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domingo, 29 novembro 2015 19:40

MANUEL AMORIM-NOTÍCIAS DE CASTRO DAIRE-A VOZ DE FAIFA

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COM NOME E ROSTO

Não. Não é Manuel Amorim o autor desta crónica. A "Voz de Faifa" há muito que se calou devido a perda de vista do seu autor, a residir em Lisboa.

Nunca, convém lembrar isso, mas nunca mesmo, o nome do concelho de Castro Daire e das terras e gentes do Montemuro chegaram tão longe, todos os quinze dias, através da pena e do empenho de Manuel Amorim.

Ele que, sendo natural de Arcos de Vale de Vez, casou com uma senhora de Faifa e fez daquela aldeia e deste concelho as suas terras adoptivas.

Amorim vídeo-RedTive o privilégio de ser seu amigo e de ele ser meu amigo também. Comigo desabafou a INGRATIDÃO de não lhe reconhecerem, em vida, todo o labor que ele fez em prol de Faifa e do concelho, através da escrita e das associações que fundou com um genuíno sentido regionalista. A alma e o carinho com que ele falava das gentes serranas. Só ouvindo-o. O empenho que ele punha na colaboração assídua no "Notícias de Castro Daire", só vendo.

Já na situação de "invisual" (cego) ainda tive ocasião de o visitar em Faifa, na sua moradia, onde vinha passar uns dias no verão.

Numa dessas vezes fiz-lhe uma entrevista em vídeo que alojei no Youtube. Falou para a câmara de filmar ele, uma cunhada sua e o marido dela. Falou da primeira vez que veio a Faifa, a sua primeira impressão, falou da amizade e respeito que tinha por António Argentino, diretor adjunto do jornal.

Era uma entrevista merecida e eu fiz o que pude em vida dele,  mesmo que ele já não pudesse ver-se e somente ouvir-se, ouvir a sua vozAmorim-1 - Redz posta no mundo digital, ao alcance de um clic. Que diferença! Ele a escrever à mão ou à máquina os artigos em papel que de Lisboa tinha de enviar pelo correio para o jornal. Despesas suas (quantas?) só pelo gosto de dar notícias, produzir informação, divulgar usos e costumes regionais.  Ele assim procedeu em vida. Eu o pus no mundo antes dele deixar este mundo cão.
Morreu. Pessoa amiga, cumprindo o recado dos seus familiares, deu-me conta do dia do enterro, no cemitério de Faifa, ali na terra que, sendo da sua querida esposa, ele fez também sua. Amor com amor se paga.
O último número do "Notícias de Castro Daire" traz a notícia. Uma notícia bem escrita e resumida da sua biografia. O jornal e os seus responsáveis fizeram bem em dar-lhe aquele destaque. Ele mereceu-o, sem favor.

Da minha parte, apresentando, desta forma, os sentimentos à família, resta-me remetê-los, a eles familiares e aos demais amigos, para o vídeo alojado no Youtube. Basta escrever "Faifa Amorim". Ele, na altura da entrevista,  já não tinha vista, mas ainda tinha língua. E disse algumas verdades dignas de serem ouvidas. Disse o que lhe ia na alma. Aquela alma que eu, não sendo crente, espero que DESCANSE EM PAZ.

Abílio Pereira de Carvalho

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.