta crónica ter sido posta aqui, neste site, li, no «Notícias de Castro Daire», de 24 de Setembro de 2009, o discurso do senhor Fernando Carneiro, feito no acto da apresentação das listas do PS às mesmas eleições autárquicas, que ele encabeça para o Executivo Municipal. Depois de ler e registar que nas preocupações dos candidatos do PS estavam as «obras de requalificação» feitas no centro da vila, visando «trazer de novo ao centro da vila os autocarros de turismo e as careiras de horário», bem como a referência à «pedra lapidada» ali enterrada, erro que se repetiu na «Rua Cândido dos Reis», sou levado a reconhecer que as perguntas feitas acima por mim ao MIC, já encontraram neste discurso político, uma resposta às minhas preocupações de cidadão. E ainda bem que assim é. Felicito os candidatos por isso. Mas continuo à espera de saber o que pensam os socialistas e os demais candidatas à gestão do Município que resposta dão ao paradoxo de se ter tirado da vila as tais «autocarros turísticos e carreiras de horário» e, num pretenso projecto de desenvolvimento turístico, se terem espalhado aqueles monóculos de longo alcance pela serra fora, equipamentos que estão no estado que acima demonstrei. Roubados, avariados, inaptos, inúteis, pode dizer que, colocados «serra fora», sem abrigo,  foi  dinheiro dos contribuintes atirado «porta fora». Quem paga tudo isto?

Abílio/2009


4 -  A  PERGUNTA que se impõe, neste ano de 2013, ano em que o POVO vai novamente às urnas novamente é a seguinte: eles cumpriram o que prometeram? 
Este texto, alojado neste meu site, vai ter remissão para a minha página do Facebook e  as respostas à pergunta poderão ser ali postadas com toda a pertinência, se os meus amigos assim o entenderem.

Abílio/Setembro/2013

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.