Deixei essas referências no meu livro «Castro Daire, Imprensa Local, 1890-1960», editado pela Câmara Municipal, em 2014, aquando do restauro dos prelos (de chão e de mesa) que hoje enriquecem o Museu Municipal, mas que tão esquecidos têm estado por parte dos responsáveis concelhios pela divulgação da nossa CULTURA, nomeadamente de tão valiosas e significativas peças históricas. O livro que, a propósito fiz «pro bono» com o título acima referido, e que me deu muito trabalho, como é bom de ver, jaz algures oculto dos olhos do público. Quem entende isso? De que servem os «agradecimentos burocráticos» pelo tabalho que fiz e depois autor e obra serem «proscritos» e subtraídos ao conhecimento do público? As eleições de 01 de outubro p.p. puseram nas cadeiras do Município pessoas diferentes, vamos ver qual o procedimento e a bitola de valores que o novo Executivo vai adoptar. Por mim mantenho, desde há muito, que «quem cultiva o básico, nunca atinge o excelente». E que não é preciso ir à missa ou ser sacrista para perseguir valores cívicos, morais e éticos em prol da sociedade.
Voltando ao Padre António Silva digo que ele se mantém nas funções de «diretor» do jornal até 1909, já que no número 493, de 7 de março desse ano, outros nomes passam a figurar no cabeçalho do periódico, dito, «semanário imparcial, agrícola, bibliogaphico, literário e noticioso» com «redação, administração, composição e impressão na Tipographia de «Voz do Paiva» na rua «Nova da Boa Vista - Castro Daire». (ob. cit. pp. 19-20).
Empenhado na causa pública, em 1908 o seu nome aparece integrado na lista dos membros efetivos nomeados para a Comissão Administrativa que tinha a responsabilidade de gerir os negócios políticos concelhios, até «ser eleita a nova vereação».
Temos assim que, para além do múnus sacerdotal, o Padre António Silva se dedicava à política. E nesse ano as coisas andavam acesas por estas bandas com os políticos locais divididos em republicanos, progressistas e regeneradores. Na lista de 15 elementos cujos nomes foram publicitados nesse jornal, como candidatos à eleição, em 1908, apesar de nela estarem integrados 5 clérigos o nome do Padre António Silva está ausente. Era a lista progressista. O nome dele aparece sim, mas na lista dos regeneradores.
Feito o sufrágio ganhou a lista dos regeneradores e o Padre António Silva, ainda na condição de diretor do jornal, foi empossado como vice-presidente da Câmara. E o jornal sublinhava, certamente com a alegria da vitória: «a lista progressista-nacionalista sofre uma derrota formidável». (cf. «Implantação da República em Castro Daire-I» pp 38, da minha autoria).
Chegada a República mudaram-se as pedras do xadrez político concelhio e, ainda que os monárquicos tenham dado mostras de vitalidade através do jornal «A União» que substituíra ideologicamente o periódico anterior, que tinha por «diretor» o Padre António Silva, outros clérigos, agarrados à pena, combatem o Novo Regime nas páginas desse jornal que tinha pela frente «O Castrense» afeto às hostes republicanas e também com Amadeu Rebelo de Oliveira Figueiredo na primeira linha.
Em 1915 os monárquicos e simpatizantes da Monarquia, reuniram-se algures na vila e fundaram o Centro Monárquico, com estatutos e tudo. A ata da reunião foi assinada por 104 pessoas, entre as quais 17 eram clérigos. Um deles era o Padre António Silva. Mas derrotada que foi a MONARQUIA DO NORTE de Paiva Couceiro, em 1919, os monárquicos e seus acólitos só viriam a retomar fôlego com o 28 de Maio de 1926. Após esse golpe, os republicanos são afastados do poder autárquico e são os monárquicos chefiados pelo Dr. João Simões de Oliveira que tomam assento nas cadeiras dos Paços do Concelho, de onde «saíam bem ou mal...determinações» para o concelho, como nos diz Carlos Mendonça, numa das suas quadras na digressão que faz pelas ruas e prédios da vila. Assim:
A seguir vinham quatro repartições:
Finanças, Câmara e o velho Tribunal,
Administração, donde saíam bem ou mal
Para o concelho e comarca, determinações.
E este castrense, Carlos Mendonça, um dos ex-proprietários do Solar Brasonado, onde funciona hoje o «Centro de Interpretação do Montemuro e Paiva» deixar-nos-ia algumas informações mais, ligadas ao Padre António Silva e ao Padre Germano.
Assim:
Falarei agora dos castrenses "padres"
António Silva e pachorrento Germano
Ambos portadores pecado humano
Pois necessitaram de arranjar "compadres"
E caminhando Estrada Real abaixo, hoje (2017) transformada na mítica E.N. N2, falando de propriedades, pessoas e profissões, escreve:
Havia um quelho, isto não é peta
Que levava à casa com quinta, das Eiras,
Onde aprenderam muitas costureiras
Com a mestra Umbelina Fogueta
Junto a ele e estrada, as padeiras,
Irmãs, uma tia, outra foi a madre
Do António Silva, o famoso padre
Inteligente, deixou as criadas herdeiras.
Irónico, Carlos Mendonça deixa em quadras o retrato físico e psicológico de Castro Daire e das «gentes da terra».
Eu completo a sua narrativa dizendo que o nome do Padre António Silva aparece na LISTA DE SÓCIOS da Associação dos Amigos da Escola, no RELATÓRIO DE CONTAS correspondente ao Ano Escolar de 1945-1946, que chegava ao destinatário pelo Correio, como se vê na foto anexa ao lado..
E bem assim no «Relatório e Contas da Gerência de 1949» do «Grémio da Lavoura de Castro Daire» de 1950, integrando a Direção que era formada pelos seguintes elementos:
Pio Cerdeira d'Oliveira Figueiredo,
José Maria de Silveira Lacerda Pinto
Padre António Silva.
Que mais não fosse, todas estas referências ao seu nome e ação política e social fizeram com que ele tomasse lugar nesta minha série de crónicas com o título «GENTE DA TERRA».
E como a História é uma lição de vida, mal ficaria não deixar aqui um documento onde ele revela as dívidas que tinha e a preocupação de elas serem pagas pelas suas «creadas», caso ele morresse sem as ter saldado. Compare-se essa preocupação com o diálogo que presenciei há dias numa loja comercial: «olhe, quando puder... agradecia...». «Ah, ainda bem que lembrou...já nem me lembrava disso». «Pois». «E veja que por tão pouco não ia atirar com o meu nome à lama». «Pois...pois...» «Então quando puder...» «Sim...sim... um destes dias venho cá e pago tudo».