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sábado, 19 março 2022 18:23

ESTAR NAS BORDAS NÃO É ESTAR LÁ DENTRO

Escrito por 
EQUÍVOCOS

Nos meus tempos de trabalhador-estudante, depois das sabatinas que fazíamos da matéria estudada antes de cada exame, havia sempre tempo e espaço para umas tantas anedotas que ajudassem a aliviar a pressão a que estávamos submitidos. 


Por nós era sabido, lá nas costas do Índico, que éramos ensinados num estabalecimento de ensino, pelos nossos professores, que íamos fazer os exames a outro estabelecimento de ensino com outros professores e responder a perguntas feitas em Lisboa pelo Ministério da Educação. O que equivale a dizer que tínhamos de saber a matéria dos PROGRAMAS válidos oficialmente do Minho a Timor e quem não dominasse a matéria teria de repetir no ano seguinte, se mantivesse o alento e o talento de prosseguir nos ESTUDOS.


E nesse contexto de trabalho-estudo, as ANEDOTAS com carga humurística vinham a calhar e eram TÓNICOS  de marca. Uma de que me lembro, vem a propósito dos tempos que vivemos, bem pouco propícios a risadas. 


Então é assim:

Um jovem aldeão, sem educação sexual (assunto tabu na sociedade de antanho) foi confessar-se e disse ao cura que se tinha iniciado sexualmente com a namorada, mas que “tinha sido só nas bordas, não tinha ido lá dentro”. 

Face à informação, o confessor admoestou: “isso é um pecado muito grave, vou absolver-te, mas tens de ir deixar uma moeda de 10 mil reis na caixinha das esmolas”.

“Mas, ó senhor padre, foi só nas bordas, não foi lá dentro”. 

“É o mesmo pecado, é a mesma coisa”.

Teimarem, o jovem a insistir que tinha “sido só nas bordas”, solicitando atenuante, e o clérigo a repetir que “era a mesma coisa”.

O jovem, vendo que não surtia efeitos a sua argumentação, ele estava de joelhos,  levantou-se e dirigiu-se à caixinha das esmolas, enquanto o confessor lhe seguia os passos a certificar-se do cumprimento da penitência.

Chegado lá retirou da algibeira uma moeda e começou a rodá-la nas bordas da ranhura da caixinha, onde se metem as esmolas. O confessor vendo isso, dizia lá do confessionário: “mete lá dentro, lá dentro” e o jovem rodava, rodava, mas não introduzia a moeda.


O confessor repetia “lá dentro, lá dentro”  e face à insistente repetição, o jevem respondeu convito: “não, não, senhor padre, é a mesma coisa” e saiu porta fora.


Os membros/as desta página - LITERATURA E POESIA - são pessoas inteligentes, estudadas, vividas e sabedoras, por isso dispensam que eu lhes explique por que razão me veio à lembrança esta ANEDOTA.


Por mim sei bem, que andar pelas BORDAS não é estar lá DENTRO.

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.