À posterior, posso dizer que aquele jovem da década de 60, usando a linguagem divulgada atualmente nas televisões, era um empresário de visão e de sucesso. Homem disposto a explorar a vida nocturna (duvido se por iniciativa própria ou por encomenda) ao ver a cidade ser invadida por "infantaria ligeira e artilharia pesada" chegadas da metrópole, o investimento era promissor e ele pioneiro nessas andanças e contradanças. Clientes não faltariam e o lugar escolhido prestava-se convenientemente aos objetivos: tropas a chegarem de fresco à terra quente, necessário era haver uma "carreira de tiro" e na, cidade do "caniço", existiam cabonde mulheres negras e mulatas dispostas a servirem de alvo, a troco de algo.
Não acompanhei a realização e vida dessa empresa, mas, ainda em Lourenço Marques, através de um amigo que tinha os pais estabelecidos na cidade (nunca mais soube dele) chegavam-me ecos da fulgurante animação que se sucedeu aos tempos da minha saída. O MAXIME tornou-se o centro do mundo, o QUARTEL GENERAL (sem Generais) das tropas que, chegadas ou regressadas à cidade após uma ida ao MATO em reconhecimento ou patrulha de limpeza nos arredores, ali iam limpar as armas e afogar em música, sexo e álcool as angústias da juventude perdida longe da família e amigos próximos, que não os camaradas de armas.
E nos ecos que me chegavam e chegam dessa "ramboiada", entra a relação afectiva de alguns militares com prostitutas frequentadoras do BAR, a fazer lembrar espaços e relações idênticas em todos os tempos de guerra, noutros sítios e bares. Nem sequer falta a preferência desta prostituta por aquele militar e daquele militar por esta prostituta. E, cumulativamente, a disputa de dois machos pela mesma fêmea e ela hesitante a presenciar o seu valor de prostituta, ou, sabe-se lá, de ESPIA a desempenhar com astúcia e subtileza a sua função ao serviço da FRELIMO. Por isso, ela não raro sabia quando o "preferido" (fosse qual fosse o posto ou graduação) saía da cidade e à cidade regressava depois de um patrulhamento ou reconhecimento nos arredores ou mesmo numa deslocação ao aquartelamento mais afastado, onde se ía de helicóptero. Sim, é verdade, macho que é macho, com lenço de comando em redor do pescoço, tem de mostrar que o poder não está apenas nos galões, está em poder levar a menina "preferida" no helicóptero onde quer que se desloque. E os subalternos que abram a boca de admiração, de espanto e obediência.
E, claro, na altura, a nenhum deles passava pela cabeça que ao seu lado, a dormir com eles no HOTEL ZAMBEZE, ou a virar copos entre um pé de dança no Maxime, estava uma espia a inteirar-se das idas e das vindas, do destino, itinerário e tempo das patrulhas. Era a guerra e naquela guerra, como noutras guerras, os contendores fazem uso das armas que têm. Ali, em Tete, na entrega, aparentemente ingénua, de uma negra ou mulata nos braços de um militar, a dançar com ele de pé no MAXIME, ou deitada no HOTEL ZAMBEZE, estava infiltrada a espia que, deixando-se penetrar, penetrava no seio das forças inimigas e dava cumprimento cabal da missão para que fora incumbida.
Mas não se pense que só ali, em África, os helicópteros se prestaram a passear "meninas". Tenho conhecimento que aqui, para as bandas do Montemuro, após o 25 de Abril, aconteceu algo semelhante. Só que, neste caso, elas não eram espias nem infiltradas no corpo inimigo. Bem ao contrário, eram espiadas e livremente penetradas.
Os galões militares sempre exerceram um certo fascínio no mulherio, aqui, ali, partout, everywhere, por toda a parte.
Nota: posto hoje mesmo no Facebook, página PICADAS DE TETE.