quarta, 30 março 2016 13:30
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
AI AMIGO (3)
Ai amigo
Tenho andado perdido
Na poesia medieval,
Nas cantigas de amigo
De escárnio e maldizer.
E insisto em escrever
Que foi a religião
Que me transportou
P'ra tempo tão remoto,
Amigo.
Não me cai no goto
Dizer-te, mas então não é
Que tendo sido eu professor
Nas escolas,
A meter história
Antiga, moderna, medieval
Clero, nobreza e povo
Nas sacolas
Dos alunos, anos seguidos
A distinguir ciência e fé,
Delas, das escolas,
Ó bendita glória,
Fazem agora
Igrejas sem sino, nem sacristia
E em nome da autonomia
Sem tino, ali rezam missas
Sem senões, nem chiças,
Como se isso fosse normal?
Ao que vejo
P'ra ter sucesso na carreira
Bem contra o meu desejo
Digo em linguagem lisa
A docência atualmente
Não precisa
De professores com mérito científico
Mas catequese somente,
Amigo.
Está à vista!
Basta o "amen" salvífico
Pois sucesso garantido
Tem todo o senhor sacrista
E de tal maneira
Vinga esse entendimento
Que vai grossa a lista
P'ra diretores de agrupamento!
Vês agora, amigo,
A razão
Por que digo
Que foi a religião
Que me levou ao mundo antigo,
À poesia medieval,
A esse tempo arcaico
Afonsino, dionisíaco, vicentino?
Pois é!
Tal vai o ensino
Neste nosso estado laico
Tal vai a educação
Em Portugal
Todo cheio de fé
Ai deus e u é!
Abílio/março/2016
Publicado em
Poesia
Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.