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terça, 11 junho 2013 17:13

ROL DOS PARDAIS (2)

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Já publiquei,  neste meu espaço, a postura que vigorava da Câmara de Castro Verde, em 1680, sobre o «ROL DOS PARDAIS». Por ela vimos que cada morador da vila e seu termo era obrigado a entregar ao escrivão do município 4 pardais velhos ou 6 novos. Mais tarde eram obrigados a entregar  apenas as cabeças.

Sabido isso, vejam o que, cerca de 200 anos depois, dizia o jornal  «O Bejense» número 59, de 1862, com o título «Variedades» e subtítulo «Os Vereadores e os Pardais»:

«Não há postura municipal tão cruel e infundada como a  que manda exterminar os pardais e outras aves sob o pretexto de que prejudicam as searas de trigo.
Está provado que estas inocentes avesinhas votadas à destruição pela loucura e maldade do homem, produzem benefício incalculavelmente maiores do que o prejuízo que fazem nas espigas do trigo.
Recomendamos aos incrédulos a obra de Michelet «L'oiseau» e, entretanto, extraímos do «London Journal», de 11 de Janeiro último, o seguinte artigo que ratifica as observações feitas em outros países.

«Observa um correspondente que na Inglaterra se tem notado, durante os últimos anos, considerável diminuição nos pardais e em outras pequenas aves, coincidindo com esta diminuição o incrível aumento dos insectos destruidores. No condado de Kent, as produções de frutos, de vegetais e de grãos, em que abunda, foram consumidos inteiramente por diferentes espécies de pequeninos insectos, que só os pássaros podem descobrir.
Os homens, vendo suas esperanças perdidas, culpam as estações, os ventos, a temperatura, etc. E como causa de tantos males, sem se lembrarem que são eles mesmos a verdadeira causa, pela sua imprevidência e pela injustiça de suas leis.
No citado condado, por exemplo, dão-se prémios a quem apresentar um certo número  de cabeças de pardais e de outras aves. Ora como estes pássaros se alimentam quase todo o ano de insectos e suas larvas, que por delicadíssimo instinto eles vão descobrir onde o olho do homem não pode alcançar, as colheitas de grãos e de frutos são todos os anos destruídas nesse país pelos insectos de que  principalmente se alimentam os pardais, cotovias».

Se estas aves nos fazem tão grande benefício durante dez meses, devemos fazer-lhes mal só porque nos comem algumas espigas das nossas searas?
Serão elas por este facto mais daninhas do que quem as destrói e manda destruir?

Pe. Macedo»

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.