PRIMEIRA PARTE
«TARDE E FORA DE HORAS, OS REPUBLICANOS TOCAM A REUNIR
E estando as coisas neste pé, seja a nível nacional, seja a nível local, era preciso animar as hostes republicanas em Castro Daire. Assim, «O Castrense», de 18 de Setembro de 1927, enche a primeira página e algumas outras reportando-se a uma festa da «União dos Republicanos» (...) uma festa que decorreu com elevação e entusiasmo».
Aconteceu na quarta-feira anterior à dada de saída do jornal e o articulista diz que a própria natureza, que tinha andado tão agreste, se quis associar ao evento com «sol ligeiramente picante, como convém para uma festa que vai ser feita à beira rio».
Os ilustres convidados chegaram em automóveis e pelas 15 horas marcharam para o «Poço dos Molgos» na margem direita do Paiva, a menos de um quilómetro desta vila (…) os pescadores já havia horas que percorriam o rio na caça ao peixe delicioso. O Paiva portou-se bem e deu tal abundância de peixe que excedeu em muito as necessidades das dezenas de pessoas que se encontravam junto dele. «O Paiva também é republicano e quis ser gentil com os seus amigos».
Ali conviveram figuras gradas da República como o tenente Coronel de Engenharia João Tamagnini Barbosa, antigo deputado e antigo ministro e presidente do Ministério; o Dr. António Paiva Gomes, antigo ministro e deputado por este círculo; Dr. Afonso de Melo, Juiz da Relação, antigo ministro e também deputado por este círculo, vogal do diretório do partido Republicano nacionalista, com o seu filho estudante de direito; Dr. Francisco Cruz, antigo deputado nacionalista e Dr. Marques Loureiro, antigo deputado nacionalista; Dr. Elísio Cardoso Pessoa, que foi Governador Civil de Viseu, com o Governo do Dr. Álvaro de Castro; o Padre João Guerra, abade de Vila Cova, nacionalista e ainda os «nossos conterrâneos, todos republicanos do Partido Democrático, do Partido Nacionalista, ou sem filiação partidária: Exmos. senhores Aires Pinto Marcelino; Dr. Alfredo Pereira dos Santos, Alfredo Rodrigues Ferreira; Dr. Amadeu F. poças e filho; Aarão Figueiredo Simões Oliveira e filhos; Dr. Bernardo Antunes da Silva; Gastão Maria da Fonseca e filho; Dr. José Baptista de Lacerda; José Maria Ferreira do Souto; Dr. José Mário de Oliveira Baptista. Exma. esposa e filhos; Dr. Manuel Carlos Cerdeira e filhos; Manuel Ribeiro Seixas e filho; Dr. Pio Cerdeira de Oliveira Figueiredo e Exma. esposa.
Eram ao todo mais de 40 pessoas, afora o numeroso pessoal empregado na apanha do peixe, transporte de víveres, etc.».
A «caldeirada», que foi feita ali mesmo, ficou a cargo do senhor Dr. Francisco Cruz «que é um hábil cozinheiro e excelente cavaqueador e bom amigo».
Muita gente ajudou a descascar batatas e prato feito e comigo coube ao mesmo cozinheiro abrir a sessão dos discursos.
«Tendo já feito vários brindes com «tinto da região foi o primeiro a falar. Ele conhecia o meio em que estava e a sua alma de republicano tinha de se expandir e expandiu-se com uma sinceridade impressionante, com palavras cheias de calor e de poesia (…) fez um ataque decidido aos monárquicos pela deslealdade dos seus processos de sempre e pela falta de autoridade que têm para censurarem os republicanos (…) fez votos para o restabelecimento da normalidade constitucional com uma república em que cada um ocupe o lugar a que os seus merecimentos lhe derem direito».
E seguiram-se, no uso da palavra, os Dr. José Mário de Oliveira Baptista, o Dr. Marques Loureiro, Dr. Afonso de Melo, Dr. Elísio Cardoso Pessoa, Dr. António Paiva Gomes, o tenente-coronel Tamagnini Barbosa, o Dr. Pio Cerdeira de Oliveira Figueiredo e por fim, o Dr. Amadeu F. Poças que afirmou a «sua solidariedade com os republicanos, fazendo referência às sombras da noite, que havia hora tinham caído já sobre as nossas cabeças, dizendo que com o belo dia que ali se passou a monarquia morreu também e que naquela ocasião ficava definitivamente enterrada no «Poço dos Molgos», tendo contudo a sorte de lhe não faltar um padre para rezar o «de profundis». (“O Castrense”, nº 593 de 18 de Setembro de 1927).
E assim terminou aquela festa, ali, no Poço dos Molgos, com vivas à República. Mas o eco da «caldeirada», onde se juntaram todos os republicanos desavindos e divididos em partidos, não se ficou pelos recôncavos do rio Paiva. É isso que inferimos do artigo publicado em «O Castrense», de 25 de Setembro de 1927, que se reporta ao jornal «Republica Portuguesa», de 16 de Setembro, onde se publica uma notícia dita «Correspondência de Castro Daire».
Ali se diz que, relativamente ao encontro dos republicanos no Poço dos Molgos, «justificaram a sua ausência, entre outros, os senhores Dr. Henriques Simões de Oliveira e o Dr. João Simões de Oliveira».
E «O Castrense» responde a isto, dizendo andar o correspondente mal informado, pois não houve nenhuma justificação, nem tinha que haver, pois nenhum desses senhores tinha sido convidado, já não são conhecidos «no seu e nosso concelho como não republicanos». (“O Castrense”, nº 594, de 25 de Setembro de 1927)