Trilhos Serranos

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segunda, 12 outubro 2015 13:30

MANIPULAÇÃO PURA E DURA

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Esta coisa dos MENTORES clássicos (moldando a aprendizagem e o saber dos seus pupilos, ensinando e educando) persistirem nos nossos tempos através dos COMENTADORES ENCARTADOS, mas com objectivos diferentes, irrita-me. Em vez de ensinarem e educarem, deseducam e embrutecem. Isso irritar-me, mas que importa?

 

E então quando eles, interpretando os resultados eleitorais, dizem que "o povo é sábio". Nestas últimas eleições dizem que povo elegeu Passos para governar e Costa para sua muleta. O povo "sabiamente distribuiu os ovos, não os pondo todos no mesmo cesto", por forma a que estas duas áreas políticas se entendessem. Mas omitem os ovos correspondentes aos cestinhos do PCP e BE, dando a ideia de os considerarem muito pequeninos, ovos de garnisé, de codorniz, de pardal, de carriça, que contam pouco para a gemada, que há-de ser servida na lauta mesa da GOVERNAÇÃO. O "povo é sábio". Tais expressões e substância que contém, reconduzem-me a um documento assinado pelo Presidente da Câmara Municipal de Castro Daire, na década de 40 do século XX. Amigo do meu pai, que liderava uma Comissão de "homens-bons" interessados em tornar a povoação de Cujó em freguesia, tornando-a independente da povoação de S. Joaninho, informou o Governador do Distrito, em extenso relatório, que, era uma pretensão justa e merecida, pois em "Cujó, quase não havia cidadão que não andasse com o Código Civil debaixo do braço".
Eu era "puto" messa altura, mas, tendo-me formado em História, um dos meus primeiros trabalhos de investigação foi fazer uma monografia da terra onde nasci, a que dei o título "Cujó, uma terra de Riba-Paiva". Quando li esse documento, ia caindo de cu. Uma falsidade de todo o tamanho. Mas foi ele, Presidente da Câmara, o INTERMEDIÁRIO entre os poderes locais e poderes centrais e as suas "falas" permitiram dividir uma freguesia em duas e tornar a minha terra independente, para adulta alegria minha e usufruidor infantil da festa da independência que, então, se realizou.
Integrar esse documento na monografia, não abonava a equidistância desejada do governante que o assinou, nem a Comissão e povoação que do seu conteúdo beneficiou. Um elemento dessa Comissão era o meu pai. Mas eu, em nome da imparcialidade que me é exigida a "fazer história" (seguindo a lição dos MESTRES) não só transcrevi o documento, como o comentei, denunciando os interesses e as amizades que subjaziam às afirmações feitas: o Código Civil debaixo do braço de cada habitante de Cujó, num tempo em que a maioria da povoação, para não dizer quase toda, era analfabeta? 
Eis o mal dos MENTORES, dos MEDIANEIROS, dos COMENTADORES ENCARTADOS, quando nos dizem que o POVO É SÁBIO. Fazem-no como se tivessem auscultado pessoa a pessoa e ouvido de cada uma as razões da sua opção de voto. Falam em nome do POVO e o que dizem dele é com a mesma convicção revelada por um CRENTE falando e ouvindo a imagem de pedra, de madeira ou gesso, prata ou ouro, da sua devoção, à frente da qual se ajoelha e murmura preces pedindo algo. Uns e outros transformam o seu DESEJO em REALIDADE e é essa REALIDADE que nos transmitem. E nós temos de ACREDITAR com eles. Eles sabem que vivem no seio de um POVO CRENTE. E ao contrário dos MENTORES CLÁSSICOS que ensinavam e educavam, eles, aqueles que mentem, desensinam e deseducam. Isso IRRITA-ME. O amigo notou isso neste texto, escrito ao correr da tecla, sob o efeito da cafeína (de manhã tomo sempre um café), fui claro, fui transparente, ou disfarcei? 
Seja qual for a GEMADA servida à MESA DA GOVERNAÇÃO um ovo entrado nela tem a minha galadela. Por isso, sem ser galo capão, canto e falo, pois "cidadão castrado, não". Reparem que não disse "poeta", não tive tal ousadia, como vejo por aí tanto pateta a vilipindiar a poesia.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.