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quinta, 29 setembro 2016 14:44

TRÂNSITO EM CASTRO DAIRE - II

Escrito por 

1 - ESTACIONANDO

 Prometi voltar a esta página com uma «crónica devidamente ilustrada com fotografias» e, com ela,  dar por finda esta ROMAGEM A COMPOSTELA, começada no p.p. mês de maio epenosamente prolongada até este final de outubro. Parafraseando Aquilino Ribeiro, direi que, «esgotado o bornal e esvaziada a cabacinha, vergado sobre o bordão» prometi e cumpri, tal como fez  o senhor Vereador do Pelouro do Trânsito do Município de Castro Daire, Leonel Marques Ferreira, face ao problema que lhe coloquei sobre a falta de um espaço na vila de Castro Daire para estacionamento de motociclos.   

Com efeito, no seguimento do e-mail que me remeteu em 11-08-2016, a dar-me conhecimento de que «em reunião ordinária» desse dia o Executivo Municipal tinha deliberado criar um espaço destinado ao estacionamento para motociclos, ele, no dia 16/08/2016 17:47, remeteu-me novo e-mail informando-me da localização do espaço que foi escolhido pela  sua  «centralidade e fácil acesso». Assim:

1- Trilhos- Red

«O espaço reservado para o estacionamento de ciclomotores, motociclos e velocípedes é o que se encontra situado entre o lancil longitudinal - demarcador do estacionamento dos táxis -  e o passeio da Av.ª dos B.V. (...) O local irá ser devidamente demarcado com sinalização adequada e no mesmo serão plantadas (na altura própria) árvores, de forma a proporcionarem sombra».

Na sequência foi publicado um EDITAL no «expositor» fixo à entrada do Jardim Público, assinado pelo Exmo. Senhor Presidente da Câmara,  Fernando Carneiro,  dando público conhecimento dessa «deliberação». O edital foi ilustrado com a fotografia aérea indicadora do espaço designado, a mesma que acima se reproduz, com a devida vénia. Para cabal esclarecimento digo que esse espaço fica a deslado das «QUATRO ESQUINAS», mesmo ao lado da «Praça de Táxis». Disponibilizado e devidamente sinalizado, bem pode dizer-se que este Vereador do Trânsito «meteu uma lança em África». Há quanto tempo se fazia sentir a necessidade disso? Não se fala mais em tal. Este caso está resolvido.   

Paguei os  €60 euros a que fui obrigado, sem andar a gritar  «ó da guarda», de rua em rua, de café em café, de tasca em tasca. Não fiz uso do pregão difuso que ecoa no ar e não se sabe a origem, filho de gente sem nome nem rosto. O meu registo, o meu linguajar público é outro. Por formação e  imperativo ético, dou rosto e nome a tudo o que penso, que digo e escrevo. Tratei do assunto como e onde entendi que devia ser tratado, que foi junto do Exmo. Comandante Geral da GNR e Exmo. Senhor Vereador do Pelouro do Trânsito.  O meu procedimento culminou num benefício público que só pecou por tardio, o que não abona nada a favor dos anteriores responsáveis, políticos e militares,  pelo trânsito na vila. 

Mas, vistos os factos, as circunstâncias e o desenlace que tiveram, obrigado sou a evocar duas lições de vida, dadas pelo meu pai (falecido há anos) Salvador de Carvalho, um homem de poucas letras, mas de muita sabedoria: 

a)  «Há males que vêm por bem».

b)  «Afasta-te das paredes velhas e das autoridades novas».

 Eu já não sou novo. Já conto 77 anos. Sou portador da carta de condução desde os 18 anos etirando algumas «aselhices» de pouca monta, não averbo no meu currículo qualquer acidente causado por mim, nem, tão pouco, qualquer contravenção rodoviária. Isto até ver "borrada a minha folha de serviço», aquela que, sem descurar o interesse comum, procurei, aqui mesmo e por este processo,  LIMPAR  junto do público, em geral, e das entidades envolvidas,  em particular, sem recurso a retórica, nem a advogados, nem  à ANSR. Apenas sustentado em argumentos autênticos respaldados em fotografias bastantes a provarem as minhas razões.

