HERÁLDICA BOVINA E EQUINA
As minhas últimas crónica e vídeos tiveram por objeto os enfeites “heráldicos” aplicados nas correias das vacas com presença assinalável na Serra do Montemuro e arredores.
PRIMEIRA PARTE
Nesse trabalho de investigação pus em evidência as ESTRELAS, o SOL e as CRUZES que, em relevo, estas, no acto da fundição, incluídas eram nas campainhas fundeiras das correias das vacas e gado miúdo, por forma a que o Demo e as suas malfeitorias andassem por longe das rezes do rebanho e manada.

Associei o que legitimamente era associável, ainda que, muitos dos meus informantes me dissessem que sim, senhor, mas que nunca tinha pensado nisso. Era por “ser bonito” e melhor localizarem o gado «perdido ou escondido» entre matos, em tempo de calor e picada dos tavões, a grande e incomodativa mosca que por estas bandas da serra chamam “távaros”, nome não dicionarizado.
E felizes e contentes se ficavam com as explicações dadas sobre os ENFEITES visuais do gado que tinham e do timbre identificador daquilo que consideravam seu, projetando naquele metal sonoro, polido e reluzente. O “ego” de cada um deles, de cada família - pai, mãe e filhos - vaidosos das suas identidades, das suas posses, seus teres, haveres e sensibilidade estética e religiosa, ficava-se por ali.

E acrescentei que não podendo o camponês colocar uma gargantilha de pedras preciosas, ou colar de pérolas no pescoço da esposa, da amante ou da namorada, tão ao jeito das tribos castrejas de tempos longínquos, sublimava esse desejo, enfeitando o seu gado e, assim, mostrar, com afeto, brio e honra, o que o distinguia dos demais cidadãos da comunidade camponesa. Ou então, herdeiro que era de “usos, costumes e tradições”, sem sabê-lo, ele exibia uma herança remota e ignota, qual brasão da família possidente, terratenente, ex-senhorio de terras aforadas por “três vidas” lavradas em cartório de tabelião. As mesmas terras que, no desenrolar da HISTÓRIA, substituídas que foram, por novos CÓDIGOS e as caducas “ORDENACÕES” reais, passaram, por compra em hasta pública, ou remissão dos foros, aos enfiteutas que se tornaram proprietários das terras que trabalhadas foram pelos seus avoengos. O resto eram burocracias esquecidas, remetidos para os arquivos nacionais ou distritais, só conhecidos dos historiadores.
SEGUNDA PARTE

Publicados os textos e os vídeos, o tema veio a conversa entre amigos e seguidores, assunto que “acordou” alguns deles para observarem com mais atenção os objetos que manipularam a vida inteira sem os ligar à HERÁLDICA animal. Podia lá ser? A HERÁLDICA era coisa de NOBREZA, dos BASÕES postos nas fachadas dos seus solares e estranho era que figurassem nos enfeites do gado serrano.
Mas quem semeia colhe. E um amigo meu, Delfim Silva, natural e residente na aldeia da Moita, poeta popular, criativo e possuidor, no seu domicílio, de um recheio etnográfico admirável, frequentador de feiras de “velharias e de antiguidades”, deparou-se, em Lamego, com uma GUIZEIRA que ornamentou as cavalgaduras do CONDE DE VIVALVA, José Maria Eugénio da Almeida, título nobiliárquico concedido por D. Carlos I, por Decreto de 9 de Janeiro de 1902.


Na presença de tal objeto, atenção e olhos fixos nele, fez-lhe lembrar, imediatamente, os meus trabalhos e conversas sobre a HERÁLDICA ANIMAL, e apressou-se a tirar uma foto que me remeteu, via MESSENGER.
Agradecido e congratulado pelo gesto de colaboração dada nesta minha atitude de adquirir e divulgar conhecimento, aqui deixo o lado ornamentada dessa GUIZEIRA, sublinhando que a COROA REAL presente, atesta o facto do proprietário ser um “PAR DO REINO”.