Trilhos Serranos

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segunda, 27 maio 2019 09:37

LIVRO ABERTO E ILUSTRADO (c)

Escrito por 

“A VERDADE É COMO O AZEITE VEM SEMPRE AO DE CIMA”

BOMBEIROS - Prós e Contras - 3

Enfim! O livro «Castro Daire, Os Nossos Bombeiros, A Nossa Música», editado pela Câmara Municipal e de que me orgulho de ser autor, saído da «Tipografia Castrense» em 08-11-2005, seguidamente publicitado em diversos órgãos de comunicação social escrita e falada v.g. «Rádio Lafões» foi, finalmente, posto à venda.

 

OS HOMENS PASSAM, AS INSTITUIÇÕES E A INFORMAÇÃO FICAM

Bombeiros- ambulânciaOs interessados podem ao preço de €20,00 cada exemplar. O autor não ganha um cêntimo com ele, pois, reiterando o objectivo público e único que foi «beneficiar dos Bombeiros com a verba resultante da sua venda» e por acordo mútuo e último com a editora, ficou assente que cabe a esta «arrecadar a receita» e dar-lhe «os fins que julgar convenientes».

Debalde foi toda a campanha subterrânea feita, em todo este tempo,  contra o livro. Debalde  foi a entrevista dada à «Rádio Lafões» pelo senhor Presidente da Direcção, na qual tudo fez para desacreditar a obra. 

Ora, cabendo-me reagir e, nos termos do «Código dos Direitos de Autor», não permitir que «qualquer acto desvirtue» o meu trabalho ou possa afectar  a minha «reputação e honra», dando de barato «esse senhor» ter dito que o «autor nunca lhe mostrou nada do que ia escrevendo», afirmação que denuncia claramente o desejo de uma «censura prévia», dando de barato, por não fundamentado, tudo o que «esse senhor» disse, certo é que não pode ficar sem esclarecimento o facto de ter afirmado que o capítulo “AO COMPASSO DO 25 DE ABRIL -  «nada tem a ver com os Bombeiros».

Como assim?

BOMBEIROSSe não tem a ver, como se explica que desde Dezembro de 1974 a Fevereiro de 1976 não tenha havido qualquer reunião dos «órgãos sociais» da Associação, conforme rezam as respectivas actas?

Ora, foi  esse hiato, essa ausência de «órgãos sociais» e respectivas reuniões que o historiador não pôde deixar de explicar, sob pena de não ser historiador. E assim, confrontado com essa realidade administrativa e política, em fim de um capítulo e começo de outro, escrevi: 

«Se o historiador tivesse vindo recambiado de um qualquer planeta, se tivesse aterrado em Castro Daire, desconhecedor em absoluto da vida dos povos e das associações, ignorante das grandes mutações sociais e políticas que, de tempos a tempos, abalam as sociedades, desconhecedor que fosse do que se passou no país no espaço de tempo que separa os acontecimentos relatados nas duas actas - a de 1974 e a de 1976 - se comparasse os nomes dos elementos dos Corpos Gerentes que estiveram à frente dos destinos da Associação, durante anos, com os nomes dos elementos que constituíam os Corpos Gerentes agora eleitos, questionar-se-ia seguramente, sobre o que se teria passado e tentaria explicar não só tão longo silêncio, mas também o eclipse dos elementos que até então estiveram à frente da instituição. Explicar o fim de uma dinastia e o começo de outra - e mais adiante perguntava -  que terramoto político ocorreu então em Portugal para que se verificassem estas mudanças e procedimentos? Foi a «Revolução do 25 de Abril», cujos traços gerais, para melhor entendimento do «antes» e do «depois» em Castro Daire, nos impõe aqui a interrupção dos actos conducentes à eleição dos «órgãos gerentes». Retomá-la-emos logo depois de lermos o capítulo que se segue». 

E segue-se o capítulo que, aos microfones da «Rádio Lafões» nas palavras do senhor Presidente da Direcção «nada tinha a ver com os Bombeiros. Que não entendia».

Pois não. Não entendeu. E a quem não entendeu as poucas linhas que explicam a necessidade de tal capítulo ser incorporado na descrição cronológica dos acontecimentos, não pode pedir-se-lhe que entenda as 514 páginas do livro inteiro. E por aqui se vê quem opina, como opina e o que opina sobre a obra e o fim a dar-lhe: «pura e simplesmente que toda a edição seja queimada», opinião expressa na reunião realizada em 31 de Dezembro de 2005, como consta no jornal «Gazeta da Beira», ali posta pela mão do correspondente em Castro Daire, Né Oliveira, que esteve presente nessa reunião. 

Enfim! A edição não foi queimada. O «Estado de Direito» venceu o «autoritarismo/arbitrário/provinciano».  A «democracia» venceu a «ditadura/prepotência». A «liberdade» venceu a «censura/intimidação». A «história/ciência» venceu a «história/conveniência». A «informação/documentada» venceu a «coscuvilhice/soalheira». A «verdade substantiva» venceu a «mentira subjectiva». A «probidade e o rigor histórico» do historiador venceram as ”opiniães e os «interesses» de terceiros que almejavam ver o livro «lançado à fogueira» ou «fechado a sete chaves». 

BOMBEIROS-2Debalde foram essas tentativas e interesses. E  não fora assim, como diz o escritor Manuel António Pina,  no «Jornal de Notícias» de 10-02-2006, a propósito da liberdade de expressão e dos ares de censura que por aí se vão respirando, independentemente da natureza e da matéria que os  livros versam - pura ficção e/ou e/só história documentada - e do distinto valor dos seus autores, «estariam reabilitados Sousa Lara e a ”fatwa“ contra o «Evangelho segundo Jesus Cristo“ de Saramago, e seria igualmente ”compreensível” que Eça e a ”Relíquia“, ou Junqueiro e ”A Velhice do Padre Amaro“ desaparecessem dos escaparates». 

Em Castro Daire não estamos na Monarquia, no tempo do Intendente e de D. Maria. Estamos na República, no tempo de D. Eulália e da Democracia.

Por imperativo da lei e decisão última da senhora Presidente da Câmara, ouvida que foi a assessoria jurídica, o concelho de Castro Daire, neste começo do século XXI e na trajectória da «civilização ocidental»,não deu ao mundo o espectáculo de uma fogueira na praça pública para onde fosse atirada toda a edição.

Não foi assim. Somos periféricos geográficos e culturais, mas tanto, não! Todavia isto traz-me à lembrança tempos idos. Os tempos dos «autos de fé», extensivos a «pessoas e livros». Isso e não só. Também o sermão de um certo «Abade de Paróquia» que, versado em latim e nas Escrituras, sempre que abordava questões ligadas ao «segredo» e ao «respeito», evocava os versículos do «Apocalipse» relacionados com o «livro selado com sete selos», assim: «nemo poterat aperire neque respicera illum nec videre eum» (Ap.5:3)ou, então, adequando, eu agora,  a sintaxe de outro versículo: «nemo dignus inventus est aperire librum nec videre eum» (Ap.5:4), ao caso vertente e a tudo quanto se passou no ínterim que vai de 08-11-2005 a 11-02-2006, diria que «o livro não era digno de ser aberto e visto por alguém». Só a fogueira ou, então, permanecer em armazém ad vitam aeternam. Tudo para gáudio daqueles que, numa reacção de reflexo condicionado, saboreando o evento por antecipação, deixaram que a saliva lhes caísse livremente pelo queixo abaixo, qual espessa baba em descontrolada cascata. Disse «baba» e não a barba branca daquele sábio ancião que, face à dificuldade de ver o livro aberto, dixit mihi: «não te preocupes, eis que o leão da tribo de Judá, a estirpe de David, venceu a maneira de poder abrir o livro e desatar os sete selos»(Ap.5:5).

