CASTRO DAIRE
No meu livro «Julgamento», editado no ano 2000, aludo a uma árvore hibrida de cedro/carvalho que existiu ao lado da capela do Calvário, na Cerca das Carrancas. Assim:
«Tratava-se de um cedro centenário e possante que um vendaval partira ao meio, havia muito tempo. De cerne ao léu, as intempéries foram-no comendo por dentro, fazendo-lhe uma lorca no interior a partir do topo. Dentro dele aninhou-se casualmente uma bolota transportada quiçá por gaio ou melro que, de papo cheio, ali desprezaram. A natureza, encarregando-se de fazer o resto, apresentava, agora, o híbrido produto do seu trabalho: um cedro enxertado de carvalho, motivo de curiosidade para muitos, aproveitamento para conversas sem importância para outros, ou mesmo sermões na festa da Senhora da Soledade, sobretudo se o sermão tivesse sido encomendado a um certo pregador que o capelão conhecia e ouviu algumas vezes». (pp- 108)
Ora, sendo eu professor em Castro Verde (Alentejo) nas viagens que, em Agosto, fazia a Castro Daire (Beira Alta) ainda vi e admirei essa estranha enxertia. Nessa altura, nem sempre se andava com a máquina fotográfica a tiracolo e muito menos se trazia no bolso um telemóvel com câmara fotográfica incorporada. Não a fotografei e perdi a ocasião de ter nos meus arquivos um exemplar único da espécie, pois numa segunda visita constatei que ela tinha ido a baixo por força da urbanização que foi feita na Quinta das Carrancas. Não houve sensibilidade para preservar essa espécie única, um «hibrido» que resultou, eventualmente, da forma como eu descrevi nO livro acima referido.
Ao fazer registo escrito dessa memória, estava eu, porém, longe de saber que, mão amiga me faria chegar uma foto dos anos 30, onde essa árvore é bem visível, tal como é bem notória a diferença das partes que a constituem. Basta atentar nos ramos da copa. É a foto que hoje tenho o prazer de «partilhar» com os meus amigos, bem como esta explicação. Para melhor observação coloquei-a dentro de uma oval encarnada. É só examinar.