Trilhos Serranos

Está em... Início Crónicas PRISÃO versus LIBERDADE
sábado, 17 outubro 2015 08:18

PRISÃO versus LIBERDADE

Escrito por 

 

PRISÃO versus LIBERDADE (1)


Assim mesmo, no cumprimento de uma sentença ditada por um juiz, ele aí vai a cainho da prisão, protestando a sua inocência. Preso que foi começa a saga infernal da luta pela LIBERDADE, sair daquele reduzido espaço de paredes sujas e marcadas pelos prisioneiros que o antecederam na cela. Incomunicável, vai digerindo as refeições e magicando a melhor forma de recuperar um bem perdido: A LIBERDADE.

 Não era rico, não tinha fortuna digna de inveja. Não levava sequer uma vida de fidalgo, pois fidalgo não era. Era homem do mar e manejava toscamente uma espada. A sua sua fortuna era seu o mérito e uma bonita noiva cobiçada por um dos elementos do complô que se quiseram ver live dele. Vivem-se tempos políticos conturbados. Acusam-no se ser portador de uma carta "rogatória" cujo conteúdo prejudicava a nação. Não sabia das artes fidalgas, intriga, hipocrisia, traições, apanágio de todos os fidalgos, fidalgotes e outros figurões que, por paços e salões, igrejas e capelinhas,  disputavam cargos, títulos, damas e senhorinhas. Como defender-se, pois, contra tais inimigos poderosos, políticos e religiosos, que o meteram na prisão unicamente para se verem livres dele? Magicando, magicando, não tendo do seu lado os homens da JUSTIÇA, opinião pública voltada contra si, em coro com os juízes e carcereiros, agarrou-se à força da INOCÊNCIA e resistiu a todas as contrariedades. E, estando nisso, eis que, para espanto seu, o solo da cela se rompe, o chão se rasga e, no buraco, qual toupeira que lavra o solo em busca de algo, lhe aparece, um outro prisioneiro, também injustamente condenado. Velho, cabelos desgrenhados, barba hirsuta, marcas físicas deixadas pela idade que era muita, os seus olhos não tinham perdido o brilho da LIBERDADE. Já eram quatro olhos. E à força e ignorância da juventude juntou-se a debilidade, experiência e sabedoria de velhice. Muitos dos dias da sua vida de jovem tinha-os passado a estudar e a frequentar os salões de reis, príncipes, condes e abadias.Frente a frente ambos combinam a melhor maneira de fugirem daquele inferno. Mas a ignorância do jovem, que nada sabia do mundo, nem sequer manejar uma espada, dificultava o plano de fuga. E velho  já sem forças para saltar muros e fossas, ensinou pacientemente aquele jovem o modo como libertar-se e, uma vez fora dos muros, ir gozar "à grande e à francesa" os prazeres do tesouro que um tal Cardeal Spada (sugestivo nome) escondido algures numa ilha. Disse-lhe onde. E o jovem, ávido de saber tudo, apreendeu rapidamente as artes e as ciências que o velho lhe ensinou: a esgrima, a química, as línguas e a história em geral. Preparado, viu morrer-lhe no colo o MESTRE. Era o destino. Sozinho deu o salto, fugiu da prisão e com a ajuda de piratas e corsários descobriu tesouro onde o velho lhe dissera estar escondido. Tornou-se milionário, comprou propriedades, assumiu o título de CONDE (bem podia ser MARQUÊS) fez-se rodear de uma corte de criados e jurou vingar-se daqueles que INJUSTAMENTE o meteram no Castelo de If. Sim. É isso, estou a discorrer sobre a obra de Alexandre Dumas e da sua personagem principal, Edmond Dantès que, fora de muros, virou CONDE DO MONTE CRISTO.Falta só dizer que o velho sábio que lhe ensinou o caminho da liberdade era um preso político, nem mais nem menos, do que o ABADE FARIA.PRISÃO versus LIBERDADE (2)Da parte da manhã, já lá vão SEIS horas, postei nesta página (Facebook) um texto com o título em epígrafe. Falei de um cidadão que foi enclausurado a mando de um juiz, não obstante ele bradar pela sua inocência. Um dia o chão da sua cela rasgou-se e do buraco saíu outro prisioneiro que lhe ensinou não só como libertar-se, mas também ter acesso a um tesouro escondido algures numa ilha. Era o ABADE FARIA.Bruxo. Posso abrir consultório. Terei garantidamente clientela pelas provas dadas. A porta 33 da rua ABADE FARIA acabou de abrir-se e José Sócrates está em liberdade. Só falta dizer-nos onde está o TESOURO. Ah! E também se vai trocar o título de MARQUÊS pelo título do CORREIO DA MANHÃ e como vai vingar-se daqueles que o abocanharam na perna e o meteram na prisão. Se eu tivesse a veia de Alexandre Dumas não me faltaria matéria para enredo. Com tal teia não faltaria gente a entrar e a sair da cadeia.

Cf. meu mural Facebook de 16-10-2015








Ler 1096 vezes
Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.