De resto, todos aqueles que foram meus alunos são a prova viva de que lhe incuti  PELO EXEMPLO, aula a aula,  o comportamento cívico da liberdade, da responsabilidade e dos correlativos direitos. O cumprimento dos deveres e obrigações, segundo os códigos de conduta aceites na comunidade de que eram parte integrante. Alguns deles são hoje figuras públicas nacionais e outros, não tendo atingido esse estatuto,  creio que, com patentes várias (ou mesmo sem elas) servem  honrosamente a GNR, PSP P.J. E soubera eu que, no futuro,  eles seguiriam essa profissão, ter-lhes-ia repetido o que disse, em 1972 na Esquadra da P.S.P. do Alto Maé, em Lourenço Marques, na situação de professor responsável pelas disciplinas de Português e de História, aos CHEFES DE ESQUADRA que frequentavam, então,  o curso para acesso a COMISSÁRIOS. Promovidos que fossem, dizia-lhes eu, tivessem sempre em conta que a CHAPA 5 a luzir no bivaque de uma farda, não lustra, mas deslustra a formação/ação do elemento fardado que se deseja preparado para um bom  desempenho na rua e sua relação com o público. E que, numa INSTITUIÇÃO HIERARQUIZADA,  a velha máxima latina escrita em forma negativa, consentânea com o pensar e com o agir na época da República Romana: «de minimis non curat praetor», por força da roda do tempo e do bem servir e bem julgar as populações hodiernas, teria de assumir, nos gabinetes e fora deles, a forma afirmativa: "de minimis curat praetor". Todos  esses "alunos"  foram promovidos. Um deles, de seu nome,  NORBERTO MARQUES SARAIVA, como lhe escrevi em carta registada com aviso de receção que tornei pública, neste meu site (que se mantém online)  não soube honrar a profissão e o posto que assumiu. Infelizmente, todos os rebanhos têm a sua ovelha tresmalhada.

 Professor aposentado, continuo a ver no erro um ato pedagógico. No caso presente, cabe a cada interveniente (individual ou institucional) reconhecer e assumir os que praticou. 

2 - ESPAÇO ESCOLHIDO

2-Trilhos Italianos -RedzComo já referi mais acima, acompanhei a iniciativa e a decisão do Executivo Municipal. Fotografei a colocação do primeiro sinal de trânsito vertical a sinalizar o espaço escolhido, tal qual mostra a foto ao lado. Nesse mesmo dia estacionaram na praça de táxis, tal qual se vê, seis motards italianos. Conversei com um deles. Estavam de passagem e pararam para tomar café. Eles são a prova provada da boa opção tomada pelo Executivo Municipal. A foto é como o algodão: "não engana". Qual antiga  "Feira das Vacas", qual antiga  "Feira dos Porcos", qual cochinchina, qual quê?  Aos críticos que tais sugestões fizeram, como é costume, por esquinas, passeios e cafés, contra tudo e todos, eu contraponho, ironicamente, a "Feira da Ouvida". Se fosse lá, os motards italianos, franceses, portugueses e outros deslocavam-se a pé até à vila, o que era muito bom para o colesterol. Tais opinadores, muito sapientes,  socorriam-se dos mais obtusos e esdrúxulos argumentos: os motards têm boa perna, podem andar a pé, porquê ali, no centro da vila, o parque, , nas barbas dos taxistas?  E os PARQUÍMETROS (parcómetros) não se põem?  Que inteligentes e viajados eles são, digo eu. Em que parte do mundo viram eles tais equipamentos para MOTAS? Originais. Muito originais e superdotados, esses críticos. Ideias tão luminosas, tão brilhantes, essas e outras capazes de atraírem e darem movimento à vila, deviam ser premiadas. GALARDOADAS. Tal qual outras que já foram postas em prática e que estão à vista de toda a gente.

3 - O ESPAÇO E A SUA FUNÇÃO

3 - trilhos-RedzPosto o que, se felicito o atual vereador do trânsito, Leonel Marques Ferreira e todo o Executivo Municipal  pela iniciativa, que foi  a criação de um espaço de estacionamentopara «ciclomotores, motociclos e velocípedes (...)  situado entre o lancil longitudinal - demarcador do estacionamento dos táxis -  e o passeio da Av.ª dos B.V. (...)» vê- se agora, pelo trapezoide (à falta de melhor designação geométrica)  desenhado no chão que assim não é. Vá lá saber-se as razões disso e que decisões, não tornadas públicas,  foram tomadas posteriormente. Mesmo assim, eu preferia ver esse espaço destinado ao estacionamento de carreiras de passageiros, por forma a ver retornado à vila o movimento turístico tão necessário à animação do comércio local. Mas sobre isso tem a palavra a Associação Comercial e Industrial do Concelho, com este ou com outro nome mais pomposo com que tenha sido rebatizada. 

Assim como assim, houve o bom gosto na escolha das árvores que ali plantaram destinadas a fazerem sombra. Duas cerejeiras, árvores com um valor real e simbólico em muitas civilizações. Da cerejeira saiam os primeiros frutos que ofereciam ao deus da fertilidade Príapo, na antiga Grécia e Roma. E, em Fareja (Castro Daire) enfeita-se a ponta do Pinheiro de São João com cerejas lá colocadas pelas mordomas. E no Japão, país de onde são originárias várias e conhecidas marcas de MOTAS que rodam na Europa, elas são a «imagem da prosperidade e da felicidade da existência terrestre». E «felicidade da existência terrena»  muito bem mostram  os motards, nas concentrações anuais que fazerm em Faro e noutras cidades. Folgança e boa companhia. Ora, pois!

Tudo para dizer que se acompanho o senhor Vereador do Trânsito, LEONEL MARQUES FERREIRA e os demais membros do Executivo Municipal no empenho que puseram  na criação deste espaço e das árvores escolhidas para ali fazerem sombra,  o mesmo não digo no que respeita ao desenho do projeto e sua execução, no terreno. Parece que os nossos engenheiros e arquitetos municipais se dão mal com a MÉTRICA e com ESCALA. 

4 - Trilhos-RedzO espaço sinalizado, mais estreito num dos lados, nem sequer permite que, entre os traços, seja estacionada uma mota no sentido que deve ser: de traseiras para a estrada, que é por onde as motas entram.  E o que fazem ali aqueles BANCOS? É para EMBARAÇAREM o estacionamento das motas, ou é para PROTEGÊ-LAS de algum automobilista mais descuidado que passe na estrada? Da parte que me toca, muito OBRIGADO. Quem zela pelo meu património, meu amigo é.

Enfim. Qualquer mestre de obras experimentado não precisa de ler LE  CORBUSIER  para conjugar eficazmente o "espaço e a função". Nem precisa de um estirador onde se presume haver régua e esquadro. Ora, aquela figura, apesar de nos seus extremos haver dois "sinais de trânsito" verticais a informarem que se trata de espaço para estacionamento de MOTOCICLOS, não está conforme o que geralmente se vê nos espaços destinados ao mesmo fim. E nem vou dar-me ao trabalho de dizer «como devia ser», pois os técnicos que estão nos gabinetes municipais (a quem os munícipes pagam, eu incluído) bem deviam sabê-lo.   

Seja como for, esta obra pública, tal como está,  é bem o espelho, o DIPLOMA que nenhuma Universidade se prezará de ter carimbado. Nós por cá, já sabemos quem temos, mas os MOTARDS estrangeiros que por cá passarem, conhecedores de espaços semelhantes destinados ao estacionamento de motas, noutras vilas e cidades do mundo, levarão de Castro Daire um  POSTAL ILUSTRADO daquilo que somos, daquilo que pensamos e daquilo que fazemos. Mas eu me desvinculo de tal «obra-prima».

E  não se pense que foi necessário eu ser multado (terdesembolsado   €60, em maio de 2016)  para que, como cidadão de pleno direito, desse provas do meu incómodo e desconforto  com o caos  rodoviário  vivido no burgo castrense, ao longo do tempo. Os meus arquivos fotográficos e fílmicos (uns privados e outros publicados) são testemunho das minhas «vilãs» preocupações, sem necessidade de andar por aí a gritar «ó da guarda». É só ver os dois vídeos alojados no Yuotube, em 2011 e 2012, através dos links que transcrevo, para facilidade de consulta. Mais palavras e mais imagens para quê? 

a) Castro Daire, Nós por Cá, 1 https://youtu.be/TNqgGHVq6tY

b) Castro Daire, Nós Por Cá. 2 https://youtu.be/vItWTWSy0IQ

«Quod erat demonstrandum!»

Quite!

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.