NATUREZA
Não tenho crenças, mas se tivesse e acreditasse na REENCARNAÇÃO teria, por certo, ser leão numa das vidas idas. Aceitaria o pensamento do pensador e historiador grego HERÓDOTO que, na ANTIGUIDADE, alegava que a REENCARNAÇÃO" se dava instantaneamente após a morte, passando a alma para uma criatura que estava nascendo (que poderia ser da terra, da água ou do ar), percorrendo todas as criaturas em um ciclo de três mil anos”. (Wikipedia). REENCARNAÇÃO? Ver Heródoto e Platão.
Gosto da natureza, da mata, da selva e sempre que posso pôr pé na relva, não piso alcatrão. Mas nem só por isso. Eu o digo aqui afoito, depois do coito - que satisfação! - o urro do leão ecoa pela savana, pela habitação, casebre ou choupana, onde quer que seja. E que o negue quem tal sentiu, ouviu ou veja.
Ademais, como todos os quadrúpedes animais, detesto moscardos e moscas que, teimosamente toscas, com o genes que cada uma delas herda, voam e poisam em todo o lado, até na merda.
Por isso simpatizo com os aracnídeos selvagens ou domésticos que, com engenho e arte, aqui, além, em toda a parte, tecem armadilhas para caçá-las e saboreá-las presas nas suas rendilhas. Disse-o em vídeo recente (há quem não gosta) numa das minhas «CONVERSAS EM ANDAMENTO», ao passar por um pinheiro (cf. Link em rodapé) em que a rezina faz prisioneiro todo o inseto que ali aporta.
Os aracnídeos domésticos, seres pequeninos, levam a minha simpatia, por isso mesmo, espertos, a esmo, caçam insetos, mas também por insistirem teimosamente no convívio humano, sempre acossados, embora, pela gente, à vassourada, hora após hora, dia após dia, ano após ano.
E certo é que, casa abandonada, em ruínas ou de pé, é imediatamente habitada e ornamentada com as teias feitas nelas, às vezes compridos lençóis brancos a cobrirem móveis e cantos, cortinados de portas e janelas. Tudo. E eu ainda não vi verso “canoro ou rudo” de poeta encartado que, nas suas redondilhas, cantasse o lado humano de tais seres - os aracnídeos - e suas armadilhas, grandes ou pequenas, seres que, para serem insetos, só lhe faltam as antenas.
Comparo-os às TRAÇAS DOS LIVROS, insetos que já povoavam o mundo antes de haver a escrita. E nesse seu viver, nessa sua dita, escolhido o manjar, toca a comer e a defecar o pensamento, a imaginação e arte dos autores, vazando as narrativas postas em letras, saídas da imprensa. E agindo como quem pensa, toca a substituí-las pela escrita cuneiforme, carateres de pé, deitados, conforme o itinerário seguido de alto-abaixo, ou de través.
E que pensarão, então, tais insetos analfabetos, sem os ouvirmos ou lê-los?, perguntamos:
- Resposta pronta: «para que servem os livros eternamente fechados, abandonados? Servem para comê-los e cagá-los».
E escritos há que mais não merecem. E sei lá se este mesmo é um deles. Mas ele, como tantos outros que escrevo a granel, bem ou mal, não comem elas, pois não está escrito em papel e elas não larvam, nem lavram na escrita digital.
Igualmente as suas irmãs, as TRAÇAS DE TRAPOS. Também elas insetos existentes no mundo antes de haver as primitivas tangas e os modernos fatos ARMANI. O seu habitat é o mundo dos farrapos. Estas, todas, não se deixam ir em modas e, sempre perto, à sorrelfa, têm repasto certo no vestuário não usado, esquecido, guardado em baú ou guarda-fatos fechado. Roupa sem uso nem rumo, tão abundante na sociedade de consumo, inchada e obesa de produtos desnecessários, tem na traça dos farrapos os indispensáveis aterros sanitários. Boa mesa.
Falo de seres pequeninos que, por inteligência, resiliência ou somente instinto, persistem teimosamente em viver na mata e nos nossos lares, apesar de insistentemente acossados à vassourada, inseticidas e mais armas químicas saídas da inteligência humana.
“Gente” pequena por quem ninguém levanta a voz, de quem ninguém fala, mas que, tal como nós, digo eu, tem direito à vida. É a natureza. Vivem e morrem, com certeza, mas na sua pequeneza, antes de morrerem, mexem, incomodam, ralam.
Dito isto (pouco ...e... tanto), enquanto piso estes chãos, digo que se eu tivesse alguma crença e devoto de algum santo, seria São Francisco, para quem todas as plantas e animais eram nossos irmãos.
Link: