Conheci JOÃO DE VASCONCELOS e o irmão, ambos ainda moços, numa das cerimónias culturais levada a cabo pelo seu pai, Dr. Arménio Vasconcelos, na Casa Museu Maria da Fontinha, aqui no GAFANHÃO. Foram cumprimentos de ocasião, tal como aconteceu com jovem SÉRGIO DE SOUSA PINTO que também estava presente. Este era dirigente da Juventude Socialista e eu membro da Comissão Política Concelhia do PS de Castro Daire, de cujo aparelho me desvinculei por razões que tornei públicas no jornal “Notícias de Castro Daire”, de então. O Sérgio fez carreira política e é atualmente deputado na Assembleia da República pelo PS e o João chegou, como foi notório e público, a Secretário de Estado no Governo de António Costa.
Nunca privei com eles de perto, nem com um, nem com outro, ainda que acompanhasse a vida pública de ambos. Do primeiro, através da comunicação social. Do segundo, através do Dr. Arménio Vasconcelos, advogado, e Drª Lucília Rego, minha colega de profissão, casal de quem sou amigo desde 1985.
FALECEU O JOÃO. Não cabe a mim fazer-lhe o «curriculum vitae» nem o elogio fúnebre. O primeiro, pode ser visto largamente espelhado nas redes sociais e para o segundo, eu não tenho mesmo jeito. Mas não resisto a falar dos afetos e amizades que ele e a família reuniam à sua volta, como bem se vê pela multidão de gente que acompanha o féretro. Gente vinda de longe e de perto. Uns, solidários com a família, partilhando a sua dor de momento e o seu luto; outros, consternados pela morte prematura de um jovem comprometido com o interesse público do país; outros, porque «sabem estar» socialmente; outros, porque convém, querem ser vistos; outros, porque estão simplesmente por estar; outros, porque nem sequer «sabem estar», aparecem para serem vistos. É assim em todos os funerais. Tempo de encontros e de conversas de amigos distantes e desencontrados que marcam presença só e quando um deles se ausenta de vez. É «o milagre da vida e o absurdo da morte».
São políticos, empresários, amigos próximos ou somente conhecidos. Muita gente. Pessoas de nome público. Pessoas anónimas que estão ali levados pelos impulsos dos sentimentos e da fé. Temos ali, o Presidente da Câmara Municipal de Castro Daire, acompanhado de outros membros do Executivo. Ali, o Juiz Desembargador PEDRO ANTUNES, meu colega de Liceu, em Lourenço Marques, natural de Figueiró dos Vinhos, terra natal da mãe do Falecido, Dr. Lucília Rego, terra onde o casal faz vida de há uns tempos a esta parte e onde, o ano passado, fui fazer-lhe uma visita, dado o seu estado de saúde. Dessa visita, devidamente ilustrada, fiz eco na minha página do Facebook. Foto ao lado.
Soube do falecimento do seu João pelo meu filho mais velho que, pela manhã de ontem, se apressou a dar-me a triste notícia e a sublinhar a sua simpatia pelo jovem falecido, apesar de não ser das suas relações pessoais, profissionais ou políticas. Ligava-os o gosto pela informática e pelas novas tecnologias, ambos de olhos postos no futuro, esse futuro que o João pretendia ver conjugados o mundo digital com o mundo analógico.
O pai, homem da cultura, admirador da arte grega, das letras, da poesia e arquitetura, ciente do «milagre da vida e do absurdo da morte», mandou construir um Jazigo de Família aqui, no Gafanhão. Ver foto que ilustra este texto. O filho João, pelo absurdo da morte, deixou o rebuliço das cidades, deixou de impulsionar todos os projetos inovadores que o moviam e, inesperadamente, prematuramente, recolheu aqui, a este jazigo, para o seu eterno repouso. Aqui, nesta aldeia, onde ouviu cantar os melros e demais passaredo da serra.
Muita gente.
No redondo de muitos quilómetros, por entre estes montes e vales, não há jazigo de arquitetura semelhante. Marcadamente diferente como morada eterna da FAMÍLIA VASCONCELOS, vejo nele o auspício promissor da descentralização política, administrativa e cultural que facilite a vida a todos os que, por entre estes montes e vales, mantêm estas aldeias vivas, mantém de pé este pedaço de Portugal Periférico.
Não pensasse assim o Dr. Arménio de Vasconcelos e tal jazigo, tal morada, onde agora vê recolher o seu filho João, jamais teria sido erguido, ao lado do cemitério da aldeia. Aqui, no Gafanhão, pois aqui, este sítio esquecido, também é Portugal. Jamais teria fundado o MUSEU MARIA DA FONTINHA, sempre pouco acarinhado pelos poderes públicos locais.
Ele ama a sua terra, o seu concelho. Apesar de ausente tem cá prova material e espiritual desse sentimento. Digamos, património material e património imaterial.
Ouçamos, neste momento triste e de SAUDADE, o poema homérico que, a viva voz, em tom apelativo e chamamento à serra, ele declamou frente à minha câmara em cima do PENEDO DA SAUDADE, em 2009. Foi há DEZ anos. Mais palavras para quê? A palavra e a obra são suas. Façam o favor de ver.
POEMA «VEM AMIGO, EU TE CONVIDO:
https://youtu.be/21lLEnRhNcA
CAPELA PRIVADA:
https://youtu.be/nKZqhMmgXkk