E então quando eles, interpretando os resultados eleitorais, dizem que "o povo é sábio". Nestas últimas eleições dizem que povo elegeu Passos para governar e Costa para sua muleta. O povo "sabiamente distribuiu os ovos, não os pondo todos no mesmo cesto", por forma a que estas duas áreas políticas se entendessem. Mas omitem os ovos correspondentes aos cestinhos do PCP e BE, dando a ideia de os considerarem muito pequeninos, ovos de garnisé, de codorniz, de pardal, de carriça, que contam pouco para a gemada, que há-de ser servida na lauta mesa da GOVERNAÇÃO. O "povo é sábio". Tais expressões e substância que contém, reconduzem-me a um documento assinado pelo Presidente da Câmara Municipal de Castro Daire, na década de 40 do século XX. Amigo do meu pai, que liderava uma Comissão de "homens-bons" interessados em tornar a povoação de Cujó em freguesia, tornando-a independente da povoação de S. Joaninho, informou o Governador do Distrito, em extenso relatório, que, era uma pretensão justa e merecida, pois em "Cujó, quase não havia cidadão que não andasse com o Código Civil debaixo do braço".
Eu era "puto" messa altura, mas, tendo-me formado em História, um dos meus primeiros trabalhos de investigação foi fazer uma monografia da terra onde nasci, a que dei o título "Cujó, uma terra de Riba-Paiva". Quando li esse documento, ia caindo de cu. Uma falsidade de todo o tamanho. Mas foi ele, Presidente da Câmara, o INTERMEDIÁRIO entre os poderes locais e poderes centrais e as suas "falas" permitiram dividir uma freguesia em duas e tornar a minha terra independente, para adulta alegria minha e usufruidor infantil da festa da independência que, então, se realizou.
Integrar esse documento na monografia, não abonava a equidistância desejada do governante que o assinou, nem a Comissão e povoação que do seu conteúdo beneficiou. Um elemento dessa Comissão era o meu pai. Mas eu, em nome da imparcialidade que me é exigida a "fazer história" (seguindo a lição dos MESTRES) não só transcrevi o documento, como o comentei, denunciando os interesses e as amizades que subjaziam às afirmações feitas: o Código Civil debaixo do braço de cada habitante de Cujó, num tempo em que a maioria da povoação, para não dizer quase toda, era analfabeta?
Eis o mal dos MENTORES, dos MEDIANEIROS, dos COMENTADORES ENCARTADOS, quando nos dizem que o POVO É SÁBIO. Fazem-no como se tivessem auscultado pessoa a pessoa e ouvido de cada uma as razões da sua opção de voto. Falam em nome do POVO e o que dizem dele é com a mesma convicção revelada por um CRENTE falando e ouvindo a imagem de pedra, de madeira ou gesso, prata ou ouro, da sua devoção, à frente da qual se ajoelha e murmura preces pedindo algo. Uns e outros transformam o seu DESEJO em REALIDADE e é essa REALIDADE que nos transmitem. E nós temos de ACREDITAR com eles. Eles sabem que vivem no seio de um POVO CRENTE. E ao contrário dos MENTORES CLÁSSICOS que ensinavam e educavam, eles, aqueles que mentem, desensinam e deseducam. Isso IRRITA-ME. O amigo notou isso neste texto, escrito ao correr da tecla, sob o efeito da cafeína (de manhã tomo sempre um café), fui claro, fui transparente, ou disfarcei?
Seja qual for a GEMADA servida à MESA DA GOVERNAÇÃO um ovo entrado nela tem a minha galadela. Por isso, sem ser galo capão, canto e falo, pois "cidadão castrado, não". Reparem que não disse "poeta", não tive tal ousadia, como vejo por aí tanto pateta a vilipindiar a poesia.