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domingo, 09 outubro 2016 10:00

CASTRO DAIRE - GENTE DA TERRA, VIII

Escrito por 

BANDA FILARMÓNICA

Em 2005, no meu livro «CASTRO DAIRE, OS NOSSOS BOMBEIROS, A NOSSA MÚSICA» deixei a «HISTÓRIA da BANDA DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS» nas suas raízes designada por "ORQUESTRA",  «BANDA FILARMÓNICA» e «FILARMÓNICA CASTRENSE». Desse livro são as 4 fotos que ilustram esta crónica, com destaque para a de 1957, a preto e branco, pelas razões que mais adiante se entenderão.

 

1-BandaEm 2016, quem havia de dizê-lo? recebi a poesia dactilografada de CARLOS EMÍDIO MENDONÇA OLIVA, na qual ele diz, o que eu bem gostaria de ter dito (assim o soubesse, como ele sabia) acerca dos músicos que a compunham. Essa ou outra anterior de que se desconhece fotografia. Como historiador rendo-me ao poeta. Eu cumpri o dever de deixar, em livro, a história de uma instituição que vinha de longe. Ele, conhecendo pessoalmente alguns dos elementos que, ao seu tempo, compunham a banda e os instrumentos que cada um tocava, deixou-nos uma espécie de retrato, à la minuta, de cada um deles, retratos que muito folgo em aqui reproduzir, tanto em homenagem ao autor, como à Banda e aos músicos que ele nomeou. É o que eu costumo designar "história com gente dentre". Oram tenham a paciência de ver e a sensibilidade de ouvir:

 

 

 

A vida castrense seria platónica,

Se não tivesse tido Amadeu Rebelo,

Que deve ainda servir de modelo,

Pois foi a alma e o corpo da Filarmónica!2-Banda

(...)

Já falei da Filarmónica Castrense,

Vou ver se ainda posso memorizar,

O grupo bom, excelente, singular,

Que a mesma tinha, como pertence.

 

Começo pelo "Bombo" que tocava o "Rolo"

Tinha o José Rodrigues nos "pratos"

Na "Caixa" o "Choina", de bons tratos

E na "outra" carne assada, nada tolo!

 

Pertenciam à mesma: Seixas e Maquinista,

Duas pessoas assaz bem imponentes.

Nos "contrabaixos" eram frentes,

Dando à Banda uma excelente vista.

 

3-Bada

Tinha o bom Custódio na "requinta"

No "saxofone, Mário Jorge, seu mano,

Tocando o instrumento "soprano",

No "saxofone contralto", Abílio, boa pinta.

 

Havia a turma que tocava "clarinetes"

Em que de todos era, e foi o primeiro, 

O tranquilo José Maria, "canequeiro"

Seguido do Júlio, sem cacoetes...

.

 

 

 

Lembro ainda no «cornetim», o Samuel,

Tendo como segundo o Aarão Neto,

Tocavam muito bem e com bom aspeto,

Doces no "solo" como favo de mel.

 

Jamais no "trombone" houve um herói

Tão consumado na ária do "rigoleto-tosca",

Tocando-as fazia cair até uma mosca,

Era um portento o impagável Eloi.

 

4-BandaMagueija, um dia queria fazer compras:

E o velho Ernesto foi perseguido...

Porém, apesar de tudo, não foi vendido,

E continuou como chefe das "trompas".

 

António Alexandre com o velho "saxofone"

Aspirante de honrosa lisongeira,

Dando alegria ao Dr. Carlos Cerdeira

Que julgava e bem, a Banda no "Cone".

 

Eram dela tantos músicos geniais,

Que nomeá-los a todos individualmente

É tarefa pesada e bem ingente,

Aqui deixo meus respeitos para os demais.

 

Mendonça- RedzAmadeu Rebelo, Pinto Ribeiro, Vasconcelos,

Já fazendo parte da santa eternidade,

A eles rendo preito de saudade,

A todos os outros, unidos nos mesmo elos.

Eu ainda conheci alguns dos músicos nomeados. E não vou repetir aqui o que já escrevi sobre Amadeu Rebelo de Oliveira Figueiredo, nos livros dos Bombeiros, da Implantação da República e na História da Imprensa Local. Um cidadão que, pelas suas iniciativas culturais e políticas,  devia servir de modelo a muita gente, como bem recomenda,  com fidalguia de nobreza, Carlos Mendonça. Com o currículo público e histórico que já lhe tracei, currículo que agora, sem esperar, aqui vejo reforçado em poesia, Amadeu Rebelo nem o nome de uma rua tem na vila de Castro Daire. Deve-se isso, seguramente à ingratidão e a incultura dos homens que têm gerido a "res publica" local. Aqueles que não ligam à história do concelho e menosprezam os CASTRENSES  (com letra maiúscula) que fizeram algo mais do que estimular o folclore e o "jogo  da sueca". E, se não é a ingratidão ou a incultura, então é pior ainda: é a mediocridade que não tolera a excelência e o não reconhecimento do MÉRITO em favor do clientelismo, do  compadrio e das amizades. A DECÊNCIA exige DOCÊNCIA  e nem todos podem ser apontados como modelo, tal como foi Amadeu Rebelo.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.