É o que vemos, mais abaixo, na primeira coluna da esquerda, reservando a segunda para outra obra sua que, surpreendentemente para mim, ele me dedicou no seu TERCEIRO livro, todos os títulos “A VERDADE DA POESIA” (I,II,III).
A edição é de 1995, v.g. uma dúzia de anos depois de eu ter abalado daquela vila alentejana e regressado ao meu concelho de origem.
Este poeta falecido em 2014, não me lembro de lhe ter agradecido por escrito, em vida, a gentileza de ele ter volvido a sua atenção, sensibilidade e olhar para os meus trabalhos de investigação e defesa do património histórico e cultural como ele tão bem o diz em verso.
Este poeta falecido em 2014, não me lembro de lhe ter agradecido por escrito, em vida sua, a gentileza que ele teve de volver a sua atenção, sensibilidade e olhar para os meus trabalhos de investigação e defesa do património histórico e cultural, como ele tão bem o diz em verso.
Não me lembro, digo bem, de lhe ter agradecido, pela mesma forma, em letra redonda pública, mas, agradeci-lhe, pessoalmente, em 2009, quando visitei aquela vila para participar num coloquio sobre a “FONTE DE MILAGRE” tratada no meu livro “HISTÓRIA DE UMA CONFRARIA», que muito trabalho deu às “Justiças da Terra” (Executivo Municipal), ao Priorado de Santiago e a todas as instâncias judiciais no tempo, até D. João V, junto do qual funcionavam os Tribunais do Desembargo do Paço e Desembargo da Consciência.
E disse-lhe que a DÉCIMA que me tinha dedicado, estando eu ausente daquela vila, havia tanto tempo, sem esperar de mim, seguramente, algo em “troca”, figurava no meu “curriculum vitae” profissional (online) ao lado das OPINIÕES de ACADÉMICOS e POLÍTICOS de projeção pública e institucional, como sejam o Dr. Francisco Cristóvão Ricardo (meu ex-professor de LITERATURA, entretanto falecido), o Dr. Manuel da Costa Pinto (clérigo, entretanto falecido) o Doutor Amadeu Carvalho Homem (Professor da Universidade de Coimbra, que presumo e desejo de boa saúde), Dr. Fernando Amaral (advogado, ex-presidente da Assembleia da República, entretanto falecido), Dr. João Duarte de Oliveira (advogado, ex-Presidente da Câmara e da Assembleia Municipal de Castro Daire, entretanto falecido), Professora, Drª Maria da Conceição Campos (investigadora, ensaísta e escritora, entretanto falecida), Dr. Arménio de Vasconcelos (advogado, museólogo, poeta, entretanto falecido), Dr. Manuel de Lima Bastos (advogado, escritor aquiliniano, com quem troco correspondência de vez em quando), entre tantos outros pessoas que, generosamente, me prendaram com os seus pareceres públicos e me incentivaram a prosseguir a saga iniciada nos difíceis trilhos do pensar e do agir, em benefício do saber e do conhecimento humanos.
E ainda que todos merecessem, humanamente, que os seus ROSTOS figurassem neste meu APONTAMENTO, optei por deixar, exclusivamente, o daquele cidadão que, entre licenciados, engenheiros e doutores, em verso popular tão bem delineou o retrato das minhas vontades, postura cívica e relacionamento que mantive com todos aqueles que me transmitiam os saberes que escapavam às minhas leituras académicas.
Um cidadão simples, habilitado com a 4ª classe da Escola Primária, sem galardões académicos, poeta sem ser “fingidor”, possuía outros galardões de CIDADANIA, outras credenciais cívicas, recebidas, em cerimónia oficial, no “DEPÓSITO DE PRESOS DE CAXIAS”, em 1947 e 1949. E se atentarmos na CALIGRAFIA patente no seu nome registado no cabeçalho do diploma que, então, lhe foi conferido, e bem assim na fotografia das três posições (frente, esquerdo e direito) não nos é difícil aquilatar da “pompa e circunstância” que rodearam as suas chegadas e a saliva dos AGENTES POLICIAIS, face à “reincidência” do “agraciado”, um jovem lobo ibérico de dentes arreganhados, acoitado nas recônditas charnecas do distrito de Beja, concelho de Castro Verde. Território propício para a reprodução da “espécie” era mais fácil caçar um lobo solitário do que fazer montaria a uma alcateia inteira.
São documentos bem guardados na Biblioteca Nacional da Torre do Tombo (online) difícil mercadoria para os vendilhões na FEIRA DA LADRA, ou outras feiras de província, onde já vi CRUZES DE CRISTO e TORRES DE ESPADA, a par de MEDALHAS alusivas a escritores de renome. O ano passado adquiri, na FEIRA MEDIEVAL DE MÕES, a MEDALHA com a efigie de Trindade Coelho, no anverso e no reverso a sua BIOGRAFIA resumida.
Que mais não seja, para descargo da minha consciência, os humildes versos de Francisco Augusto Galrito, face à tabela de valores que uso na calibragem das relações humanos, não ficaram fora dos pratos da balança da justiça, a par de outras pessoas amigas, sem distinção de LETRAS e TRETAS.
