Num instante, com pena, passei em relance a obra da sua pena e a obra do cinema. E, então, qual nuvem de fantasma a atravessar espaços e tempos longes, a atravessar portas, paredes e janelas entrei no mosteiro, vi monges, subi à biblioteca, vi o corcunda, ouvi o seu latimório e vivi a vida imunda que rodeava aquele território, aquele bastião de religião e de fé. Fiquei triste. Mas, neste momento de pranto, ele me alumia, por enquanto, ali, de pé, na minha estante. Estou triste e fico sempre triste quando, neste mundo imundo que existe, neste vasto mundo de lucernas, vejo afastarem-se as luzes que me alumiaram e só não se apagaram porque são eternas. E tantas foram. Uma, a uma, elas se vão indo e, com elas, o Sol em descida trás o lusco-fusco da minha vida. Estou triste.
Abílio/fevereiro/2016