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sábado, 17 setembro 2022 14:47

GENTE DA TERRA - FALECEU O DR. JOÃO DUARTE DE OLIVEIRA

Escrito por 

GENTE DA TERRA

Faleceu, com 95 anos de idade,  o Dr. JOÃO DUARTE DE OLIVEIRA. Para além da advocacia que exerceu durante muitos anos, em Castro Daire, foi Deputado na Assembleia Nacional, e Presidente da Câmara Municipal de Castro Daire, antes do 25 de abril de 1974.

Dr. João

PRIMEIRA PARTE

Depois da REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, e passado que foi o fervor revolucionário, a nível nacional e local, desempenhou as funções de Presidente da Assembleia Municipal, nas listas do PSD durante alguns mandatos, no concelho onde, institucionalmente, o dia e esse evento histórico,  instituidor da DEMOCRACIA em Portugal e, consequentemente,  da eleição dos órgãos do PODER LOCAL, jamais foi comemorado.

Só muito recentemente, rompendo esse ensurdecedor silêncio, foi colocado um CHAIMITE em frente do INTERMARCHÊ, onde assume, a meu ver, o valor simbólico da QUEDA DO ANTIGO REGIME, na tomada do QUARTEL DO CARMO, pelas forças revolucionárias comandadas pelo capitão SALGUEIRO MAIA.

O Dr. João Duarte de Oliveira, foi um cidadão de muitos amigos, alguns adversários políticos, sociais e pessoais e, certamente, muitos bajuladores gratos pelas cunhas e favores que lhe deviam, tão características na CULTURA NACIONAL. E alguns, mal agradecidos, faziam por ignorar e até negam que subiram nas carreiras profissionais graças ao seu empenho de igual teor. 

Conjugando a vida profissional, política e cívica - GENTE DA TERRA - foi cofundador do jornal “Notícias de Castro Daire”, do qual me tornei colaborador anos seguidos. E, em abona da verdade se diga que,  nos quilómetros de escrita que deixei nas páginas desse jornal, ele, como Diretor, nunca retirou ou mandou ou retirar uma vírgula aos meus textos, que o mesmo é dizer, jamais aplicou na CASA que dirigia, a prática «VISADO PELA CENSURA» obrigatoriamente usada no REGIME que integrou e precedeu a DEMOCRACIA.

Militando nós os dois em partidos políticos diferentes e separados por ideologias e valores publicamente notórios, alguns dos quais inconciliáveis, sempre tivemos uma postura cívica, cordata, afável e conciliadora. Por isso, na hora do seu PASSAMENTO, eu, que não sou nada atreito a ELOGIOS FÚNEBRES, guiado pelos ditames da consciência, creio ser de inteira justiça e social e eticamente pedagógico, reproduzir aqui o texto que ele escreveu como NOTA PRÉVIA ao meu livro “CASTRO DAIRE, IGREJA MATRIZ”, editado, em 2013, pelo jornal de que era Diretor, (livro que fiz “pro bono”), onde ele revela ser um HOMEM INTELIGENTE, TOLERANTE E RESPEITADOR DO DIFERENTE. Assim:

 

 

SEGUNDA PARTE

«NOTA PRÉVIA

 

Como diretor do jornal «Notícias de Castro Daire» não podia ficar indiferente à sugestão feita pelo nosso colaborador, Dr. Abílio Pereira de Carvalho, no sentido de este órgão de comunicação editar um pequeno livro que incluísse algumas das suas crónicas publicadas anteriormente neste jornal, relacionadas com a Igreja matriz, somando outros textos inéditos de modo a proporcionar ao público, em, geral, e aos castrenses, em particular, mais uma páginas da nossa HISTÓRIA, resultante da sua investigação.

I.MatrizDa sugestão fazia pare ele organizar o texto e cedê-lo pronto a editar e ao jornal cabia assumir os custos da impressão. A troco do seu trabalho receberia alguns exemplares para oferta e os restantes ficariam para o jornal oferecer e vender. Pareceu-me justa a PARCERIA em benefício do público estudioso ou curioso de saber e o resultado aqui está: «Castro Daire, Igreja Matriz».

 Resumindo: fincámos a saber o enquadramento histórico e geográfico do templo, as vicissitudes da sua construção, a razão do frontispício ostentar um só torre, quando, em 1805, foi projetado para ter duas «torres gémeas». Ficámos a conhecer que esta igreja começou por ser um templo de evocação a S. Salvador e dó depois veio o S. Pedro como orago. Ficámos a saber a data do primeiro tratado comercial com a China e a chegada dos primeiros chineses a Castro Daire. Nós, levando até ao oriente os nossos produtos, a nossa cultura e as nossas crenças. Eles trazendo para o ocidente a sua cultura, as suas crenças e os seus produtos. E, nesse intercâmbio, a morte do padre Jesuíta Sebastião Vieira, natural de Castro Daire, martirizado no Japão, no século XVII.

 Enfim, um pequeno grande livro que fazia falta em Castro Daire, nos tempos que correm. Tempos em que tanto se fala de turismo cultural e religioso, da preservação do património construído, património material e imaterial, mas nós, por cá, conformados com tão pouco para mostrar e oferecer a quem nos visita.

 Como diretor do «Notícias de Castro Daire» sinto que acedendo à sugestão do Dr. Abílio, cumpri o meu dever de castrense e cabe-me deixar nesta NOTA PRÉVIA um BEM-HAJA ao autor por este seu trabalho e por todos os outros que ele tem publicado, investigando e dando a conhecer a HISTÓRIA LOCAL, ramo de saber em que, como natural do concelho, é, indiscutivelmente, o pioneiro.

 Este livro é mais uma obra da cultura e é também um emblema do autor que coloca a sua responsabilidade acima da sua utilidade.

Ele mostra ambição por ajudar a criar uma comunidade humana dotada de sentido. Como professor e historiador vê a educação como um tesouro que os que sabem, os mais velhos, deverão entregar às gerações mais novas.

 É um livro seu, sem proveito para si, que ajudará a compor a sua estátua literária. Ele é um homem livre, que não vende a sua sombra. É um não crente que faz uma parceria com um crente, exclusivamente pelo bem comum e pelo bem de todos.

 O Diretor do «Notícias de Castro Daire»

Dr. João Duarte de Oliveira

 

 

TERCEIRA PARTE

 

Dr. João-2

Falecido em Viseu, será sepultado no jazigo de família existente no cemitério de Castro Daire, pelas 17 horas de amanhã, dia 18 de setembro,  estando os serviços fúnebres de transporte e afins a cargo da Agência Funerária Amadeu Andrade e as exéquias a cargo do abade Carlos Caria.

Enfim. Neste ano de 2022, já vi partir alguns amigos e, desta vez, vejo calar-se, para sempre, um cidadão capaz de, em vida sua e voz própria, reconhecer , superiormente, o MÉRITO ALHEIO, atitude bem diferente daqueles que, incapazes disso, se ficam pela tabela do despeito, da indiferença e da mediocridade.

E, infelizmente,  vão sendo cada vez mais raros os «castrenses» que, numa simples «conversa de café  que seja» a elevam acima da banalidade, da coscuvilhice, do custo de vida, do preço da fruta e das couves tronchas. 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.