Trilhos Serranos

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quarta, 02 outubro 2013 14:25

AUTÁRQUICAS 2013

Escrito por 

 MÕES

1 - O meu currículo público reza que fui militante do Partido Socialista em Castro Verde e em Castro Daire. Que fui membro das comissões políticas concelhias locais, até me retirar voluntariamente do aparelho partidário, por razões que tornei públicas na imprensa local. Saído assim do aparelho, nem por isso deixei de sofrer com as derrotas do meu partido e de me alegrar com as vitórias dele, ao nível local, ou nacional. E os quilómetros de escrita dispersos pela imprensa confirmam esse ideário político assumido por convicção, assente nos valores doutrinários preconizados, onde cabem a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, a Seriedade e a Ética Republicana. Mostram que, abdicando eu de possuir um cartão com o símbolo do punho fechado, plastificado ou não, não me descartei, por não ser descartável, desse ideário que, com raízes alma transpira à flor da pele ao longo dos anos

 Política-Redz-12 - Diferentemente das eleições autárquicas passadas, neste ano de 2013, visando dar o meu contributo à eleição daqueles que, em meu juízo, seriam os melhores candidatos, «postei» vários comentários de opinião na minha página do Facebook e na página do «PS Castro Daire», do «PS Mamouros/Alva/Ribolhos», parecendo-me que fui bem sucedido nas opções tomadas, pois vi eleitos os candidatos por quem torci, assim, ampla e publicamente. Nos que votei e nos que não votei. Contados os votos, verificada a vitória do Partido Socialista,  eu podia sentir-me feliz, cantar hossanas e cumprir o ritual dos parabéns, dos beijinhos, dos abraços e apertos de mãos, palmadinhas nas costas, etc. etc.. Não. Não fiz isso. O meu tempo de colar cartazes, de acenar com bandeirinhas, de distribuir canetas e quejandos, passou. Militante no activo fiz tudo isso, mas sempre repeli as vénias e bajulações daqueles que mais não sabem e mais não fazem do que isso neste Democracia que se instalou em Portugal.

3 - E por este contentamento de vitória expresso no Facebook me ficaria, neste meu rescaldo das eleições, de 2013, se não houvesse algo mais que contribuiu para que o «ego» deste humilde cidadão, retirado das lides políticas, inchasse até mais não. Coisa inesperada. Nunca vista. Coisa que eu, aos 74 anos de idade, jamais imaginaria que acontecesse, após 40 anos de DEMOCRACIA, próprias do tempo dos caíques e atitudes conexas. O caso foi que, ao meu regozijo e alegria da vitória socialista, juntou-se, de repente, um folheto de propaganda política, onde a minha fotografia e um texto a mim atribuído foram impressos a cores, ao lado de figuras gradas da politica local e nacional, nomeadamente, o deputado à Assembleia da República, Dr. Acácio Pinto, o ex-deputado Dr. Miguel Ginestal (professor de quem fui orientador pedagógico), o Engenheiro Saúl Ferreira, ex-vereador do Executivo Municipal, dois colegas meus professores, Dr. Gonçalo Ginestal, Dr. Sebastião Pereira, e o senhor Carlos Rocha, ex-presidente da Junta da Freguesia de Mões, todos a subscreverem «MENSAGENS DE APOIO» ao candidato a presidente daquela Junta de Freguesia, pelo PARTIDO SOCIALISTA. Candidato que ganhou, por larga margem de votos, aos seus opositores do PSD e do CDS. 

Tudo conjugado, pois, para eu viver uma semana de felicidade pessoal. Só que, nestas coisas da política, como em tudo, não «há bela sem senão». Há que haver seriedade. E este «SENÃO» não pode ficar sem protesto e denúncia pública. O candidato (cujo nome me recuso a escrever intencionalmente nesta crónica)  com quem falei, se tanto, duas ou três vezes na vida, sem comigo falar nem me contactar por qualquer meio para o efeito, usou o meu nome, a minha fotografia e um texto de opinião a seu favor, como se fora pensado e escrito por mim. É FALSO. E isso não se faz. O candidato, ao proceder assim, revelou a sua falta de carácter, de seriedade e de ética. E eu que exprimi a minha opinião pública, a favor de alguns candidatos na minha página pessoal do Facebook e na página colectiva do «PS Castro Daire» não disse uma letra sobre esse candidato, como facilmente o mundo facebookiano pode confirmar.

