Sublinhou o prazer e a liberdade que podíamos usufruir conduzindo-o, mas também a responsabilidade que isso acarretava, pois, perdido o equilíbrio, sem apelo e, às vezes, com muito agravo, só o chão nos esperava, ao comprido ou enrolados. Na época não era obrigatório o uso do capacete.
Falou-nos dos principais elementos constitutivos da máquina - era uma BSA 500 - e demorou-se na explicação dos travões dianteiros e traseiros, a saber:
1 - O travão traseiro era utilizado habitualmente, na estrada, aquele que devíamos usar quando tal fosse necessário, nomeadamente antes das curvas, abrandando a velocidade suficientemente para curvarmos em segurança, ou em qualquer situação de travagem emergente, face a um obstáculo inesperado.
2 - O travão dianteiro destinava-se haitualmente aos movimentos do veículo parado, necessários ao estacionamento, arrumação e movimentação para montagem e desmontagem, mas também de TRAVAGEM numa emergência, secundando senpre a tarefa do travão traseiro e nunca usado antes dele, sob pena de darmos pinote certo, devido à força da gravidade.
E acrescentava que, quem sabia isso muito bem, eram os motociclistas experientes que gostavam de “fazer cavalinhos” e outras piruetas que o veículo de duas rodas permite. E só depois dessas demoradas preleções é que começaram as lições de condução na estrada.
Mais tarde, quando adquiri a minha primeira mota, o LIVRO DE INSTRUÇÕES replicava as informações dadas pelo instrutor e, confirmei, na prática, que havia boas razões técnicas e aerodinâmicas para assim procedermos. Com 82 anos de vida e milhares de quilómetros rodados, ainda hoje levo a sério os seus ensinamentos e devo dizer que não me tenho dado mal com eles.
Vem isto a propósito de uma TRAVAGEM FORÇADA que, no dia 23-06-2021, tive de fazer numa rua da vila. E tal foi ela que a impressão digital dos pneus deixada no alcatrão, tal qual se vê nas fotos anexas, é bem elucidativa da queda e do atropelamento que evitei.
E, devo acrescentar aue não fora a experiência advinda de muitos anos em cima de duas rodas, não fora o sangue frio que mantenho aos 82 anos de idade, e não foram os ensinamentos aue, em 1961, o instrutor transmitiu a todos os instruendos que se propunham tirar a CARTA DE MOTA, acrescidos da experiência adquirida posteriormente na prática, bem podia ter acontecido o pior, isto é, terem ficado estendidos na estrada dois velhinhos: um, que a atravessou a estrada sem olhar, julgando-se dono do mundo, e outro que, seguindo em velocidade urbana, outro remédio não teve senão meter travões ao fundo e evitar o acidente.
O resto fica para os meus amigos comentarem, pois não faltará quem tenha passado por iguais situações e diga que eu sou um “sortudo”. Se disserem acertam em cheio, pois SORTUDO me considero, de facto, até hoje.
E não batam com os nós dos dedos na madeira, ou façam «cruzes canhoto», pois canhoto sou e rio-me sempre, quando ouço as pessoas dizerem que para se ter sorte é preciso «entrar com o pé direito».
Claro que isso advém da cultura catequética que nos ensinarem em meninos, aquela que põe os «bons» sentados à mão «destra de Deus» e os «maus» à sua «mão sinistra».
Sabem disso?