É que, à medida que vou vendo entrevistas, ouvindo e lendo notícias (muitas), nelas vejo que o “pensado e o dito” por algumas das figuras notáveis que tomam assento nos “fóruns” da especialidade, já eu, mais palavra menos palavra (neste meu cantinho provinciano) o tinha feito antes (em prosa ou em verso), com eco público no meu mural do FACEBOOK ou aqui neste mesmo espaço. Facto esse que muito me alegra, enquanto atestado público que essa gente bem informada (sem me ler nem me conhecer de lado algum) presta indiretamente à minha lucidez, à minha atenção ao mundo e informação bastante para aqui opinar com acerto. Um incentivo a prosseguir.
Então comecemos. Já aludi ao programa “Prós e Contras” da RTP1 e à entrevista que o senhor ex-Presidente da República RAMALHO EANES deu, NO MESMO CANAL, à jornalista Fátima Ferreira. Não tinha intenção de voltar a essa entrevista, mas depois de ver o últimos “PRÓS E CONTRAS” da mesma jornalista, sinto-me forçado a fazê-lo e acrescentar algo que ainda não tinha dito.
De facto, referi-me a essa figura da nossa HISTÓRIA PÁTRIA como sendo um “estratega credível nestas coisas da guerra (...) Falou de estratégias e táticas. Primeiras linhas, segundas linhas e linhas da retaguarda. O papel de cada uma delas nesta guerra de pandemia. E curioso foi o facto de ele relembrar a falibilidade humana e admitir a possibilidade do VÍRUS ter escapado de qualquer laboratório”.
E, claro, não me passou despercebido o seu apego e apelo aos VALORES e disso fiz eco imediato, ilustrando com um texto meu publicado em 28 de março p. p., repescado de propósito, portanto, muitos dias antes da crónica MUNDO DOENTE (6) onde discorro sobre o tema e me refiro ao General..
E porquê lembrá-lo novamente? Não por ser um assertivo RESPIGO DA MINHA SEARA, mas porque a isso fui levado pela forma como Fátima Campos Ferreira conduziu o seu programa e pelo conteúdo das prestações que tiveram os ilustríssimos convidados.
O senhor Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, abriu a porta. Por isso a deferência da sua imagem ter o destaque na abertura este apontamento. E durante a sua lúcida e linear “preleção” sobre o momento que passa (não passa ou passa devagarinho), aludiu à entrevista do ex-Presidente RAMALHO EANES e sublinhou igualmente os VALORES, atitude a que também botará mão o “filósofo” Padre ANSELO BORGESque, instado a falar sobre o papel da Igreja no momento que passa, ele, entre coisas mais, remetendo para a mesma entrevista, disse que, sendo a Igreja formada por todos «os batizados» e não apenas pelas hierarquias, vinha a calhar o exemplo do General «um cristão que chega a raiar a santidade”.
A tanto não me atrevi eu, sob pena de criar algum desconforto a este nosso cabo-de-guerra que, em plena campanha eleitoral, subiu para o tejadilho de um carro pronto a “dar o peito às balas”. Mas o PADRE ANSELMO BORGES, não hesitou e logo à entrada, a propósito da VERDADE, deu o tom catequético em que assentaria a sua intervenção. Estávamos na “SEMANA SANTA” e muito impressionado e impressionante lembrou a frase lapidar que viu na portada de uma Universidade na Alemanha. Uma frase de Jesus: “a verdade libertar-vos-á” e por aí adiante.
Pronto. O elo de ligação entre as palavras de Jesus, sobre a verdade e as palavras de Ramalho Eanes sobre o amor, estava encontrado. E daí, às “raias da santidade” tocadas pelo General, foi um saltinho de pardal dado pelo “filósofo” que passa os dias num Seminário, com um espaço verde, onde ele pode cirandar e, portanto, não sentir os efeitos da clausura a que tanta gente está obrigada.
Lá mais para o fim do programa lembrará que os médicos e mais pessoal da “linha da frente”, procedem assim, entregando com abnegação à profissão, porque são movidos pelos “valores cristãos”.
Bem, eu não sei se a filosófica expressão de “santidade” colada ao General Ramalho Eanes lhe deu conforto ou desconforto pessoal. Mas não hesito em dizer que, com outro juízo seu (ele também falou no JUÍZO FINAL), dizendo que «muitos daqueles médicos da «linha da frente» procedem assim, porque «são cristãos» e que «toda aquela gente» carteiros, homens do lixo, da limpeza, etc. etc. é «movida pelo espírito cristão» criou, seguramente “desconforto” a muita daquela gente e a todos os MÉDICOS que, cumprindo exaustivamente a sua missão, não se movem pelos aludidos valores.
