CIVISMO
Creio não haver pessoa minimamente culta e bem informada e/ou formada que ignore a letra e a música do poeta/cantor, cujo nome dispensa apresentação.
E vem isto a propósito do texto que alojei há dias no meu mural do Facebook, repescado do meu site TRILHOS SERRANOS onde o publiquei em 2018. Falava, entre outras coisas, da PESTE que, em 1680 assolou a região de Castro Verde e levou os autarcas a tomar medidas no sentido de evitar o contágio entre as pessoas. Assim:
«Os oficiais da Câmara (isto é, o EXECUTIVO MUNICIPAL, como diríamos hoje) reunidos em vereação, escolheram António Barradas de Bairos (sic) para guarda-mor da saúde a fim de este providenciar que as gentes da área não contactassem com eventuais passageiros de fora dela, devido à peste que teria surgido "em reinos estranhos para a parte de Castela». Poderia, para o efeito, fazer três «bandeiras» nas partes «costumadas», incluindo nelas a «gente do termo da légua a dentro» por o problema dizer respeito «a todos em geral como bem comum» (Lv. da Câmara, 1680).
Aconteceu isto em 24 de Junho. Exatamente um mês depois, 24-01-1680, novamente reunidos para protegeram os moradores da vila e termo dos males do contágio «por haver notícias certas de que na cidade de Cádis e por toda a Santa Maria e outros mais lugares do reino de Castela continuam os ditos males ( ... ) e porquanto esta vila tem poucos moradores ( ...) mandaram que viessem a guardar todos os moradores das Piçarras, Monte da Ameixa, Furamatos, Horta de Bom Nome, Filipeja, Ferragudo, Cacchamorrinha, Monte de José Pires, que chamam Monte Novo, Cabeças de Cima, o Montinho Bernardo, Ronceiro, Vale do Gonçalo, Perdigoa, Monte da Chaminé, Cabeceiras, Álimo, Longos, Monte da Chaminé de Domingos Mestre, Lagoa do Sarilho, Almoleias de Baixo, Caldeireira, Garrochal, Serro do Lírio e daí todos os moradores que estiverem das confrontações para dentro».
Tudo isto na sequência de outros posts meus acerca de certos figurões que, declarada a PANDEMIA do CORONAVIRUS, apesar das advertências da Direção Geral de Saúde, continuavam por aí a cirandar na vila, a abancar nos cafés e restaurantes, sem máscara, ´mostrando assim o seu grau de civismo face aos restantes membros da comunidade.
E terminava esta minha postagem, que esse meu texto era o produto das investigações levadas a cabo em Castro Verde, Alentejo, impossíveis de levar aqui, em Castro Daire, no meu concelho de origem. Que mais não fosse, só por isso, para levar os castrenses a interrogarem-se sobre essa IMPOSSIBILIDADE, valia a pena publicá-lo neste MURAL, se tivessem paciência, de me ler, pois certo era que mais PACIÊNCIA tive eu a escrevê-lo.
Dito isto avanço agora algumas pistas da impossibilidade de poder levar a cabo investigação idêntica no meu concelho de origem. Chegado aqui, corri em busca de «manuscritos» onde pudesse espiolhar a história local, como fiz em Castro Verde, a começar pela tradução do FORAL dado por D. Manuel. Trabalho meu que esteve na base do texto que deu corpo à edição comemorativa dos 500 anos desse foral, editado pelo município de Castro Verde, cujo mérito me foi atribuído na introdução e vejo no exemplar que me chegou como oferta.
Aqui, em Castro Daire, nem vê-lo, nem cheirá-lo. E quem diz o FORAL diz outra documentação que não foi preservada. Para quê?
A questão da HISTÓRIA e da CULTURA é genética. Nenhum dos livros editados pela Câmara, como também já denunciei, está á venda nas livrarias de Castro Daire e sem CULTURA (institucional ou familiar) como pode haver CIVISMO?
Servem para exemplo os recortes do jornal «Echos do Paiva» sobre as sessões de cinema que tiveram início nesse ano da PNEUMÓNICA. Ora leiam e verão que tem sentido o título em epígrafe: «eu vim de longe…de muito longe…e o que eu andei para saqui chegar».