Mediterrâneo, mar fechado, mar dos romanos, que foi muitos, muitos anos, navegado por Fenícios, Egípcios, Gregos, Troianos e Mouros. Mar de Ulisses, por Homero cantado na Odisseia e também por outros. Ulisses, herói dez anos perdido neste mar, atraído e encantado pelo deslumbramento do canto das sereias, ondas em constante movimento. Lá longe, na linha do horizonte, o mar cola-se ao céu e ambos se fundem de amores, aromas e cores. As ondas do mar, crispadas ou mansas, azuis ou brancas, anãs ou gigantes, são páginas de sal, de história feita em geral por pescadores, aventureiros e navegantes. Mar de rotas comerciais, campo de batalhas navais, barcos afundados e náufragos à costa dados. Tantos. Tudo isso e quanto mais? Tudo escrito e dito por historiadores, poetas e escritores de alto gabarito.
Tudo, menos um poema que cante a aliança da TERRA, da ÁGUA e do AR que inclua esta criança, levada pelos pais a ver o mundo. Este pingo de gente, de calça arregaçada e pernita nua, frente à qual nitidamente o mar recua: cinco ondas ao todo com crista antes do azul profundo, lá ao fundo, a perderem-se de vista. A primeira desfaz-se a seus pés, na areia. A segunda, a terceira, quarta e quinta, ameaçando marés, avolumam-se, tomam corpo, são os cabelos crispados de Poseidon, ou Neptuno, deuses do mar assim chamados em tempos idos. Eles, esses gigantes mitológicos, esses deuses antigos que do mar tinham a governança, é uma evidência, estão ambos rendidos aos pés de uma criança, nesta praia de Valência.
Abílio Pereira de Carvalho