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sábado, 23 abril 2022 09:30

GENTE DA TERRA E FORA DELA

Escrito por 

ADRIANO CARDOSO MONTEIRO

Conheci o Padre ADRIANO CARDOSO MONTEIRO no ano letivo de 1983/84. Ele lecionava as disciplinas de PORTUGUÊS E LATIM na Escola Secundária de Castro Daire e eu, professor na Escola Preparatória João Rodrigues Cabrilho, na mesma vila, por falta de espaço nesse edifício, forçado era a dar aulas de PORTUGUÊS E HISTÓRIA nas salas vagas da Secundária, onde ele trabalhava.

Ambos professores, viemos à fala e a desenvolver uma sã camaradagem durante alguns anos, apesar de, conceptualmente, nos situamos em polos distintos no que respeita à CRIAÇÃO e FIM DO MUNDO.

livrosadrianoEm 1996 ele foi exercer o seu múnus na Paróquia de Penude, para onde foi nomeado. Deixámos de nos ver e conviver com a assiduidade costumeira em encontros ocasionais, onde nunca faltou assunto para conversa e boa disposição.

Os anos deixaram para trás os almoços no Restaurante Avenida e o paladar das palavras trocadas durante as refeições, às vezes com “picante” bastante para se tornarem mais saborosas. Cada um de nós tinha a sua trajetória de vida e cada um de nós exercia o melhor que sabia e podia a profissão que abraçámos. Respeitávamo-nos mutuamente, lúcidos e cientes de que excluída estava a “conversão” recíproca.

Os meus caminhos de investigação sobre a HISTÓRIA LOCAL conduziram-me à Sacristia da IGREJA MATRIZ, onde ele me disse ter sido recolhido e preservado o prelo “ALBION” e respetivos “TIPOS” oriundos da histórica “TIPOGRAFIA CASTRENSE”, que, propriedade do senhor RIÇA, tinha funcionado num edifício à desbanda da Igreja, espaço que veio a dar lugar à taverna “25 TOSTÕES”.

Foi lá que tive o meu primeiro contato com o PRELO e são as fotografias ali tiradas que ilustram, de começo, o meu livro “CASTRO DAIRE, IMPRENSA LOCAL, 1890-1960”, que, em 2017, escrevi “pro bono”, a pedido do então vereador do Pelouro da Cultura, Leonel Ferreira, cabendo somente os custos da impressão ao Município de Castro Daire.

albionE foi lá que tive também o primeiro contato com os manuscritos existentes no Arquivo Paroquial (creio que posteriormente deslocados para Lamego) que me foram franqueados, sem restrições, pelo Padre Adriano, onde recolhi dados que me vieram a ser muito úteis no que sobre a paróquia tenho escrito.

Na INTRODUÇÃO desse meu livro presto o reconhecimento aos Padres Adriano Cardoso Monteiro, Padre José Abrunhosa e Padre Carlos Caria, sacerdotes a quem se deveu a preservação, durante anos, da “RELÍQUIA” singular que, em 2014, por decisão do Executivo Municipal, veio a ser restaurada sob a minha orientação técnica. Restaurada, ela integra o recheio do MUSEU MUNICIPAL, como peça arqueológica que é da IMPRENSA, da INFORMAÇÃO, da HISTÓRIA e da CULTURA, mau grado a pouca ou nenhuma divulgação que os Vereadores do respetivo Pelouro têm feito dessa PEÇA SINGULAR (saída da Fundição de Massarelos, Porto, no ano de 1855) e do livro, devidamente ilustrado, que reporta a sua trajetória de vida.

Dito isto, foi com alguma surpresa minha que, pela mão do Padre Carlos Caria, recebi TRÊS livros da autoria do Padre ADRIANO CARDOSO MONTEIRO com o título “HOJE O SENHOR NOS FALA”, editados no mês de abril de 2022. Chegados a mim, a seu pedido.

No ponto “4” da INTRODUÇÃO diz-nos este clérigo:

As reflexões da presente coletânea foram homilia, ao longo dos três últimos anos, com uma liberdade verbal explicativa (catequética e vivencial) com ligeiras adaptações, às diferentes comunidades de Penude. Procurou-se centrar a reflexão nos textos proclamados, nos cânticos litúrgicos, nas orações (coleta, oblatas, pós-comunhão) e nas necessidades da comunidade, numa unidade de sentido. O ritmo é o litúrgico da celebração anual dos mistérios da fé cristã. Não podem esperar textos de esmerada escrita ou conteúdos demasiado profundos. Tem um objectivo essencialmente pastoral, orientados para a vida numa perspetica positiva de esperança. Serão essencialmente um convite à reflexão e oração aos Deus da fé que a comunidade celebra na ‘reunião’ semanal da eucaristia”.