Assim sendo, à laia de última vontade minha, uma espécie de “item” testamentário, aqui deixo a todos (a maior parte deles já falecidos, como vimos) a minha GRATIDÃO pelas palavras amigas e pelos juízos de valor que, livremente, expenderam sobre a minha pessoa e obra. Sei que estas minhas palavras tresandam a léguas o meu estado de alma. Elas não precisam explicação. Nem os meus amigos precisam que eu faça um desenho.
Dixit.
MOTEDesta máquina do mundoQuem será o maquinistaOnde começa o movimentoNão alcança a nossa vistaIEste mundo onde vivemosÉ deveras complicadoHá tantos anos estudadoNunca mais o entendemos.Poucas luzes dele temosO saber não é profundoNão se sabe ainda tudoE, nem ao mesmos os sábiosNos mostram os astrolábiosDesta máquina do mundo.IIEsta imensa engrenagemOnde nós estamos metidosMove-se em rodos os sentidosComo grande carruagem.Com muita ou sem bagagemPor cá anda o artistaCom macaquinhos na cristaA ver se consegue descobrirQuem nos está a conduzirQuem será o maquinista?IIIQuem seria o arquitetoDesta obra colossalOnde a vida é realOnde tudo tem aspeto?Não está tudo descobertoE eu tenho no pensamentoO real pressentimentoD’onde isto poderá vir,Mas nao chego a discernirOnde começa o movimento.IVVem a noite e vem o diaVem a chuva e o ventoTudo tem acolhimentoSob o Sol da alegria.Será tudo fantasia?Mas muita gente acreditaQue isto é obra benditaMas não tem disso a certezaE a sua profundezaNão alcança a nossa vista.Francisco Augusto Galrito, Castro Verde, glosando o MOTE sobre a“Mánica do mundo” de que já falei antes. |
MOTE«O zeloso Doutor AbílioPode abalar descansadoQuando a Castro regressarVerá o moinho restaurado»I«Sendo um homem de culturaAnda sempre no respigoProcurando o qu'é antigoMuitas vezes na leitura.Doutras formas ele procuraPedindo a outros auxílioPara lá no seu domicílioEstudar nosso patrimónioPorque é homem idóneoO zeloso doutor Abílio».II«Ele em Castro se interessavaPor tantas coisas antigasNão se poupando a fadigasQuando na vila morava.Pró Largo da Feira olhavaFicando muito desoladoAo ver o moinho degradadoMas alguém lhe disse então:Está breve a restauraçãoPode abalar descansado».III«E o Doutor muito animadoAbalou para sua terraFicando assim à esperaDo que ficou acordado.E lá foi entusiasmadoCom o que fez despertarE no moinho sempre a falarQuando saiu deste povoNa esperança de o ver novoQuando a Castro regressar».IV«E abalou com saudadeDesta vila alentejanaLá para terra transmontanaOnde passou a mocidade.E lá nessa localidadeEstará sempre lembradoDo que lhe foi afirmadoDe maneira tranquilaQuando voltar a esta vilaVerá o moinho restaurado».Francisco Augusto Galrito (in «A Verdade da Poesia» (Vol. III), Castro Verde, 1995, ed. do autor) |
Com efeito, em 2009 retornei aquela vila e tive o gosto de ver o moinho de vento restaurado e requalificado todo o espaço da grande FEIRA DO CRASTO, a feira de outubro, restauro e requalificação pelas qual me bati na ASSEMBLEIA MUNICIPAL (como membro eleito nas listas do Partido Socialista) e no «DIÁRIO DO ALENTEJO» de que fui assíduo colaborador.
No “Campaniço” n 96, de 2014 (Boletim Informativo da Câmara Municipal de Castro Verde) a D. Ana (de Castro Verde) dedica 5 quadras à MORTE, deste meu amigo. Transcrevo a primeira:
Morreu Francisco Galrito
Homem muito inteligente
Que rimava muito bem
Para agrado da nossa gente.
E a Câmara Municipal de Castro Verde, fez uma edição póstuma de alguns dos seus trabalhos com o título “PROSA E POESIA” com a seguinte referência:
“Francisco Augusto Galrito foi um dos poetas mais marcantes da poesia popular do concelho de Castro Verde. Editado após a sua morte, este livro reúne prosa e poesia. São décimas sobre diversos temas, textos de prosa subordinados ao título “Em Procura de Pão e Trabalho” e Contos. Uma escrita sobre a condição social e as vivências de outros tempos”.
Posto o que imaginem os meus amigos, tendo ele sido tão objetivo e rigoroso no traço que deixou sobre o meu “perfil cívico» captado na passagem por Castro Verde, quão rigoroso e incomodativo não seria ele na flor da idade, a proclamar a “VERDADE DA POESIA” vivida naqueles tempos em Portugal inteiro. Daí o MÉRITO que lhe foi reconhecido no «DEPÓSITO DE PRESOS EM CAXIAS», como vimos mais acima. Gostei de ser seu amigo e de o ter por amigo.