 Enfim, pode ler-se o livro. Prevaleceu a lei, a cultura e o bom senso. O caso está arrumado. É, pois, de repor aqui as últimas linhas do capítulo «NA HORA DO RESCALDO» acerca da esperança que eu punha na leitura do livro por parte daqueles que, sem desfalecer, o fizessem até à última linha:

«E não duvido que assim procedam todos aqueles que se interessam pela História Local. Esses, sabedores e diligentes, não deixarão de assumir-se como motores de inovação e mudança, pois o país, o concelho e as instituições bem precisam do seu esforço esclarecido e do seu contributo empenhado. Dos outros, daqueles que tratam apenas da sua ?vidinha? não há nada a esperar. Esses, o mundo que herdaram será o mundo que deixarão por herança»(pp.501) 

E chegando a este ponto, não resisto em pôr  à consideração dos sócios, dos leitores e amigos dos bombeiros em geral, as palavras simples e despretensiosas do senhor Manuel Jorge Araújo e Gama, ex-chefe de Finanças, sócio dos Bombeiros desde 1950, tesoureiro da Associação no triénio de 1993-1996, um dos muitos protagonistas que dão corpo e vida ao livro, conhecedor dos andanhos da Casa, que ninguém pode acusar de falta de rigor e de seriedade, palavras dele, dizia eu, excerto de uma carta que me fez chegar, em mão, com data de 14 de Dezembro de 2005, depois de ter lido o livro que lhe ofereci. Sim, porque eu podia oferecer livros, ao contrário do senhor «presidente da Direcção» que, como se dono deles fosse, se pôs a «dá-los» aos «amigalhaços», mesmo antes de eles estarem à venda. E isto, quando a Direcção da Associação, por carta minha datada de 08 de Novembro de 2005, apenas estava autorizada a «proceder ao levantamento de 1.700 exemplares e, em conjugação com a Câmara Municipal, dado ter sido ela a financiar os custos da impressão, procederem à melhor forma de pôr a obra no mercado e estabelecerem o markting conveniente à sua rentabilização (...) cientes de que o produto reverteria  a favor dos cofres da Associação» (sic).  Mais nada. 

Ora, como o senhor «Presidente da Direcção» é uma «pessoa séria» e sabe que exerce aquelas funções para defender os «interesses da Associação» (e não o contrário), alertado aqui para as suas obrigações, por certo não deixará de depositar nos cofres dos Bombeiros, a €20,00 cada exemplar, o montante correspondente aos livros que deu aos seus amigos, como se dono deles fosse. Atitudes destas não podem passar sem reparo aos olhos do público. Por mais bondade que haja nos objectivos que uma Instituição persegue, os seus dirigentes não são os seus donos, não são intocáveis nem imunes à crítica. Na história, os acontecimentos têm os seus protagonistas e o historiador, ontem, hoje e amanhã, não pode deixar relatá-los e de comentá-los. Goste-se ou não. E os «desagrados» de dois ou três indivíduos, não podem sobrepor-se aos interesses da Instituição, prejudicando-a.

Mas vamos às palavras do senhor Gama a quem pedi autorização para publicá-las:

«Não há, tenho a certeza, nem Lisbonenses, nem Portuenses ou quaisquer outras Associações de Bombeiros Voluntários do País de nomeada  que possam gabar-se de ter uma ?Enciclopédia? tão rica como  os Bombeiros de Castro Daire.

Que trabalho! Que por “menores” e que por “maiores“ enriquecem as 514 páginas. Sim, pois as notas bibliográficas e o índice também são história!

Que paciência! Quantos meses e meses de procura, busca intensa de jornais antigos, lidos e relidos! Que Deus conserve ainda por muitos e bons anos e com esse espírito agudo e acutilante tanto talento».

Bombeiros-1Este homem sabe ler e escrever. Vejam como ele conseguiu resumir 514 páginas numa preposição simples - «por» e dois adjectivos - pequeno e grande - no seu grau comparativo sintético - menor e maior. De facto é disso mesmo que o livro trata. Dos «menores» e dos «maiores», dos «pequenos» e dos «grandes», de  «gente humilde» e de «gente grada», do «povo» e das «elites». De «pequenas» e «grandes» coisas, «agradáveis» e «desagradáveis», «sucessos» e «insucessos», de «glórias e sombras», nas palavras televisivas do Professor  Hermano Saraiva. E outra coisa não é de esperar  de quem escreve  a «História» e não a «estória» de uma instituição, de um concelho, ou de um país. 

