“Este texto foi para mim, hoje mesmo, um COMPLEMENTO do PEQUENO ALMOÇO. É que já é muito raro, direi mesmo RARÍSSIMO, ver navegar, nestes oceanos digitais, quem dê provas de ter lido a ODISSEIA. Acho que, por momentos, me tornei o CÃO DE PAVLOV, ninguém viu, pois tinha a boca e o nariz tapados com a máscara ligada à PANDEMIA corrente”.
E logo depois, acrescentei:
“Recentemente, baseado no léxico camponês não dicionarizado, sem pretensão de bulir com as estabelecidas designações de Lineu, discorri, em vídeo alojado no Youtube, sobre os nomes “carvalho”, “carvalha” e “marinheira”.
E, vejam só, o texto que aqui deixou João Valente sobre Ulisses e seus companheiros de narrativa trouxeram-me à lembrança uma “estória” que corria “oralmente” por cafés, tavernas, esplanadas e não em tertúlias académicas, mas que eu associei, imediatamente, à saga do herói grego e seus companheiros.
O caso foi que um “marítimo” cansado de passar anos agarrado ao remo de um barco, resolveu virar costas ao mar e seguir destino oposto. Subiu encostas, desceu ravinas, atravessou prados e tinha por objetivo assentar tenda num sítio onde ninguém conhecesse o mar.
Levava às costas um “remo do barco” e perguntava a todas as pessoas que consigo se cruzavam:
- Sabe o que é isto?
Se lhe respondiam que era um remo, seguia em frente. E assim, pedibus calcantibus, andou quilómetros, calcorreando distâncias por carreiros, veredas, caminhos e trilhos, do litoral para o interior. Até que um dia, chegou a um lugarejo perdido no cu do mundo e perguntou:
- Sabe o aue é isto?
Que sim. Sabia sim senhor.
- Então não houvera de saber, isso é a “pá de um forno”, sem ela não podiamos comer este pão. É servido?
Estava a comer broa com chouriço, ajudado por um canivete.
O ex-marítimo, se calhar ex-companheiro de ULISSES, agradeceu, confraternizou e escolheu viver naquela povoação até ao fim dos seus dias.
Nota 1: os meus amigos, com assento nesta página de “LITERARURA E POESIA” escusam cansar-se à procura da identificação do autor desta “estória”. Não encontrarão em parte alguma, tal qual aqui a deixo contada por este lenhador da floresta das letras que, de podão em punho, não desiste de abrir clareiras de conhecimento, entretenimento, humor e gozo, usando a palavra escrita e falada.
NOTA 2- Dias depois de eu ter alojado na página do Facebook, citada supra, a «estoria do «marítimo» cansado do mar, João Valente, seguramente pessoa lida e culta, que teve a gentileza de a ler, veio dar o seguinte e respeitoso esclarecimento:
JOÃO VALENTE: «Essa história é baseada nas palavras do Tebano Tirésias, a Ulisses, quando este desceu ao Hades (Canto XI da Odisseia de Homero, 120 a 130): « deverás partir com um remo de bom manejo, ! até que chegues junto daqueles que o mar não conhecem,/homens que na comida não misturam sal,/nem conhecem das naus os rebordos vermelhos,/nem os remos de bom manejo, que às naus dão asas./E dar-te-ei um sinal claro, que não te escapará:/ quando outro viandante te encontrar e te disser:/ que ao belo ombro levas uma pá de joeirar,/então deverás fixar no chão o remo de bom manejo, oferecendo belos sacrifício ao soberano Posídon...»
Ao qual eu respondi:
ABÍLIO PEREIRA DE CARVALHO: «Bem lembrado, amigo, os meus agradecimentos pela leitura e esclarecimento. Pois podia lá ser outro, senão ele? Eu bem quis dar cunho próprio à narrativa, mas o Facebook também é habitado por gente lida e sábia, como acaba de mostrar. Bem-vindo ao mar.»
Face ao que se me impõe colocar aqui a foto integral do texto de Homero, relativo ao assunto, por via das dúvidas de quem anda longe da costa e/ou não navega nas águas clássicas. E devo acrescentar que não remeti logo para a fonte, por ter ouvido a «estória» da boca de um «marírimo» autêntico, aquela que contei à minha maneira - cunho próprio - sabendo que ele nunca tinha lido a ODISSEIA. A «estória» era, portanto e efectivamente «INFLUÊNCIA DA CULTUA CLÁSSINA NA LITERATURA PORTUGUESA», no caso presente «LITERATURA ORAL».