Corri para o consultório do Dr. Jorge Ferreira Pinto. Vindo donde vinha, só podia ser obra que falasse de CASTRO DAIRE e sobre esta nossa terra, creio que também eu tenho falado bastante. Pois era mesmo. Mais umas centenas de QUADRAS com o título «REMINISCÊNCIAS DO MEU AMADO CASTRO DAIRE».
Li com sofreguidão todo o texto. Todo ele exala autenticidade e saudade de uma pessoa que, por força do destino, teve de ir governar vida longe daqui, mas que, daqui se não esqueceu. A grandeza e a sensibilidade humanas que destes versos exalam, comovem-me e brotam assim livremente, tão livremente, como a água que jorra da FONTE DOS PEIXES, onde, com frequência, vou matar a sede. Começa ele assim:
Peço ao bom Deus me conceda virtude,
De em prosa rimada, poder esboçar,
O que possa minha mente recordar
Da minha tão longínqua juventude.
Rebuscando dentro dela os arcanos,
Posso, creio, em pálidas pinceladas,
Contar algumas coisas passadas
Desde os meus quatro ao dezanove anos.
E soma e segue. Primeira informação. Carlos Mendonça repesca memórias de Castro Daire, desde os QUATRO AOS DEZANOVE ANOS. Levou-me com ele numa visita guiada pela antiga vila de Castro Daire. Suas ruas, casas, costumes e gentes. A sua memória, acicatada pela saudade, é uma película fotográfica. Leio e vejo ainda «cantos e recantos» que ele transportou para letra redonda. Que mais não fosse, só por isso, aqui lhe expresso a minha admiração. Trouxe até mim um pouco de HISTÓRIA, assim, de mão beijada, sem eu ter de andar a vasculhar arquivos e aspirar o pó de documentos e papeis velhos.
Na última crónica, baseado na primeira dose de versos que lhe conheci, reportei-me ao CRUZEIRO que existia no Cimo de Vila e dali foi levado para o BAIRRO DO CASTELO com o pomposo, mas errado nome de PELOURINHO. Mal contava eu que, nesta sua visita guiada pelas ruas de CASTRO DAIRE ali me reconduzisse novamente. E desta vez para, mesmo sem nome, se identificar mais claramente de forma humilde e fidalga. Assim:
No farol de luz da escola: ensinamento
Continua ininterrupto, bailando na retina
A lembrança de todos: da Isaltina...
A quem, pelos outros, veio meu pensamento.
Embarga-me natural, singular emoção,
Foi com D. Adelaide e mana Palmira
Que minha inteligência teve a Pira
Recebendo delas a primeira instrução.
Saudades, ternas recordações aquelas...
Volvemos, retornando bem ligeiro,
Vou sentar-me junto ao velho cruzeiro
No pequeno largo entre duas capelas.
Uma situada quase junto à esquina,
Dá-me uma sensibilizante recordação,
Da festa do seu orago, São Sebastião,
E da sua tradicional "Rebatina".
Em frente, lágrimas, amargura tapa,
Minha vista, onde forças descrevê-la?
Era do meu Solar a singular Estrela,
Outra Virgem Nossa Senhora da Lapa.