Ora eu, que me considero um soldado raso incorporado no exército das letras - Batalhão da História - que,  nesta eterna batalha travada entre o esquecimento e a memória, estou familiarizado com a ortografia e a semântica da nossa Língua, apetece-me fazer continência a este general, a este ancião, não sei se «da estirpe de David» que, com três palavras apenas, provavelmente encontrou  a «maneira  de desatar os sete selos» que bloquearam, até agora, o entendimento daqueles que vêem no livro somente «aspectos negativos». Daqueles que dizem que o livro «nada tem a ver com a Associação», como se as 271 notas bibliográficas que nele constam, se  referissem à documentação de uma instituição desconhecida, incógnita, a vaguear, algures, no espaço interplanetário. Simplesmente ridículo!

Mas «os homens passam e as instituições e a informação ficam». E do mérito ou demérito das atitudes tomadas neste caso e nomes dos seus intervenientes, os sócios, em particular, e  público, em geral e a todo o tempo, ajuizarão. Na parte que me toca, e para que conste, reitero que não cedi os meus «direitos de autor» para dirimir qualquer conflito de interesses com a Associação, pois jamais facturei um cêntimo dos seus orçamentos anuais ao longo da sua HISTÓRIA. Isso pode ser confirmado nos registos de contabilidade por qualquer investigador que, no âmbito da «administração aberta e de transparência» queira ter acesso aos documentos de administração pública com vista a «informar e formar o público». E estou certo que, os números, na frieza e objectividade que lhes são próprias, não deixarão de ser a «prova dos nove», «pró» ou «contra» aqueles que aceitam ou rejeitam o livro ora publicado.

 Venha lá esse estudo, ao agrado dos actuais desagradado.

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PS: neste ano de 2019, à dara da transcrição deste texto do velho para este meu novo site, informo que,  posto à venda nas LIVRARIAS, como disse, esgotados que foram os exemplares postos à venda, o livro nunca mais foi reposto. Nem na Libraria «Aguarela», nem na« Livraria Montemuro», apesar dos livreiros terem informado a Câmara disso mesmo. Entretanto o PODER LOCAL foi ganho pelo PARTIDO SOCIALISTA e o cabeça de Lista FERNANDO CARNEIRO,  que se manifestara contra a sua venda, procedeu em conformidade. Só quando o Executivo voltou à responsabilidade do PSD, esclarecido o assunto, conhecido o diferendo entre AUTOR/EDITORA, o actual detentor do Pelouro da Cultura, PEDRO PONTES resolveu que a OBRA fosse posta à venda no MUSEU MUNICIPAL. Mas, passando eu há dias por lá, fui informado que já não estava disponível ali e que o local de venda seria na BIBLIOTECA MUNICIPAL. Vou aguardar. Para já constato que uma obra feita “PRO BONO” continua em bolandas só porque PESSOAS E INSTITUIÇÕES resistem em CONHECER e dar a  HISTÓRIA LOCAL com as suas VIRTUDES E DEFEITOS. Não podem culpar o HISTORIADOR. Culpem os PROTAGONISTAS dos actos. E convem saber que o SENHOR PRESIDENTE DA DIRECÇÃO que tanto se opôs à divulgação do livro foi condenado a QUATRO ANOS DE PRISÃO EFECTIVA, POR TER DESVIADO VERBAS DOS BOMBEIROS PARA A SUA FIRMA PESSOAL. Uma coisa é certa. Por mais que, seja quem for que esteja sentado nas cadeiras do Município, pensa que faz comigo o jogo do «esconde-esconde» sobre esse meu filho intelectual está enganado. E mesmo que eles o escondam do público de Castro Daire, por interesses da CAPELINHA,  não podem ir retirá-lo da «BIBLIOTECA DA ESCOLA NACIOANL DE BOMBEIROS», em cujas estantes figura, como acima ficou ilustrado.

«A VERDADE É COMO O AZEITE VEM SEMPRE AO DE CIMA”, e o actual  “PODER EXECUTIVO” do PSD, não vai fugir à regra. Lá chegaremos. Estou vivo e lúcido para reivindicar os meus direitos de AUTOR.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.