4 - Política-Redz-2Confrontado pessoalmente com tal descaramento, meteu os pés pelas mãos e caiu na asneira de dizer que eu lhe tinha remetido o texto por «mail», ignorando que na caixa do correio electrónico ficam registados, com dia e hora marcada, os endereços e as entradas e saídas da correspondência. Dizia ser um texto genérico, ao qual ele acrescentara o seu nome, dada a sua condição de candidato. Neguei-lhe, cara a cara, tudo isso, que o texto não era meu e que ele, sem permissão minha, vinculara a minha pessoa, usando o meu nome, a minha fotografia (até desactualizada no meu perfil público, nas redes sociais) e um texto de apoio à sua candidatura que eu nunca escrevi, nem escreveria. Sabendo-me amigo do pai, abusou da minha confiança, enganou o eleitorado de Mões, cometendo o acto imbecil de pensar que eu me calaria quando tal soubesse. De facto, chegado ao meu conhecimento, aqui estou a denunciá-lo e a lavrar o meu protesto. Pelas palavras impressas no folheto nas «MENSAGENS DE APOIO» dizendo-o «sério, honesto e trabalhador» responderá Miguel Ginestal, ex-deputado à Assembleia da República. Pelas palavras «é um homem generoso, que gosta de ajudar, que é solidário» responderá o actual deputado, Acácio Pinto. Pelas palavras «será, sem dúvida, um Presidente que dignificará a Freguesia de Mões», responderá o ex-presidente da Junta Carlos Rocha. Pela palavras «homem de princípios que defende até à exaustão, coerente com aquilo em que acredita, batendo-se pelos seus valores» responderá o meu colega Sebastião Pereira. Pelas palavras «pertence a uma geração de jovens inteligentes, dinâmicos, honestos e trabalhadores», responderá o Engenheiro Saúl Ferreira. Pelas palavras «sempre o considerei um grande socialista e democrata» responderá professor Gonçalo Ginestal. Pela totalidade do texto que me é atribuído, pelo abuso de confiança e falta de ética profissional e política e tudo o que vem ao arrepio dos louvores debitados pelos meus «colegas de bancada», respondo eu. É  TUDO FALSO.

5 – Provas da falsidade? Para além de ele não poder apresentar correspondência saída da minha caixa de correio para a sua, falsidades se demonstram no próprio folheto. O texto que me é atribuído, mal pontuado e erros gramaticais, remata as outras opiniões nele impressas e atribui-me a convicção de que o candidato iria «conseguir atingir os objectivos a que se propôs». Ora eu, tendo sido um professor que leccionou no tempo em que vigorava a PEDAGOGIA POR OBJECTIVOS, eu, que nesse quadro de educação, fui ORIENTADOR PEDAGÓGICO do professor Miguel Ginestal (a primeira figura de GABARITO impressa no folheto) eu, que ainda não esqueci isso, algum dia subscreveria um texto como remate de outro, onde não vejo impresso um OBJECTIVO de campanha? No folheto, de facto, para além das pseudo «MENSAGENS DE APOIO», mais não se lê do que o currículo do candidato. Para um professor, candidato a uma Junta de Freguesia,  é mau demais. Para um educador, a exercer profissão numa escola, que lição de cidadania e de ética transmite ele aos alunos, praticando publicamente aldrabices destas? Eu não tenho adjectivos para classificar um cidadão e um professor que assim procede. Mas, sabido isto, os eleitores que lhe deram o voto e os pais e os alunos dele que rebusquem no dicionário. Ali encontrarão  os mais adequados aos actos praticados. Em política, não vale tudo.

6 - Por mim, e para terminar, digo apenas que, tantos anos depois de eu ter abandonado o aparelho do PARTIDO SOCIALISTA, pelas razões então evocadas e publicadas, num quadro onde eu via pouco SOCIALISMO e muito OPORTUNISMO, não estou arrependido de o ter feito. E jamais esperei ver materializados e impressos a cores num folheto de campanha eleitoral autárquica, os comportamentos que sempre condenei. E para mim, face ao caso vertente, começa a ter sentido a paródia lexical que troca «socialistas» por «xuxalistas», graças a este«xuxalista» encartado e acolitado que ganhou a presidência da Junta da Freguesia de Mões, alegando publicamente o APOIO que nunca me solicitou, nem eu expressamente lho dei. Silenciar o caso, depois de ter o folheto nas mãos e lê-lo, era negar tudo o que eu disse aos eleitores da «União de Freguesias de Mamouros/Alva/Ribolhos», alertando-os para um voto esclarecido. Era ir contra o meu carácter, a minha personalidade, a ética que orienta minha postura cívica. «PARA ALÉM DA LIBERDADE, A DIGNIDADE», é título de um livro que anda perdido nas estantes da minha biblioteca. Um livro que esse professor candidato, nunca leu, nem vai ler. Não tem necessidade disso, pelos vistos. 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.