Antes que o sol se levante
Com estrelas, de madrugada
Eles de gadanha empunhada
Segam o feno num rompante.
Elas, a Maria e a Violante
De ancinho e forquilha na mão
Juntam em montes no chão
O feno segado, num instante.
Antes que o Sol se levante
Saem os gados para a serra
São os costumes da terra
Que vêm de um tempo distante
Chapéu de palha na cabeça
O suor lhes escorre na testa
Não é perfume de festa
Inda que festa lhes apeteça.
São enfiteutas foreiros
Suam por todos os poros
A produção esvai-se em foros
A encher dos senhores os celeiros.
Trabalhos e mais trabalhos
Como se fossem condenados
É assim por todos os lados
Entre preces, pragas e ralhos.
Compadecido o Sol se deita
Para a todos dar descanso
Mas no dia seguinte, outro tanto
Pois sempre é a mesma receita
E decorreram séculos assim
Sempre a noite atrás do dia
Tema de perfumada poesia
Que só a suor me cheira a mim.
Fosse eu um poeta inspirado
Só de papel, caneta e tinta
Ignorasse o peso do arado
Do ancinho e da forquilha
Tanta noite e tanto dia
Da minha lavra sairia
Obra mais perfumada e distinta.
Mas antes que o Sol se alevante
Me fico, não vou mais adiante.
Abílio/2014 (glosando o poema quinhentista "Antes que o Sol se levante" de Francisco Rodrigues Lobo, colocado ontem no mural de Lopo Maria Albuquerque)
Uma palavra puxa outra, um poema puxa glosa e as duas coisas puxam vídeo feito e alojado no Youtube em 2011. é só clicar e ver http://youtu.be/HKc1WoT1oy0