Três livros. “ANO A”, ANO B” e ANO C”, assim classificados por força da arrumação das celebrações litúrgicas decorrentes do Vaticano II, cujas sequências trienais, segundo diz na INTRODUÇÃO, a cada letra se “associa a leitura de um dos três evangelistas sinóticos: A-Mateus; B-Marcos; C-Lucas (…)”.

O PADRE ADRIANO CARDOSO MONTEIRO é um homem fé, capaz de criar empatia com todo o ser humano que, de boa fé, com ele se relaciona, seguindo ou não a fé que ele professa e proclama através da palavra oral e/ou escrita.

REDENTORE, neste meu pensar e SER, bem posso trazer a capítulo a expressão que utilizei recentemente num vídeo que alojei no Youtube, onde falo das duas ALEGORIAS BÍBLICAS postas nos dois PAINEIS DE AZULEJO que existem (escondidos) atrás do cadeiral do CORO BAIXO na Capela-Mor da Igreja Matriz. São eles que dão corpo ao meu livro “AMOR DO REDENTOR” onde faço uma “DEDICATÓRIA POST MORTEM” ao Padre MANUEL AUGUSTO DA COSTA PINTO. Nesse vídeo, que é uma das minhas e várias CONVERSAS EM ANDAMENTO por carreiros e veredas no meio do pinhal, nos arredores da aldeia, que alojei naquele espaço, eu digo, reportando-me a esse clérigo, falecido em 2018:

E devo aqui dizer: aqueles que acreditam, como ele acreditava, na vida eterna, que Deus o tenha sentado à sua mão direita. É o desejo deste conterrâneo que, não sendo crente, foi bafejado com mão de Deus, para ter o Padre Costa Pinto por amigo e por companheiro nos trilhos de estudo”.

É só navegar no MUNDO ETÉREO da Internet, entrar no Youtube e na linha de pesquisa escrever “AMOR DO REDENTOR”. Chegados lá (ver vídeo cujo link se anexa em rodapé)  eis que, como por milagre, as ditas “ALEGORIAS BÍBLICAS” (a entrega das Chaves do Céu a Pedro, painel da esquerda, e Jesus a caminhar sobre as águas no Mar da Galileia, painel da direita) aparecem a deslizar à frente dos olhos de todos aqueles que acreditam na CIÊNCIA e aprenderam a manejar as velhas e NOVAS TECNOLOGIAS.

Mutatis mutandis”, agradecendo a lembrança, a gentileza, a simpatia e amizade com que me peita o PADRE ADRIANO, oferecendo-me algum fruto do seu labor pastoral e inteletual, eu, nestes meus 82 anos de vida, só posso desejar-lhe o mesmo que desejei para o seu colega e meu amigo Padre COSTA PINTO. Claro, quando, sem pressas, chegar a hora do seu “passamento”. Até lá faço votos que continue a ter muita saúde e a lembrar-se dos amigos que, embora não o acompanhando na leitura hermenêutica das SAGRADAS LETRAS, sempre respeitou e acarinhou.

Não agradou a todos? Claro. O povo diz que “Cristo era Cristo e não agradou a todos” por isso teve de suportar a “coroa de espinhos”.

E o Padre Adriano, na sua romagem de vida, pelas paróquias de S. Pedro de Castro Daire, de S. Pedro de Ester, de S. João de Pinheiro e S. Pedro de Penude, a conviver com as respetivas comunidades, aos 50 anos de sacerdócio, feitos neste ano de 2022, agradece ao Senhor por lhe “ter dado a graça de com elas ter caminhado no meio de muitas alegrias e na superação de alguns ‘espinhos’, mantendo viva a alegria da entrega-dádiva que, com os meus condiscípulos, o dia 8 de dezembro de 1972, dia da Imaculada Conceição, instaurou no meu viver”.

Este meu texto, escrito no tempo em que decorre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, este Armagedão aterrorizador que, desde fevereiro, nos entra diariamente pelas casas dentro, com refugiados e mortes de inocentes sem conta, arrasta consigo o ensejo de um mundo melhor e de PAZ, na perspetiva “positiva de esperança” para onde apontam as palavras que, no sentido pastoral, o Padre Adriano deixou na INTRODUÇÃO destes seus três livros.

E, deste modo, com a franqueza que me é própria (com gostos e contragostos) retribuo a oferta. Este texto é o testemunho vivo e transparente do que foi um relacionamento social e profissional sadio, de VERDADE, DE PEDAGOGIA, DE CULTURA E DE HUMANIDADE.

LINK DO VÍDEO

https://youtu.be/a0rVez1HHDg 

Abílio

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.