FIAT LUX
Três dias depois do Natal, neste ano de 2018, acompanhado do meu filho Valter, da sua companheira Sandra e filhos, a minha neta Mafalda e o irmão Guilherme, estive em Viseu. À noite.
Na primeira rotunda da entrada, para quem deixa a A24, levantava-se, recortada em luzes, a SÉ DE VISEU. Era o começo. Todas casas comerciais e de restauração, lojas e lojinhas, largos, praças, ruas e ruelas da cidade ostentavam reluzentemente as cores natalícias e de novo ano que se avizinhava. Ele era os arcos de lâmpadas aqui e ali, árvores enleadas de luzinhas de todas as cores, tronco acima, pernadas adiante, uma marca brilhante, luminosa do tempo e das gentes.
Parei no Rossio. E para onde quer que me virasse, àquela hora, a bem dizer via mais luzes do que gente. Mas muita gente havia. Viseu estava visivelmente em festa. Fiz foto e vídeo.
Dou costas ao ROSSIO e sigo na direção da Rua Direita, Rua Formosa adiante. Ao meio desta, a toda extensão da rua, estendia-se um tapete vermelho, ou laranja, não sei bem! mas aposto na última cor. À minha esquerda salienta-se, destacado, alto e iluminado o arco da entrada para o MERCADO DOIS DE MAIO. Lá dentro e cá fora, na rua, o bulício próprio da época que passa.
Um bocadinho antes desse arco, tão brilhantemente iluminado, eis em “denunciada escuridão”, o escritor, o MESTRE, AQUILINO RIBEIRO, sentado à sua “banca de trabalho”. A luminosidade que chega à escultura de bronze, ali posta em homenagem ao escritor e à sua obra, não permite à minha câmara de filmar captar a sua imagem por forma a ser visível no vídeo. Que pena! Mas eu não passo adiante. Essa imagem tem de ir comigo assim mesmo, quase apagada, tal qual ali está, nesta noite de muitas luzes espalhadas pela cidade. Aquele espaço merecia mais destaque, mais iluminação. Um momento adequado a dar visibilidade ao nosso maior escritor da região e ele mergulhado, ali na penumbra. Um dos nossos maiores, aquele que mais luzes espalhou sobre a região através das letras, obscurece-se neste cantinho, neste espelho de por+menores. E estranho é que os aquilinianos viseenses, sobretudo os que têm divulgado a sua obra, em livros e palestras (honra lhes seja) se tenham silenciado face a este “apagão”.
Parei, deixei de filmar e optei por tirar fotos com flash. Podia lá ser. Tantas luzes e luzinhas por ali fora, por ruas e ruelas, largos e praças, e o MESTRE ali, assim, sem ao menos, o raio de uma laparina por perto? Mesmo assim, vi pessoas pararem junto dele, rodearem a secretária, deixarem-se fotografar e, depois de custosa indagação na penumbra, descobrirem a identificação da personagem e exclamarem: é o AQUILINO RIBEIRO.
Enfim: “fiat lux”.
Fiz o mesmo com os dois netos que comigo estavam: a Mafalda e o Guilherme. Disse-lhes quem era aquela figura ali sentada com livros à sua frente. E em minha casa, no dia seguinte, fiz questão de fotografá-los, na biblioteca, com duas das suas obras. Estes meus netinhos poderão nunca vir a lê-lo, mas nos álbuns fotográficos da família fica a prova de que os levei a conhecê-lo.
Nem podia deixar de ser.