De resto, a fazer fé no “JURAMENTO DE HIPÓCRATES” e na existência histórica do seu autor HIPÓCRATES, de Cós (século V a.C.) é legítimo perguntar que “credos” e “valores” seguiam os médicos daquele tempo. E deixo de fora o TEXTO DESSE JURAMENTO escrito em forma de CRUZ, evidente manipulação do “COPISTA” (e/ou impressor), uma daquelas muitas de que a HISTÓRIA é pródiga.
Recuando à entrevista do General, direi que menos direcionada, muito mais humanista e abrangente é a expressão que ele usou, quando questionado sobre o encerramento dos locais de culto. Ele foi perentório e assertivo (com dos “ss”) e, já agora, acertivo (com “c”) na sua “variante popular e/ou propagada” (já que o povo também tem voz na matéria): a espiritualidade não está nos locais de culto, mas em cada um de nós”.
E comovente, digno de reflexão profunda, foi ouvi-lo dizer, tal como eu também tinha aludido, referindo-me a médicos e enfermeiros espanhóis, verem-se no dilema de “escolherem a quem dão ou tiram a vida”.
Apesar disto, as afirmações categóricas do Padre Anselmo, encontravam respaldo na entrevista do General, cujo caracter e ética, ninguém questiona. E dele são as palavras que mereceram imediatamente LEGENDA DE RODAPÉ. Mas o mesmo não aconteceu, quando, mais adiante, a entrevistadora, muito comovida (ela tão habituada que está a pisar as alcatifas do Vaticano, olhos de ternura, lhe solicitou para ele repetir a frase “muito bonita”, dita antes, “sobre o amor”.
O General discorreu sobre o conceito, sim senhor, mas, sem repetir textualmente o que havia dito, o que fez com que as suas palavras não merecessem LEGENDA DE RODAPÉ nos moldes da anterior.
Mas o excerto dessa entrevista que muito impressionou e correu “retalhado” (em vídeo) nas redes sociais, foi ele ter dito que “nós os velhos temos de ter a capacidade, se necessário, dar o nosso ventilador...”
Porque estou no rol dos velhos como ele, em torno dele me vou ficar, já que a abordagem que fez à “questã” (como diz o povo) premente tem mais pontos que me são caros e, como tal, lhe pus o foco em cima, na primeira crónica e não descartei nas seguintes. A GLOBALIZAÇÃO.
Disse ele que GLOBALIZAÇÃO “não trouxe uma solidariedade que é indispensável”. Pois. Mas nem por isso podemos negar, antes pelo contrário, assumir o orgulho que temos de termos sido pioneiros nisso, quando “demos novos mundos ao mundo”. E acerca disso, já deixei em letra e em vídeo os “Prós e Contras” registados em verso épico e literatura de viagens. Era o começo da grande viagem global.
Pois. E num oportuno momento desta “viagem” na RTP, a senhora jornalista Fátima Campos Ferreira, sublinhando a gravidade da PANDEMIA lembrou as ERAS, na cronologia dos tempos. Sim, a PANDEMIA é um marco. Nada vai ficar na mesma. É, “como já dizem”, acrescentou da sua lavra: a “Era D.C”, v.g. “Era Depois de Corona”.
Curiosa afirmação esta! Dito isto no dia 06 p.p. num programa de grande audiência, recostei-me no sofá e, afagando o joelho que vai acusando o desgaste dos 80 anos, quase dei um salto de atleta. Então não é que, afinal, neste MUNDO DOENTE, recolhido no meu mosteiro de aldeia, eu até digo e escrevo o que outros (não sei se A.D. de mim) também pensam e dizem?
Ora cá vai um “RESPIGO DA MINHA SEARA” publicado no dia 29 de março p.p. sem que, apesar de procurar estar informado, tenha lido algo semelhante em parte alguma:
(...)
Parou o mundo!
Na sua guerra
Pôs os aviões em terra
Esvaziou as estradas
Despoluiu a atmosfera
Escolas fechadas
Aldeias e cidades
Fantasmas são
Rebuliço de humanidade
Noutra Era.
Datas? É isto.
Antes e Depois de Cristo
Perderam significado.
Agora, quem lide
Com cronologias
Anos, meses e dias
Dirá: Antes e Depois de COVID.