CAÇADA E CAGADA MANTINAIS
“Contava-se haver um cidadão que, habituado, desde pequeno, a ir, manhã cedo, fazer as necessidades fisiológicas ao campo, nos arredores da vila onde morava, por não haver saneamento básico, manteve esse hábito na vida adulta, mesmo depois dessa regalia higiénica de civilização ter chegado ao burgo vilão.
Numa estreita relação com a natureza durante tantos anos, sentia que era, ali, no campo, e naquela posição de cócoras - à pai Adão - que lhe funcionavam melhor os intestinos e desse hábito não abdicava, chovesse, fizesse frio ou calor.
Aconteceu que, estando um dia nessa posição a aliviar-se, passou-lhe pela frente uma lebre a jeito de levar um tiro e ser cozida com feijões brancos, hábito costumeiro lá na terra. Correu a comprar uma espingarda e passou a tê-la por campanheira todas as manhãs que, necessariamente, ia ao campo.
Era o tempo em que a caça abundava e não se fazia rogada a passear-se nas bordas dos montes, aldeias e vilas. E, por isso, não foi uma vez, nem duas que, mesmo de cócoras, fez pontaria ao desprevenido alvo que, de supetão, lhe aparecia pela frente, fosse lebre, coelho ou perdiz. Era “tiro e queda”. De seguida, duplamente regalado, regressava a casa e levava a peça que teve a pouca sorte de passar no lugar errado, em tempo errado.
Apesar deste tipo de caçada furtiva, caça a escassear a olhos vistos, tornou-se, com o tempo, um defensor acérrimo das espécies venatórias em vias de extinção. E no seu rol de proteção entrava a ABETARDA. Só que o diabo tece-as.
Estava ele um dia de calças na mão, lá, nos limites da vila, naquela postura a seu jeito e gosto, quando se viu repentinamente assediado por um macho dessa espécie, asas abertas, pescoço esticado, a rodopiar à sua volta, cujos intentos eram claros. Não conseguindo afastá-lo com gestos e berros, com as calças em baixo a tolher-lhe os movimentos, botou mão à espingarda e, à queima roupa, foi “tiro e queda”. Era uma vez uma ABETARDA.
Devido ao peso e ao volume, deixou ficar a peça no sítio, mas chegado à vila contou a um amigo. Ele que fosse buscá-la e cozinhá-la como entendesse.
Que sim, senhor. Que iria. Mas fez-lhe ver a sua estranheza por ele ter praticado aquele acto, sabido que era o alarde que fazia em defensa das espécies em vias de extinção.
Pois, é verdade. Mas só fiz isso porque foi a única forma de lhe travar a intenção. Vou ao mato porque me sabe bem fazer sair de mim aquilo que não me faz falta e não para deixar entrar em mim a porra do bicho que me confundiu com uma fêmea”.
Pensei que era peta. Mas quando vi no Youtube um vídeo em que um burro atacou o dono de calças em baixo...lembrei-me da “estória” e aqui a deixo pelo preço que ma venderam. Com uma advertência: passei a dar-lhe algum crédito e nenhum ao vídeo que julgo tratar-se uma montagem, pois, antes deste, já tinha visto outro em que o “cioso” assediador do hortelão era outro animal.