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sábado, 08 outubro 2016 15:28

CASTRO DAIRE - GENTE DA TERRA, VII

Escrito por 

O CRUZEIRO

«Trin...trim...trim...» é o telemóvel que toca. Atendo e tenho do outro lado a voz do Dr. Jorge Ferreira Pinto a comunicar-me que já tem mais "versalhada"  do autor anónimo, proveniente dos familiares de Lisboa. Autor  a cuja identificação eu cheguei através do verso em que ele se refere à doação do Jardim das Camélias, em Folgosa, por escritura pública. Lembra-se, amigo leitor? É ele CARLOS EMÍDIO DE MENDONÇA OLIVA.

 1- Dr. Jorge - REDCorri para o consultório do Dr. Jorge Ferreira Pinto. Vindo donde vinha, só podia ser obra que falasse de CASTRO DAIRE e sobre esta nossa terra, creio que também eu tenho falado bastante. Pois era mesmo. Mais umas centenas de  QUADRAS com o título «REMINISCÊNCIAS DO MEU AMADO CASTRO DAIRE». 

Li com sofreguidão todo o texto. Todo ele exala autenticidade e saudade de uma pessoa que, por força do destino, teve de ir governar vida longe daqui, mas que, daqui se não esqueceu. A grandeza e a sensibilidade humanas que destes versos exalam, comovem-me e brotam assim livremente, tão livremente, como a água que jorra da FONTE DOS PEIXES, onde, com frequência, vou matar a sede. Começa ele assim:

    Peço ao bom Deus me conceda virtude,

De em prosa rimada, poder esboçar,

O que possa minha mente recordar

                                                     Da minha tão longínqua juventude.

 

Rebuscando dentro dela os arcanos,

Posso, creio, em pálidas pinceladas,

Contar algumas coisas passadas

Desde os meus quatro ao dezanove anos.

CruzeiroE soma e segue. Primeira informação. Carlos Mendonça repesca memórias de  Castro Daire, desde os QUATRO AOS DEZANOVE ANOS.  Levou-me com ele numa visita guiada pela antiga vila de Castro Daire. Suas ruas, casas, costumes e gentes. A sua memória, acicatada pela saudade, é uma película fotográfica. Leio e vejo ainda «cantos e recantos»  que ele transportou para letra redonda. Que mais não fosse, só por isso, aqui lhe expresso a minha admiração. Trouxe até mim um pouco de HISTÓRIA, assim, de mão beijada, sem eu ter de andar a vasculhar arquivos e aspirar o pó de documentos e papeis velhos.

Na última crónica, baseado na primeira dose de versos que lhe conheci,  reportei-me ao CRUZEIRO que existia no Cimo de Vila e dali foi levado para o BAIRRO DO CASTELO com o pomposo, mas errado nome de PELOURINHO. Mal contava eu que, nesta sua visita guiada pelas ruas de CASTRO DAIRE ali me reconduzisse novamente. E desta vez para, mesmo sem nome, se identificar mais claramente de forma humilde e fidalga. Assim:

1- Cruzeiro - RedNo farol de luz da escola: ensinamento

Continua ininterrupto, bailando na retina

A lembrança de todos: da Isaltina...

A quem, pelos outros, veio meu pensamento.

 

Embarga-me natural, singular emoção,

Foi com D. Adelaide e mana Palmira

Que minha inteligência teve a Pira

Recebendo delas a primeira instrução.

 

Saudades, ternas recordações aquelas...

Volvemos, retornando bem ligeiro,

Vou sentar-me junto ao velho cruzeiro

No pequeno largo entre duas capelas.

 

Uma situada quase junto à esquina,

Dá-me uma sensibilizante recordação,

Da festa do seu orago, São Sebastião,

Mendonça- RedzE da sua tradicional "Rebatina".

 

Em frente, lágrimas, amargura tapa,

Minha vista, onde forças descrevê-la?

Era do meu Solar a singular Estrela,

Outra Virgem Nossa Senhora da Lapa.

 

Não pretendo do Solar dizer algo...

Nem do quintal que fica bem à frente.

Não quero falar também de minha gente

Não quero proclamar que sou Fidalgo.

Pois não. Não quis ele, mas quis eu, da serra plebeu, que não tive o prazer de conhecer CARLOS EMÍDIOS MENDONÇA OLIVA. E, por isso mesmo, sendo ele quem foi e sendo eu quem sou, aqui estou a prestar a minha homenagem à sua memória e obra, digamos que a minha vassalagem, nestas minhas croniquetas com o título CASTRO DAIRE  e subtítulo GENTE DA TERRA. Toda esta "versalhada", assim como que descuidada da vida, a mim chegada por mão amiga, tem para mim o valor dos pergaminhos que deram corpo e alma ao BRASÃO que, sobre o portão de entrada, identifica o SOLAR DOS MENDONÇAS. Ali, onde atualmente tem sede o «CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DO MONTEMURO E PAIVA». Ali junto daquelas duas capelas tão bem identificadas. Nem uma forografia saída das mais modernas e sofisticadas câmaras,  ao serviço da HISTÓRIA e da CULTURA. E interpelo-me: «que conteúdos serão interpretados naquele solar

(continua)

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.