Trilhos Serranos

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sexta, 18 setembro 2015 14:33

A INVASÃO 4

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Invadido pelo sentimento de REPUGNÂNCIA que me deixam algumas palavras e atitudes que se vão espreitando nas redes sociais (e não só) contra o acolhimento dos REFUGIADOS (palavras e atitudes, mais ou menos primárias, mais ou menos esclarecidas, mais ou menos cínicas, mais ou menos pacíficas, mais ou menos inflamadas e guerreiras) nomeadamente as daqueles que, brandindo a bandeira do MEDO, veem neste DRAMA HUMANO, pura e simplesmente, o retorno à Europa dos Mouros (tal foi a tirada daquele PATRIOTA que me desafiou a dar guarida a um casal desses, trazendo à colação a heroica ação dos CRUZADOS, seguramente sem ter lido os meus textos sobre a GLOBALIZAÇÃO, as nossas andanças por terras do Índico e Pacífico, num movimento migratório em sentido inverso daquele que presenciamos atualmente, também ele não isento grandezas e misérias, de humanidade e desumanidade), apraz-me recuar alguns séculos e, antes de prosseguir na nossa saga da EXPANSÃO DE QUINHENTOS, colocar nesta página algumas pinceladas históricas ligadas à RECONQUISTA CRISTÃ, na sequência daquele excerto da "História de Portugal" de Oliveira Martins, sobre aqueles soldados que, de espada na mão e de cruz ao peito, ajudaram Afonso Henriques a conquistar Lisboa, cidade tornada TERRA SANTA depois se satisfeitos os apetites dos conquistadores, cidade donde partiriam, mais tarde, as caravelas e as naus para darmos "novos mundos ao mundo".


E não vou ter o atrevimento de dizer, por palavras minhas, o que disse o insigne HISTORIADOR Oliveira Martins com palavras suas. Reporta-se ao começo da RECONQUISTA, nas Astúrias, com Pelágio à frente das hostes cristãs. PELÁGIO que, devido aos feitos heroicos por ele praticados e/ou a ele atribuídos, tornaria o seu NOME muito querido e admirado na Ibéria. E entre nós, tão querido e desejado foi que quase não houve pia batismal dos templos cristãos, onde não fosse lembrado por abades, priores e curas, a pedido de pais e padrinhos das crianças, ufanos de prolongarem na sua descendência o NOME do herói das Astúrias. Tão desejado e querido, quão esquecido e indesejado é atualmente.

Não é assim? Então digam-me quantos parentes e amigos conhecem hoje com o nome PELÁGIO? Eu vos direi, desde já, que, em 1258, nas terras que hoje integram o concelho de Castro Daire, não havia lugarejo, por mais escondido que fosse nas pregas da serra, onde não houvesse um cidadão com o nome PELÁGIO. Era o tempo de D. Afonso III, exatamente o rei que reconquistou definitivamente o Algarve aos mouros, em 1249.
Fiz uma pesquisa sobre o assunto, muito antes de se falar nas vagas de REFUGIADOS que hoje INVADEM a Europa. Sempre procurei conhecer e compreender as grandes migrações humanas, conquistas, reconquistas e suas consequências e implicações na economia e na cultura. Publiquei o resultado no meu velho site e transpu-lo recentemente para o novo.  Hei de repô-lo aqui também. Mas, por agora, vamos ler Oliveira Martins na sua "A História da Civilização Ibérica": um tijolo do meu edifício mental; uma janela que dá luz à minha opinião:

Pelágio - Cópia

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.